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Beatriz e Manuel da Silva lamentam o cheiro nauseabundo com o qual são obrigados a conviver


Ribeiras da Carpinteira e da Degoldra poluídas
Empresas têxteis pretendem construir ETAR´s

POR RICARDO GUEDES PEREIRA
        E SÓNIA ALVES*

As duas ribeiras que atravessam a Covilhã transformaram-se em esgotos a céu aberto. A população lamenta o esquecimento a que foram votadas. Para resolver o problema, as indústrias começam a construir as suas ETAR's.

A poluição das ribeiras da Degoldra e Carpinteira não passa despercebida a quem por ali passa. Muito menos a quem vive por perto. Quem mora "paredes meias" queixa-se, sobretudo, do cheiro nauseabundo.
Beatriz e Manuel da Silva, 75 e 74 anos respectivamente, reformados, residem junto da ribeira da Carpinteira e dizem conhecer bem aquela realidade: "Esse problema sempre existiu." O casal afirma estar habituado a ver as águas coloridas e a conviver com a poluição da ribeira. Os moradores lamentam o mau cheiro e as moscas que por ali param. Manuel da Silva revela que a pior época do ano é o Verão: "Nos dias de calor cheira mesmo muito mal". Beatriz concorda. Nesses dias, nem abre as janelas que se encontram viradas para a ribeira, mas, acrescenta, nunca teve qualquer problema de saúde.
Beatriz e Manuel são talvez uma excepção. De acordo com Telma Madaleno, presidente da Quercus-Cova da Beira, muitos moradores, que vivem junto da Carpinteira e Degoldra, apresentam problemas de saúde. Sofrem, sobretudo, de insuficiências respiratórias. A ambientalista acredita que "o estado actual das ribeiras constitui um risco de saúde pública para todos os covilhanenses".
As indústrias de lanifícios são as principais fontes de poluição dos cursos de água que atravessam a cidade serrana. Um problema que já se arrasta há anos e que tarda a ser resolvido.
Durante o processo de fabricação dos tecidos, as fases da lavagem das lãs, tinturaria e ultimação são as mais prejudiciais para as ribeiras e rios. As lãs libertam águas sujas. A tinturaria e ultimação expelem produtos tóxicos. Devido a este processo, há muito tempo que as águas deixaram de ser límpidas e tornaram-se multicolores.

"Despoluição deve ser integrada em processo global"

Alguns industriais dizem estar conscientes dos problemas que o seu negócio causa para a saúde pública. Outros não se mostram receptivos a falar sobre o assunto.
A empresa "Álvaro Paulo Rato & Filhos Lda" situa-se junto da Carpinteira. A administração da empresa diz estar sensível para a resolução da poluição por si provocada. No entanto, acrescenta, o tratamento dos efluentes não está unicamente nas suas mãos: "A despoluição das ribeiras deve ser integrada num processo global. Não se trata só dos efluentes têxteis, trata-se também dos próprios resíduos domésticos".
"A construção de ETAR's, a cargo de empresas ou municipal, é uma das soluções", defende um dos responsáveis da empresa "Álvaro Paulo Rato". No entanto, argumenta que as ETAR's, construídas pelas empresas, não vão resolver o problema. "Não vale de nada nós, individualmente, tratarmos os nossos efluentes, porque todas as empresas poluem. As ribeiras vão continuar a ser poluídas pelos outros", continua. É por isso que esta administração defende que a despoluição das ribeiras deve ser levada a cabo pelas várias empresas envolvidas, autarquia e Estado.
Ao contrário da "Álvaro Paulo Rato", há empresas que já estão a incluir essas ETAR's nos seus planos. A empresa "Alçada e Pereira Lda" é uma das poucas que investiu neste projecto. A "Paulo de Oliveira" é outras das grandes empresas do concelho que também tem projectos para efectuar o mesmo investimento. Projectos que evitam, ou pelo menos minimizam, a poluição das ribeiras e dos rios. Vantajosos em questões ambientais e para os próprios empresários que, tal como dizem, "permite a reutilização das águas". A empresa "Paulo de Oliveira" pretende reutilizar a água depois de tratada, com vista ao arrefecimento dos tanques de tinturaria.
O financiamento destas ETAR's constitui um dos problemas para alguns empresários. Investimentos muito dispendiosos que "envolvem grandes verbas não só na construção como na manutenção".

Produtos menos tóxicos

A utilização de produtos biodegradáveis no tratamento dos tecidos, em tinturaria e acabamento, é outras das vias para minimizar a poluição. Os industriais afirmam que os produtos que actualmente utilizam têm um grau de toxidade menor do que há 10 ou 20 anos atrás. "É visivel que as águas continuam muito poluídas, mas libertam menos tóxicos". Por isso, concluem, são menos prejudiciais para a saúde pública.
A empresa "Álvaro Paulo Rato" adianta ainda que a modernização da maquinaria das empresas é outra solução. De acordo com a administração, a modernização inclui, em parte, o tratamento de alguns efluentes. Projectos que a empresa já incluiu na sua estratégia de negócio, mas que não concretizou devido à "falta de condições económicas".

*NC / Urbi et Orbi

 






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