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Director
de curso comenta relatório da CAE
"Comunicação
não é papel e lápis"
POR RAQUEL FRAGATA
Urbi @ Orbi - Uma das críticas
generalizadas aos diversos cursos é a falta de docentes
especializados e equipas muito reduzidas de docentes da área
da Comunicação. Não sendo a UBI referida
entre as piores, como vê este problema?
José Manuel Santos
- No que diz respeito
ao problema da falta de docentes especializados nos cursos de
comunicação, não se pode dizer que a CAE
considere o caso da UBI "preocupante". Não há
nenhuma observação deste género no relatório.
Há, neste aspecto, nas universidades públicas (as
únicas avaliadas pela CAE), casos muito preocupantes,
nos quais, felizmente, não se encontra o curso da UBI.
Dito isto, não há dúvida que a equipa de
docentes é relativamente pequena. Isto por duas razões.
A primeira é devida ao facto de o número de alunos
do curso, por razões demográficas e da situação
geográfica da universidade, ser baixo, em comparação
com os números de alunos das universidades de Lisboa ou
do Minho. Na medida em que o número de docentes é
calculado em função do número de alunos,
este factor prejudica as universidades e os cursos pequenos,
que não podem ter equipas tão numerosas como os
grandes. A segunda é devido ao facto de ainda não
estarmos a cumprir o rácio de 1 docente para 12 alunos.
No entanto, é preciso frisar que, neste momento, as condições
pedagógicas são bastante melhores em cursos como
o da UBI, com um total de 230 alunos e um numerus clausus de
45 alunos a entrarem no primeiro ano, do que em cursos com 400,
500 ou mais alunos. Nestes últimos há casos de
turmas muito grandes (com 100, 150 ou mesmo mais de 200 alunos),
e foi para estes casos que a CAE chamou a atenção.
U@O - A CAE conclui que nenhuma
universidade está a cumprir os rácios docente/aluno
recomendados pelo ministério. Que solução
pensa vir a dar a este problema?
JMS - É preciso precisar que não há
nenhuma "lei" relativa ao rácio dos cursos.
O que há é a utilização de um rácio
na fórmula que o ministério usa para calcular os
orçamentos das universidades. No caso dos cursos de comunicação
o rácio previsto na fórmula é de um docente
para 12 alunos. Neste momento não há nenhum curso
de comunicação das universidades públicas
que respeite este rácio, havendo, ao mesmo tempo, outros
cursos que têm mais docentes que os previstos pelos respectivos
rácios, em detrimento dos cursos de comunicação.
Isto significa que há, em toda a parte, uma distorsão
que conviria corrigir. Esta situação deve-se, entre
outras coisas, ao facto de os cursos de comunicação
serem de data muito recente e não terem, portanto, dentro
das instituições o peso - ou em termos mais claros:
o poder - dos cursos que existem, em certos casos, desde há
séculos. No caso específico da UBI, penso que,
no que toca ao corpo docente, a situação, apesar
de não ser ainda a ideal, não é, comparativamente,
das mais graves. Em todo o caso, penso que ela não está
a afectar as condições de ensino. Neste momento
não temos turmas de 100 alunos. No passado isto só
aconteceu em disciplinas que eram dadas em simultâneo a
alunos de dois cursos, como por exemplo a disciplina de Epistemologia.
Este ano, contudo, esta cadeira foi desdobrada: fez-se uma turma
para os alunos de sociologia e outra para os de comunicação.
Por conseguinte, a regra no curso são turmas de 40 a 50
alunos, número que me parece razoável, excepto
se se trata de aulas laboratoriais, como no caso dos Ateliers.
Mas neste caso desdobrámos as turmas em grupos pequenos.
