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                Jorge Jacinto

Entrevista a Vasco Cardoso

"Uma associação em luta"

POR RAQUEL FRAGATA


Vasco Cardoso                 

 
Na hora de passar a pasta, Vasco Cardoso, presidente cessante da Associação Académica da UBI, é um aluno e dirigente associativo satisfeito com o dinamismo estudantil que esta universidade vive hoje.

 

Urbi @ Orbi- Como vê a AAUBI de hoje?
Vasco Cardoso-
A Associação Académica é a maior estrutura associativa de carácter juvenil de toda a Beira Interior e tem um papel insubstituível na vida e dinamização da cidade. Sem a AAUBI , tanto a cidade como a universidade seriam certamente diferentes. Hoje a AAUBI é uma instituição que tem uma diversidade de intervenção bastante grande no âmbito do desporto, da cultura, além do espaço vocacionado, e que lhe dá esse carácter institucional, que é a defesa dos direitos dos alunos e de um sistema de ensino diferente e de qualidade. Tem uma intervenção importante ao nível interno, do ponto de vista pedagógico, na forma como vai reunindo e intervindo nos órgãos da universidade e na forma como vai interpretando o que é o sentimento dos estudantes em relação ao ensino. É uma associação em crescimento à semelhança de outras estruturas associativas recentes, com cerca de 20 anos, como são os casos de Braga, Vila Real, Viseu, Guarda ou mesmo Évora. Que são hoje estruturas extremamente importantes para as sociedades que as envolvem, que são cidades com densidades populacionais médias e onde este tipo de instituições se adaptam melhor. É uma associação em crescimento visível mas que também tem deficiências que é importante colmatar.

U @ O- Quais considera as principais mudanças estruturais na AAUBI destes dois anos na direcção?
VC-
Acho que o trabalho pedagógico planeado no Conselho Consultivo de Núcleos, com objectivos concretos definidos em termos de alguns processos, como sejam o funcionamento dos Serviços Académicos, o Calendário Escolar ou as Prescrições, e com uma estratégia que tem vindo a ser seguida, tem produzido os seus resultados. É também, por vezes, uma intervenção ingrata, quando nos deparamos com situações que não conseguimos resolver e aí pensamos que se a Universidade agisse e pensasse de outra maneira seria possível resolvê-los. Mas penso que hoje a pedagogia funciona de uma maneira mais institucionalizada, capaz de atingir mais resultados e com uma capacidade de planeamento a médio prazo, sem ser uma ideia casuística. Por outro lado, a intervenção da AAUBI no Movimento Associativo Estudantil, desde a organização do ENDA [Encontro Nacional de Direcções Associativas], a uma série de processos que passaram pela Associação Académica, à eleição de um aluno desta universidade para o Conselho Nacional de Educação [CNE], tudo foi feito para aproximar os alunos daquilo que está lá tão longe [Ministério da Educação] e que tanto lhes diz respeito. Nesse sentido, esta foi uma associação em luta.
Também o alargamento da intervenção cultural, com a organização de dois Art'ubis, dois festivais Ethnicus, dois Unifonias, a edição de uma revista, a Beira In, contribuiu para a afirmação cultural da Associação para além da Recepção ao Caloiro e Semana Académica, actividades que também cresceram exponencialmente. Acho que em termos desportivos o ampliamento dos espaços desportivos nos permite olhar para o futuro com maior responsabilidade e com um campo de intervenção alargado, por exemplo, ao desporto de manutenção. A possibilidade desta Associação poder vir a ter uma rádio é um marco desta direcção. Nestes dois anos a Associação cresceu em termos de dimensão, e estamos já a tentar negociar a compra de um edifício para alargar as instalações, com outro tipo de valências que iram ser definidas pela futura direcção.
Por último, a introdução do Plano Organizado de Contabilidade (POC) é outro marco para a AAUBI. A AAUBI passa a funcionar, do ponto de vista financeiro, como uma empresa. O que lhe dá uma maior capacidade de gestão mas também atravessando mais dificuldades, com procedimentos mais rigorosos, mas ganhando credibilidade e transparência. A Associação Académica tem que existir fiscalmente e neste momento está de cara lavada.
Infelizmente não conseguimos, apesar de termos sido uma Associação de propaganda, apostando na informação e divulgação, chamar à participação os alunos no número que queríamos. Embora se possam ter criado raízes que venham a dar frutos futuramente.

U @ O- Quais são os projectos para o futuro próximo?
VC-
Penso que o papel principal agora é prestar todo o apoio possível à direcção que o Jacinto irá liderar, com o capital de experiência ganho mas com menos responsabilidade do que até agora, e com o máximo de respeito pela identidade própria do novo grupo de trabalho. E pessoalmente concluir o curso e procurar alhear-me um pouco da visibilidade que a presidência da AAUBI me trouxe.

U @ O- Continua a representar os alunos no Conselho Nacional de Educação?
VC-
Sim. Essa é a linha de trabalho que vou continuar. Menos apaixonante e mais distante daquilo que é a realidade, mas é também uma forma de eu próprio aperfeiçoar os conhecimentos dentro das matérias em que vou trabalhar e continuar a representar os estudantes, mantendo o papel interventivo em relação à política educativa que existe.

U @ O- Que medidas vai apresentar no CNE?
VC-
Tomei posse este mês e ainda não me pude dedicar a esse assunto em profundidade. Tenho apenas definidos para mim alguns conceitos, não sou um técnico nestas matérias, portanto a minha intervenção tem que ser de acordo com aquilo que se fala nas cantinas, nas residências, nas salas de aula e nos corredores. É esse o discurso que tem que ir para o Conselho Nacional de Educação. Não podemos continuar à espera que as coisas se resolvam por si mesmas, e a educação tem sido um assunto demasiadas vezes adiado.

U @ O- De que forma podem a AAUBI e a cidade interagir para progredir em conjunto?
VC-
Eu acredito que este seja um processo demorado. A Covilhã é uma cidade intimamente ligada aos lanifícios, com uma grande tradição operária e que sempre viveu virada para esse sector muito específico. Hoje é uma cidade em desenvolvimento, um processo difícil muito ligado aos estudantes. Mas, mais tarde ou mais cedo, vai dar em casamento. A AAUBI, em todas as suas direcções, sempre manteve essa abertura em relação à cidade. A Universidade trouxe vida a esta cidade e permitiu mesmo a sua diversificação. Também em relação à componente humana, as pessoas já sentem que os estudantes fazem parte da cidade. Embora de parte a parte existam problemas não resolvidos, como a incompreensão da cidade em relação à animação da camada jovem e alguma falta de honestidade, por exemplo em relação a várias situações de alojamento dos estudantes. Não se atingiu para já o desejável, mas o casamento está para breve.

 
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