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"Peguei
num pequeno bule e levantei a minha manga da maneira adequada
para deitar o chá. Para minha surpresa, os olhos do Director
deslizaram para o meu braço. Claro que me senti ansiosa
por ver eu própria o que ele estaria a ver. Talvez por
causa da iluminação sombria no auditório,
a parte de baixo do meu braço parecia brilhar com o resplendor
macio de uma pérola, e ser de uma maravilhosa cor de marfim."
Memórias de uma
geixa
Arthur Golden
Foi num aeroporto que tive o primeiro
contacto com este livro. Enquanto esperava um amigo, entrei numa
livraria e peguei nele casualmente, atraída pela capa.
Folheei e o pouco que li provocou aquela vontade incontrolável
de ter, de ler mais e mais e mais... que já não
sentia há muito tempo / muitos livros. Quando finalmente
o li, aquele vislumbre confirmou-se. É espantoso!
"Memórias de uma gueixa" é um retrato
na primeira pessoa do Japão dos anos 30 e 40, abrindo
uma brecha para o estranho e atraente mundo das "bonecas
japonesas", que tanto fascina os ocidentais. Um mundo no
qual Chiyo, a criança pobre de invulgares olhos azuis,
cai acidentalmente para se transformar na fascinante Sayuri,
a mais famosa gueixa do seu tempo.
Livro de muitas texturas, envolvente da primeira à última
página, "Memórias..." desvenda o mito
da boneca de rosto branco e lábios escarlates, quebrando
a máscara e revelando um lado menos bonito, que nos fala
de comércio sexual e de arranjos empresariais que envolvem
uma gueixa, a sua mãe adoptiva e um cliente rico. Um universo
impiedoso, de regras e códigos inquebráveis, onde
a sobrevivência ensina a sufocar as emoções
e a competição feroz impede a máscara de
cair. |
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