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José Geraldes*


Todos culpados

É impossível evitar o assunto. A violência e a falta de autoridade na escola são temas obrigatórios de conversa entre professores e entre pais. O comportamento dos alunos preocupa todos quantos se sentem responsáveis pelo futuro das novas gerações.
Ninguém encontra a solução que se impõe. Uns ficam-se pela lamentação do costume, outros atribuem culpas à sociedade.
E o problema não é só português. Aqui também entra a globalização. Luc Ferry, presidente desde 1993, do Conselho Nacional de Programas do Ministério da Educação francês diz: "Hoje, os estudantes questionam tudo. Quando um professor de francês lhes diz "vamos ler Flaubert" se isso não lhes interessa, rejeitam. Perante isto há duas atitudes: ou faz-se demagogia, para agradar aos alunos, o que condeno, ou mantém-se autoritariamente os programas. Esta atitude pode levar os estudantes a rejeitá-los, pura e simplesmente. E observa: "Verifica-se em toda a Europa uma falta de legitimidade, de autoridade, no sentido nobre do termo, do que é ensinado na escola". Luc Ferry concretiza: "A cultura dos adultos deixou de ter uma legitimidade evidente para as crianças e os jovens".
Qual a solução? O presidente do Conselho Nacional francês enfatiza: "O problema número um é o da autoridade. Acontece com os professores o mesmo com os políticos. Ambos têm um poder muito limitado: pelo exterior (globalização) e pelo interior (media). Um ministro pode ser verdadeiramente desestabilizado por um artigo de jornal. Preferia que os políticos tivessem o direito de serem impopulares com tempo para aplicar as reformas. Julgá-los-íamos depois. O tempo da política é muito longo e o da vida mediática muito curto". Eis um diagnóstico completo. Quem contém elementos de reflexão a desafiar pais, professores, políticos e agentes educativos. Elementos referidos por quem o saber é de "experiência feito".
Sem o mínimo de autoridade, toda a educação cai por terra. E não há formação que se possa levar a bom termo. A educação vai para além da simples instrução. Por isso, importa ajudar as famílias a promover o desenvolvimento dos filhos. Aos professores incumbe a tarefa, como anota Daniel Sampaio, conhecido especialista, de saber detectar sinais de alarme tais como as fugas de casa, o consumo de álcool e drogas, o isolamento, as faltas às aulas, os maus resultados escolares e a alteração do comportamento normal. O professor deve funcionar como educador e não como mero transmissor de conhecimentos.
Os valores surgem naturalmente na ordem das prioridades educativas. O culto da verdade, o conceito e o uso correcto da liberdade, a formação para a solidariedade, a descoberta das razões de viver e a procura de um ideal constituem um programa imprescindível para a sociedade de amanhã.
No Séc. XIX, já o filósofo americano John Dewey, atribuía o fracasso da educação ao facto de desprezar o princípio segundo o qual a escola é uma forma de vida da comunidade. Hoje todos os agentes educativos estão de acordo com este princípio. A escola tem de ser uma aprendizagem para a vida em comum. De outra forma, a sociedade pode orgulhar-se de super-intelectuais mas pobres de valores humanos. E quem conhece ou se dá ao trabalho de conhecer a escola?
Jacques Maritain, filósofo francês de renome, põe em causa determinadas pedagogias que em vez de contribuirem para a formação do homem, negam os objectivos da escola. E aponta os sete fracassos dessas pedagogias. Em primeiro lugar Maritain cita a ignorância dos fins da educação. Nesta linha de pensamento, o segundo fracasso consiste em dar o predomínio à ciência sobre a sabedoria. O pragmatismo utilitarista que faz equivaler o útil ao verdadeiro é o terceiro fracasso, segundo o filósofo. O quarto chama-se sociologismo reducionista, pois converte a educação em formação só de cidadãos. O intelectualismo, ou seja equiparar a educação à instrução com primazia do intelectual sobre o espiritual, é, para Maritain, o quinto fracasso.
O sexto tem o nome de voluntarismo que apela ao irracionalismo. E finalmente a informação que acumula dados e conhecimentos em vez de formação que estimula a atitude crítica. Contra estes sete fracassos, Maritain propõe uma educação integral baseada no humanismo personalista. Note-se que, em face dos desvarios que por aí pululam sobre a finalidade da educação, especialistas modernos começam a reconhecer que é necessário centrar toda a educação na pessoa humana.
Para alcançarem este objectivo, os pais e os professores não se devem demitir dos seus deveres e alienarem culpas uns para os outros. Nem para a violência que passa na televisão nem para o ambiente das escolas. É verdade que a violência televisiva tem influência mas a imagem negativa da escola é perniciosa.
Receitas mágicas não existem para resolver nenhum problema. Mas se a autoridade falta em casa, se não se ensinam na família boas maneiras, como impedir que um aluno ponha os pés em cima da secretária do professor ou agrida o próprio professor. E acabe a invocação do clima social para justificar a consciência.
Todos somos culpados. Cada um, no sector que lhe compete, assuma as suas responsabilidades. E não atribuamos ao 25 de Abril culpas que não tem. A pergunta a fazer é esta: que pais, que professores e educadores somos?


*NC / Urbi et Orbi






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