Portugal - França vivido
intensamente no Oriental de São Martinho
Balde de água
fria
POR IVONE FERREIRA
E MARIANA MORAIS
Os
desafios do Europeu de Futebol 2000 mereceram destacada atenção
por parte dos covilhanenses. O Urbi foi até ao Oriental
de São Martinho para assistir à disputa do Portugal
- França e conta-lhe todos os pormenores. O clima vivido
pelos 60 adeptos da selecção que ali se encontravam
era de completa euforia. Cervejas, tremoços e cachecóis
não faltaram. Entusiasmo também não. Até
ao momento em que Thierry Henry começa a destruir o sonho
lusitano. A mão de Abel Xavier colocou Portugal de mãos
na cabeça. Zidane desfere o golpe mortal. O sonho fica,
mais uma vez, adiado.
Na passada Quarta-feira,
o Urbi deslocou-se ao Centro de Recreio Popular Oriental de São
Martinho, para assistir ao Portugal-França, o jogo decisivo
que poderia ditar o apuramento de Portugal para a final do Europeu
de Futebol.
Apesar da noite amena, as ruas da Covilhã estão
desertas. No bar da colectividade, as cerca de 60 pessoas presentes,
de rostos atentos e expressão ansiosa, recriam o ambiente
de um estádio em miniatura. Confiantes no brilhante desempenho
da Selecção Portuguesa, vivem o jogo com optimismo,
convictas da vitória.
Às 20 horas a sala está à cunha. Cada novo
espectador, sem lugar na "bancada", vê-se obrigado
a procurar uma cadeira no terraço. Um adepto mais precavido
prefere um lugar na varanda com receio que o soalho não
aguente o peso de tanta gente. "Quando há golo, o
entusiasmo é tanto que o soalho parece vir abaixo",
confidencia.
Futebol de campeões
Nem o calor excessivo faz diminuir
o entusiasmo reinante. Cachecóis, tremoços e cervejas
estão a postos para a vitória. Os primeiros vinte
minutos são vividos intensamente. Numa jogada de insistência
de Sérgio Conceição, Nuno Gomes, rodando
sobre si próprio, desfere um remate fazendo a bola "beijar"
as redes da equipa francesa. "Goooooolo", um grito
uníssono dá expressão à alegria colectiva.
Na sala cria-se um ambiente electrizante. É a euforia
completa. De braços no ar, os adeptos ficam em pé.
O entusiasmo transborda. Ouvem-se gritos e assobios, agitam-se
os cachecóis, cumprimentam-se os amigos. Ainda falta muito
para o final do jogo e teme-se a reacção da equipa
adversária. A França começa a ganhar no
meio-campo, obrigando os defesas portugueses a mostrar o seu
real valor. "Portugal tem muitas hipóteses se aguentar
a pressão, mas o Figo já se lesionou e está
encolhido. Os franceses estão de dentes afiados e vão
atirar-se a nós como gato a bofe" declara Carla Gomes,
estudante da UBI.
Ao intervalo o optimismo é geral. Cid Pereira, de 24
anos, estudante, acredita piamente na vitória de Portugal.
"Vamos ganhar. Vamos ser campeões europeus. No início
estava preocupado. Muito preocupado. O golo de Nuno Gomes deu-nos
confiança". Todos os prognósticos dão
a vitória a Portugal, seja ela por "2-0", "2-1"
ou "1-0". O que interessa é ganhar. "Se
ganharmos hoje, ganhamos a final" declara convicta Margarida
Godinho.
Jogo sofrido
O encontro reata-se. A equipa
francesa começa a dominar. Decorridos 5 minutos da segunda
parte a França marca o primeiro golo e começa a
desfazer-se o sonho português. Os nervos vão crescendo.
Os gritos e comentários aumentam. A tensão na sala
sobe de tom. De olhos presos no ecrã e roendo as unhas,
cada espectador sente-se um jogador no relvado. Outro momento
de emoção. Mais uma oportunidade perdida. O jogo
está vivo. Tudo pode acontecer.
Nos últimos minutos da segunda parte, após um cruzamento
de Luís Figo, Abel Xavier cabeceia proporcionando ao guarda-redes
francês uma excelente defesa e impedindo a concretização
do segundo golo de Portugal. Perde-se a última oportunidade
de evitar o prolongamento. Os insultos ao guarda-redes francês
são cada vez frequentes. Braços no ar, mãos
arrepelando os cabelos, a emoção está no
auge e o nervosismo também. É preciso animar os
jogadores portugueses. A sala fica suspensa. Grita-se em coro
"Portugal ! Portugal!" ao ritmo das claques. "Lança
agora. Marca golo, pá. É agora. Vai-te embora,
pá" são algumas expressões usadas para
aliviar a tensão. Não há mais nada a fazer.
Depois de 5 minutos de intervalo começa o prolongamento.
Portugal fica sujeito ao sistema de "morte súbita".
Cresce o sentimento de que não é permitido o menor
erro. No início do prolongamento, João Pinto,
em remate fora da área, faz passar a bola junto do poste
da baliza de Barthez arrancado mais um " Ahh!". Mais
uma expectativa falhada.
Quando já se adivinha que o jogo será discutido
através de grandes penalidades e, precisamente, no momento
em que Portugal equilibra o domínio da partida, a França,
numa das subidas à baliza, cria o grande momento do desafio.
Num remate à queima-roupa, a bola bate na mão de
Abel Xavier, e leva o fiscal de linha a indicar grande penalidade.
Figo tira a camisola. Toda a equipa protesta contra a decisão.
É o desespero. Os protestos são gerais. O árbitro
mostra cartão vermelho a Nuno Gomes e ainda vários
cartões amarelos, sem se saber muito bem a quem. A sala
do Oriental está ao rubro. Há espectadores de joelhos.
Os gritos e protestos aumentam. O ritmo cardíaco altera-se.
A indignação é grande. A tristeza é
infinita. Fica o sonho adiado.
Vingança frustrada
O resultado do jogo Portugal-França,
discutido a escassos minutos do fim do prolongamento deixou o
País desfeito. À semelhança do que aconteceu
em 1984, Portugal volta a ser eliminado pela selecção
francesa. Acrescenta-se ainda a surpreendente declaração
do secretário - geral da UEFA quando admite desejar uma
final disputada entre França e Holanda. Coincidência
ou talvez não. Como disse Luís Figo, "Portugal
continua a ser um País pequeno".
A recepção aos jogadores, no aeroporto, mostra
que Portugal é grande a exprimir sentimentos. Os dísticos
que os recebem, apelidando-os de "Campeões em dignidade",
provam o reconhecimento pelo brilhante desempenho da Selecção
Portuguesa. A "geração de ouro" continua
a brilhar.
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