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Opinião       



 

E se o Interior não tiver solução?

POR TIAGO NEVES SEQUEIRA*


Algumas correntes de opinião, entre as quais se contam as de conceituados economistas, geógrafos e historiadores, vêem o processo de desertificação do interior do nosso país como inevitável porque decorrente de uma urbanização deficiente e da tendência histórica de litoralização.

Há, no entanto, muitos outros que julgam que todas as tendências históricas são reversíveis mediante políticas adequadas. Afinal a história dos povos e a ocupação do espaço pelos mesmos não são, de todo, processos determinísticos. O Silicon Valley, nos EUA e a Irlanda são apenas dois exemplos de que o atraso e a depressão podem ser suplantados por fases de expansão e desenvolvimento, com base na Educação e na Investigação.

Estudos e discussões recentes que têm tido lugar em meios académicos, defendem que as cidades do interior do país poderão inverter a tendência de desertificação se apostarem em políticas concretas de articulação e de requalificação do espaço urbano. Algumas evidências no nosso país demonstram já este resultado.

As empresas e as pessoas em geral não encontram facilmente razões para se instalarem no interior: as oportunidades de negócio e de emprego, os grandes mercados e os salários elevados estão nos centros urbanos do litoral.

Desiludam-se aqueles que pensam que se contribui para o progresso das cidades do interior fazendo com que se tornem cada vez mais parecidas com as do litoral. Estaremos então a criar no interior centros urbanos que concentram as piores características dos do litoral.

Um quadro técnico ou superior não quererá mudar-se para uma cidade do interior em que o trânsito seja caótico, em que os transportes públicos sejam poluentes e ineficazes, em que haja carência de espaços verdes e pedonais, onde a habitação é de fraca qualidade e onde a criminalidade esteja a crescer. Uma empresa de alta tecnologia ou de serviços especializados não quererá instalar-se numa cidade em que os parques de alta tecnologia sejam ocupados por grandes armazéns grossistas, em que os campus universitários se confundam com parques de estacionamento de grandes hipermercados, os centros comerciais sejam ocupados por comércio de baixa qualidade e os empresários já instalados dediquem grande parte dos seus recursos a conseguirem "rendas" cedidas pelos políticos para construírem mais prédios e empreendimentos e ganharem cada vez mais com a especulação imobiliária.

Mas porquê esta ideia de atrair quadros e empresas especializadas para as cidades do interior? Uma cidade não crescerá também se atrair empresas intensivas em mão de obra e trabalhadores não qualificados? Certamente que crescerá, mas não se desenvolverá! O nível de vida da população baixará e criaremos no interior do país ghettos insustentáveis nos médio e longo prazos. Estratégias de massificação das cidades do interior estão condenadas ao fracasso com prejuízos enormes para as gerações futuras. Estas serão ultrapassadas pelas cidades mais próximas com políticas acertadas.

É preciso portanto que empresários conscientes, académicos, jornalistas e associações cívicas, culturais e ambientais pressionem e ajudem os políticos eleitos a prosseguir estratégias que conduzam a um desenvolvimento harmonioso e planeado (pensado!) das cidades do interior de Portugal.

As forças vivas de uma cidade não podem contentar-se com obras e subsídios; têm que avaliar as políticas e pensar: será que os meus filhos vão querer viver nesta cidade?

 

* Licenciado em Economia pela Universidade da Beira Interior
  Assistente Estagiário na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa

 

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