Plano de Urbanização
Penhas da Saúde
de "cara lavada"
POR SÓNIA ALVES*
As queixas são antigas.
Quase tudo está mal: saneamento, arruamentos e oferta
turística. Os "pontos negros" são apontados
a dedo por residentes, comerciantes e visitantes das Penhas da
Saúde. A Câmara Municipal da Covilhã promete
"lavar a cara" àquela zona. O Plano de Urbanização
vai definir as regras.
As obras de saneamento, electricidade
e arruamentos
estão prometidas para breve
Casas com paredes de zinco e
desalinhadas, caminhos degradados e lixo amontoado. São
algumas imagens emblemáticas que fazem parte do cenário
de uma área protegida da Serra da Estrela: as Penhas da
Saúde. O local é paragem obrigatória para
quem visita a maior serra de Portugal Continental.
A beleza paisagística das Penhas é adulterada por
múltiplos factores. A falta de infra-estruturas no local
é um dos problemas que persiste desde há muito
tempo. A ausência de saneamento básico, arruamentos
e organização urbanística são alguns
dos "pontos fracos" que subsistem nas Penhas da Saúde.
Os moradores e comerciantes estão insatisfeitos e reclamam
melhores condições.
João Lindeza, proprietário de um restaurante e
de uma loja de artigos de desporto, afirma, revoltado, que está
a "trabalhar em condições degradantes".
O comerciante, que também reside nas Penhas da Saúde
há quatro anos, enumera o que considera serem as principais
carências do local: "Caminhos devidamente arranjados,
uma rede de esgotos, posto da GNR e Posto Médico".
Acusa ainda os anteriores mandatos camarários da Covilhã
e Junta de Freguesia de Cortes do Meio de nada fazerem. Contudo,
mostra-se confiante no novo Plano de Urbanização
que a autarquia serrana prepara neste momento.
Por sua vez, António Feliciano, 57 anos, assíduo
visitante do local, não acredita em "promessas"
e argumenta ser difícil avançar com a mudança:
"Desde criança que venho para a Serra e, desde essa
altura, está tudo igual. Nada vai mudar".
Cinco milhões para
obras
Há mais de 20 anos que a população das Penhas
da Saúde ouve falar no Plano de Urbanização
a aplicar naquela zona. Projectos há muito pensados, que
visam "lavar a cara" às Penhas, mas ainda aguardam
concretização no terreno. Segundo os responsáveis
pela autarquia covilhanense este objectivo está cada vez
mais próximo. O actual executivo camarário garante
estar empenhado em levar o projecto avante.
A equipa encarregue do novo Plano de Urbanização,
liderada por João Caldeira Cabral, já está
a trabalhar. Os seus princípios básicos devem estar
concluídos até ao final deste ano, garante o vereador
com o pelouro da Habitação na Câmara Municipal
da Covilhã, João Esgalhado.
o município pretende começar, "a curto prazo",
as obras de construção das redes de infra-estruturas,
nomeadamente esgotos, água, electricidade e alcatroamento
das ruas. A primeira fase dos trabalhos custa cerca de 150 mil
contos.
Após os "trabalhos básicos" segue-se
a consulta pública, divulgação, recolha
de opiniões e eventual reformulação do Plano.
De acordo com João Esgalhado, a intenção
da autarquia é "definir o que se pode construir,
onde e como", em meados de Junho de 2001.
O novo Plano de Urbanização visa recuperar a beleza
do local, dotando-a de infra-estruturas, por forma a fixar ali
a população e atrair novos investidores. O autarca
afirma que as Penhas da Saúde devem ser transformadas
num local de residência permanente, uma freguesia urbana,
com vida ao longo de todo o ano.
O Plano pretende acabar com a caracterização urbanística
desorganizada, construções degradadas e casas construídas
com materiais inadequados. "É tempo de planear a
reconstrução das Penhas Saúde como um espaço
organizado, para que esteticamente seja atractivo e funcional
para os utilizadores", acrescenta.
A demolição de casas e a reconstrução
de outras são já acções asseguradas.
A Câmara Municipal da Covilhã reúne, em breve,
com todos os proprietários de terrenos nas Penhas para
os colocar a par do processo.
Ao mesmo tempo, é preocupação da equipa
envolvida no projecto, assegurar o equilíbrio ecológico
do local.
Os valores do investimento ainda não estão totalmente
definidos, mas a autarquia adianta que devem rondar os "cinco
milhões de contos". A origem das verbas ainda se
encontra em negociação com o Governo e os vários
Ministérios. A Câmara Municipal não dispõe
de capacidade financeira para sustentar um empreendimento desta
natureza. João Esgalhado ressalta que o licenciamento
urbano das Penhas da Saúde depende unicamente do parecer
do Parque Natural da Serra da Estrela. A Câmara, sozinha,
não pode decidir nada naquela área sem que exista
um acordo com o Parque Natural da Serra da Estrela.
Segundo o vereador, a Comissão de Coordenação
da Região Centro é outra uma entidade "necessária",
uma vez que coordena a elaboração dos Planos de
Urbanização.
O ministro do Ambiente, José Sócrates, também
já teve a oportunidade de se pronunciar sobre o Plano
de Urbanização. Aquando da sua passagem pela Covilhã
em Abril último, afirmou que esta etapa é uma medida
fundamental para melhorar "um problema ambiental profundo".
Projecto prevê pista
de gelo e piscinas aquecidas
As Penhas da Saúde vão transformar-se numa "aldeia
de montanha." Um local atractivo, que oferece aos turistas
zonas de lazer, práticos e úteis, com comércio,
gastronomia e hotelaria.
De acordo com o presidente da Região de Turismo da Serra
da Estrela (RTSE), Jorge Patrão, é necessário
melhorar a hotelaria existente e incentivar novos investimentos
nas Penhas da Saúde.
Até ao momento, a empresa Turistrela detém o monopólio
do turismo na Serra. O grupo tem desenvolvido vários projectos
nas Penhas da Saúde e já tem em vista a concretização
de mais dois investimentos. Uma pista de gelo e uma piscina aquecida
para as Penhas são os novos planos do grupo. Até
ao fecho desta edição não foi possível
apurar pormenores junto da Turistrela .
Segundo o responsável da RSTE é preciso investir
naquele local "com características únicas
e que não tem qualquer atractivo turístico".
Jorge Patrão sublinha a particularidade das Penhas, que
até ao momento não foi aproveitada.
"O que nós temos nas Penhas da Saúde é
clandestinidade, anarquia construtiva e indefinição
de materiais a utilizar nas habitações", sustenta.
E acrescenta que as culpas não recaem somente nos poderes
locais: "O Estado nunca definiu regras a aplicar nas construções
daquela zona".
Jorge Patrão afirma que "finalmente estamos no caminho
certo, que já devia ter sido encetado há 30 anos",
ao referir-se ao Plano de Urbanização. Uma medida
que, segundo ele, vai, essencialmente, combater a insuficiência
turística das Penhas da Saúde.
A construção de um Centro Cívico torna-se
fundamental, como forma de fortalecer o hábito de ir à
montanha.
Jorge Patrão lança os dados: "Para que o Plano
de Urbanização avance é necessário
a união das quatro entidades envolvidas: Câmara
Municipal da Covilhã, Junta de Freguesia de Cortes do
Meio, Parque Natural da Serra da Estrela/ Ministério do
Ambiente e Região de Turismo".
*NC / Urbi et Orbi
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