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Universitários africanos
sem união
POR ANTÓNIO VERÍSSIMO
Os estudantes africanos da Universidade
da Beira Interior (UBI) estão desunidos e desorganizados.
Esta é a conclusão que se retira das afirmações
dos próprios filhos de África. Falta de comunicação
e pouca convivência espelham o frio relacionamento entre
as várias nacionalidades dos estudantes originários
de países africanos de expressão portuguesa: Angola,
Cabo Verde, Moçambique e Guiné.
Neste momento, não há uma organização
africana a funcionar na Covilhã. A Associação
Africana (AFROUBI), criada há cerca de seis anos, não
desempenha o seu papel, devido à carência de sócios
e de um corpo directivo.
Há quem diga que a AFROUBI já não existe,
porque foi engolida pelo núcleo de estudantes de Cabo
Verde (CABOUBI), órgão legalizado no ano de 1998
pela Assembleia Geral dos Alunos.
A CABOUBI debruça-se sobre os assuntos dos cabo-verdianos
em particular, e em alguns casos pontuais, alarga-se aos outros
africanos. Mas actualmente também o núcleo cabo-verdiano
se encontra parado.
A inactividade destes dois órgãos tem suscitado
alguma polémica e divisão entre os estudantes africanos.
As críticas vêm de toda a parte.
Moçambicanos acusam os cabo-verdianos de serem os principais
responsáveis pelo isolamento dos outros povos. "O
crioulo é a arma dos cabo-verdianos para se restringirem
e se afastarem de nós", comenta o moçambicano
Ercilio Infante, aluno do 2º Ano de Sociologia. Para este
futuro sociólogo deveria haver mais abertura por parte
das pessoas do arquipélago: "Nós os moçambicanos
somos poucos, não podemos formar um núcleo. Se
formos convidados, aceitaremos participar no projecto do CABOUBI",
sublinha Ercílio Infante, que faz questão de salientar
que, individualmente, tem boas relações com os
estudantes dos países africanos de língua oficial
portuguesa (PALOP's).
Os angolanos também notam a diversidade dos africanos.
Dizem que há necessidade de reforçar mais os laços
de amizade entre os africanos, e por isso recomendam mais união.
Núcleo angolano para
breve
Angola é um país
cheio de problemas. Os estudantes no estrangeiro vivem algumas
dificuldades, daí que "nós os angolanos temos
de nos unir para defender junto das nossas autoridades os nossos
direitos", esclarece Francisco Rafael, do 1º Ano de
Gestão. De acordo com Rafael, os poucos angolanos, onze,
que se encontram na Covilhã, vão reunir-se brevemente
com a intenção de se criar a curto prazo um núcleo
angolano.
Francisco Rafael enfatiza que a criação deste núcleo
não tem como objectivo hostilizar os que já existem:
"É apenas para trabalhar em sintonia com a Associação
Central do nosso país".
A influência crioula vem à baila na voz dos angolanos,
mas quanto a isso, o Rafael recusou-se a tecer comentários.
Porém, deixa claro que cada povo tem a sua maneira de
ser, e que "o que se exige é o respeito de uns pelos
outros".
Os cabo-verdianos perante as queixas dos restantes estudantes
dos PALOP's, reagem de forma tranquila.
"A Organização Cabo-verdiana surgiu porque
a AFROUBI não dava conta do recado", esclarece Mário
Rui, aluno do 4º Ano de Economia: "A expressão
crioula é a nossa identidade e vamos continuar a utilizá-la
em qualquer parte do mundo", garante.
"O objectivo da CABOUBI é zelar pelos assuntos de
interesse dos cabo-verdianos, mas isso não quer dizer
que não colabora com os africanos - em todas as actividades
que se desenvolvem, eles são convidados", revela
Mário Rui.
Aquele estudante lembra que a aprovação do projecto
da CABOUBI pela Assembleia Geral dos Alunos da UBI "gerou
muita confusão, mesmo no seio dos cabo-verdianos".
Há muitos bolseiros do arquipélago que defendiam
a existência da AFROUBI, justificando que mesmo no seio
dos cabo-verdianos há muita confusão, no aspecto
organizativo".
A organização cabo-verdiana, até agora,
só realizou um encontro dos universitários cabo-verdianos
que foi o 3º Encontro Nacional, concretizado em Dezembro
de 1998. A partir daí nunca mais se ouviu falar na CABOUBI.
Perda de subsídios
O Ex-presidente da Associação
Académica da Universidade da Beira Interior, Vasco Cardoso
estranhou a inércia das associações africanas.
"Nos últimos dois anos não apresentaram relatórios
de contas e de actividades", diz Vasco Cardoso. Para o antigo
responsável da AAUBI, a desorganização só
prejudica estes órgãos.
De acordo com Vasco Cardoso, uma organização africana
faz falta na universidade, e vai avisando que enquanto não
houver estabilidade e uma associação bem organizada
entre os africanos, "eles vão continuar a perder
os subsídios atribuídos pela AAUBI às suas
filiais".
A festa dos finalistas do ano 2000 era considerada o ponto de
encontro para se debater alguns pontos que afectam a comunidade
africana. Infelizmente não se realizou, por impossibilidade
da SASUBI para ceder o espaço da cantina de Santo António.
Mesmo assim a noite de 27 de Maio não passou despercebida
- todos se reuniram no bar da Associação, curtindo
a música crioula, em convívio aberto.
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