Quando vi pela primeira
vez "Drácula
de Bram Stoker", detestei. Estava a acabar de ler o livro nessa
altura e achei a versão de Francis Ford Coppola tão
superficial, tão adulterante, tão distante da eloquência
e do terror que o livro me inspirara, que o filme nunca se poderia
chamar "Drácula de Bram Stoker".
Meses mais tarde, voltei a vê-lo. Hoje é um dos
meus preferidos.
Este filme oferece-nos a possibilidade única de espreitar
o universo de Bram Stoker através do olhar de Coppola.
Um olhar filtrante, que penetra a história e as personagens
para as oferecer recriadas. Johnatan, Mila, o Conde, os médicos,
a amiga, o doente, ... personagens centenárias cujas características
são agora sublinhadas, acentuadas, colocando brilho e
vida onde o tempo deixara sombra e pó.
Mais que uma adaptação, este filme é uma
recriação. É "Drácula"
reinventado. Exuberante, estilisticamente soberbo, o Drácula
de Coppola é pura sedução. O encantamento
que a personagem exerce desde sempre, marcadamente pelo horror
que inspira, é agora acentuado pela sensualidade. Uma
sensualidade que contagia a história e as personagens,
conduzindo-nos sabiamente pelas complexas alegorias do sexo,
vagueando entre a inocência e a luxúria como se
fossem apenas uma. O toque final é dado pelo leque de
actores que lhes dá vida. Imperdível.
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