A primeira Estudante Luso-Americana
da UBI
Um Desafio Vencido
POR SANDRA CUNHA
Tem vinte anos, e é natural de Ponta Delgada, nos Açores.
Rita Tavares, estudante de Bioquímica, vive desde os dez
anos de idade nos Estados Unidos, mas Portugal e a língua
portuguesa ficaram sempre no seu coração. Este
ano, decidiu trocar o Worcester State College, no Estado de Massachussets
para vir estudar para a UBI, pois havia um desafio que há
muito queria vencer: aprender a falar bem o português.
O Urbi foi ver como tem corrido esta experiência.
Urbi @ Orbi - Rita,
como é que decidiste vir estudar para a UBI?
Rita Tavares - Nos Estados
Unidos, em vez de um curso podem-se fazer vários, são
as chamadas concentrações, que nos dão mais
oportunidades. Eu queria uma concentração em línguas
e escolhi espanhol, e por isso no início era para ir para
Espanha. O Prof. Carlos Fontes, que dá aulas nos Estados
Unidos, e o Prof. António Fidalgo, que esteve lá
e o conhece, incentivaram-me a vir para Portugal, e assim fico
com uma prova em como sei a língua portuguesa. Eu sabia
que vir para cá ia ser um desafio e tinha de tentar dar
o meu 100%, faz parte da minha personalidade.
U @ O - Qual é o balanço
desta experiência?
RT - Não estou
nada arrependida de ter escolhido Portugal. Se tivesse ido para
Espanha, apesar de ser o programa mais famoso na minha Universidade,
sei que teria sido muito diferente, ia passar muito tempo com
americanos, e o que eu queria era mesmo integrar-me na cultura
portuguesa, interessou-me muito desenvolver esta parte que eu
não tinha.
U @ O - Além da língua
o que é que te motivou mais?
RT - Foi o facto de ser
a primeira e poder contar uma experiência que ninguém
teve. A partir de agora, quem vier vai-se guiar pelo que eu disse.
Além disso, muita gente disse que devia ter ido para um
sítio onde não conhecesse bem a língua,
mas discordo, acho que satisfiz tudo o que era para mim este
programa, pois parte de mim não acreditava que sabia a
língua.
U @ O - Como é que
foi a integração?
RT - No início
juntei-me aos portugueses, mas depois conheci os polacos, e como
eles estavam sozinhos e tinham pouca ligação com
os portugueses, juntei-me. Um estudante de cá não
tem o mesmo interesse que um estrangeiro - nós queremos
fazer o mesmo, viajar e conhecer Portugal.
U @ O - E no que se refere
à Universidade?
RT - No início
foi difícil, não tinha quem me ajudasse e dissesse
o que tinha de fazer, como encontrar um computador. Eu fiquei
a saber pelos estudantes que tinha de me inscrever às
cadeiras, fazer o meu horário, comprar folhas de teste,
e isso surpreendeu-me. Acho que deviam ter tido essa consideração,
se eu não soubesse português não me desembaraçava.
Como é que é recebido um estudante estrangeiro
nos EUA? Um mês antes de o semestre acabar dão-te
um livrinho, mandam-te o número de registo e o resto faz-se
pela INTERNET. Um estudante estrangeiro quando lá chega
já tem tudo preparado, até o horário te
mandam para casa, isso não se resolve no primeiro dia.
Depois há um tutor que te ajuda em todas as dificuldades.
U @ O - Fala-me um bocadinho
das aulas e do sistema americano.
RT - A relação
professor aluno não é tão fria como cá,
todos os professores sabem o teu nome, as turmas também
não têm mais de 20 alunos. A última coisa
que fazes lá é dar uma fotografia para o professor
se lembrar de ti. Os professores lá ajudam muito e concentram-se
muito na média, não passa pela cabeça de
nenhum aluno passar com 10. Aqui a questão que se coloca
é fazes ou não fazes. Depois é tudo mais
na base de trabalhos, aqui temos de estudar tudo sozinhos, há
mais liberdade. Outra coisa é que lá temos muito
debate, aqui é mais escrever.
U @ O - Qual é impressão
que lá têm dos europeus?
RT - Os europeus lá
têm uma vantagem enorme. Os americanos acham que os europeus
são pessoas muito inteligentes, culturais, e que só
vêm valorizar enriquecer o país. Eu tenho uma vantagem
enorme por conhecer outra língua e ser mulher.
U @ O - Não achas que
têm mania de superioridade por serem a maior potência?
RT - Eu reconheço
que eles têm essa mania de ser os melhores, mas no fundo,
a sua teoria é ter melhor para chegar mais longe, há
que trabalhar muito, eles são muito exigentes com eles
próprios.
U @ O - E a nível económico,
é fácil ser estudante?
RT - A maior parte dos
estudantes tem um part-time e isso ajuda muito os pais. Eu trabalho
lá num restaurante, e isso dá perfeitamente e sobra
para aquilo que eu quero. Além disso, quem está
na residência, come lá, a comida está englobada,
não temos de comprar senhas, e em vez de fotocópias
temos um livro para cada cadeira que podemos vender no fim.
U @ O - Há muitas saídas
profissionais?
RT - Às vezes
não se encontra logo o que se quer, mas geralmente é
fácil arranjar emprego. No meu curso, por exemplo, que
lá é Engenharia Genética, andam à
procura de pessoas que saibam línguas, pois está
numa fase de desenvolvimento e o objectivo é fazer algo
global e não só nos EUA.
No fim, a Rita falava sem parar
desta experiência com um brilho nos olhos e um sorriso
nos lábios e alegria de se conseguir expressar em português.
"Aprendi muito do que eu sou, e agora sei que sei." |