António
Fidalgo |
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As leituras
de verão
Aproxima-se o Verão,
altura de preparar as leituras próprias da época.
Guarda-se para esta altura a leitura, repetidamente adiada, dos
livros
comprados ao longo de muitos meses, mas que os afazeres profissionais
impediram de ler. Em geral são livros de ficção,
romances, novelas, próprios de um tempo de ócio
como são as férias.
Ao longo do ano consome-se o tempo em leituras e escritas tão
inevitáveis e urgentes quanto irrelevantes de um ponto
de vista cultural e pessoal. São memorandos que se lêem
e escrevem, relatórios de vida curta, ou então
leituras e escritas estritamente ligadas à vida profissional.
Ora as
leituras de Verão caracterizam-se pela inutilidade, de
nada servirem. São
leituras de gozo, do prazer da leitura. Nada melhor que elas
caracterizam o tempo de ócio, o doce nada fazer de quem
tem o sustento assegurado e
desfruta esse tempo como tempo seu, muito seu, de que poderá
dispor como
muito bem entender.
A imagem de ler um livro à sombra de uma árvore,
nos dias de canícula, é uma imagem, que embora
gasta, continua a ser reconfortante na nossa civilização
de correrias e frenesim quotidiano. O tempo parece parar por
momentos, enquanto damos atenção à narrativa
do livro.
Os dias compridos de Verão são os indicados para
as leituras de grande
fôlego. Ficar-me-ão sempre na memória os
dias de férias de Verão agarrados à Guerra
e Paz de Tolstoi. Mas livros são coisa de que hoje não
há míngua, e mesmo muito bons livros. O gozo, quase
puro gozo, está mesmo aí a chegar com as férias
de Verão.
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