Quanto ao problema dos equipamentos técnicos, aí
já me parece existir um real problema. De uma forma geral
houve responsáveis (em todas as universidades avaliadas
pela CAE) que cafram na tentação de pensar que
os cursos de comunicação eram cursos de "papel
e lápis", que não exigiam investimentos em
equipamentos especiais. Este relatório tem pelo menos
o mérito de chamar a atenção dos responsáveis
pelos orçamentos universitários para o facto de
as coisas não serem assim, para o facto de os cursos de
comunicação, para terem cfredibilidade, exigirem
investimentos consideráveis em equipamentos e em pessoal
técnico. Neste aspecto são cursos comparáveis
aos de engenharia ou de bioquímica, que exigem investimentos
em laboratórios e em técnicos de apoio. No caso
da UBI estou de acordo com as críticas e recomendações
do relatório da CAE: é preciso fazer um esforço
para melhorar as condições de ensino em termos
de equipamentos técnicos e de espaços para esses
equipamentos. Sempre chamei a atenção dos responsáveis
para esta necessidade. Penso que, no próximo ano lectivo,
caso se faça a transferência do curso para o Pólo
I, como se prevê, as condições, em termos
de espaço, serão substancialmente melhoradas. Quanto
aos equipamentos, espero que esta transferência também
permita uma melhoria significativa. Como é sabido, no
edíficio Ernesto Cruz, a simples exiguidade do espaço
disponível (no chamado "atelier") já
não permitiria qualquer alargamento do parque de equipamentos.
As duas questões, a do espaço ea dos equipamentos,
estão, pois, relacionadas e vou-me pronunciar, nos orgãos
em que estou, para que sejam resolvidas, a bem do prestígio
que este curso já ganhou fora da UBI.
U@O - Os fundos bibliográficos,
e a inexistência de uma hemeroteca, foram especialmente
criticados. Já em 96, afirmou a intenção
de resolver essa situação através da criação
de uma sala de imprensa. O que foi feito?
JMS - As questões da biblioteca e da hemeroteca
são das que mais me preocupam enquanto director do curso.
No caso da hemeroteca, uma sala de jornais e revistas nacionais
e estrangeiros, ela nem sequer existe. O facto de a UBI não
ser a única universidade pública em que existe
a situação incrível de haver um curso de
comunicação a funcionar e os alunos não
poderem ler um único jornal diário nacional, não
é suficiente para me consolar. Isto é a mesma coisa
que haver um curso de química numa universidade, e vai
lá uma comissão de Avaliação que
não encontra um único frasquinho de ácido
sulfúrico! Tem razão em referir que em 1996 eu
disse aos alunos que o problema iria ser resolvido. No entanto,
apesar de ter sempre chamado a atenção dos responsáveis
da universidade para este problema grave do curso, ele ainda
não foi resolvido por falta de verbas e de espaço
na biblioteca da Ernesto Cruz. O espaço desta biblioteca
já é muito insuficiente para os - poucos - livros
que lá estão, e para o número de alunos
do Pólo IV. Dou, pois, toda a razão à Senhora
Bibliotecária, que considera que seria praticamente impossível
lá colocar jornais diários e semanários.
Por conseguinte, também no que diz respeito ao problema
da hemeroteca, faço votos que se encontre uma solução
- ou seja: espaços e verbas - com a transferência
do curso para o Pólo I.
No que diz respeito à questão da Biblioteca, a
situação da UBI é , sem dúvida, a
mais preocupante, ou seja a pior, entre as universidades visitadas
pela CAE. Isto porque nas outras universidades existe um fundo
que se constituiu durante décadas, ou mesmo séculos
(como na Universidade de Coimbra), e na UBI começa-se
do zero. Para além de haver, aqui, a tendência,
tal é, pelo menos a minha impressão, para considerar
a questão da biblioteca como secundária e de pouca
importância. Por outro lado, nas outras universidades desde
há muito que há cursos de letras e ciências
humanas, que há, em cada uma delas, milhares de alunos
e centenas de professores de letras e ciências humanas,
e que a UBI começou, sobretudo, com cursos de engenharia,
estando as letras, neste momento, ainda em fase de formação.
Na Universidade do Minho, que também é de criação
recente, já existe uma excelente biblioteca na área
das ciências humanas. Isso deve-se não só
à existência de muitos cursos e alunos desta área,
mas igualmente ao empenho dos mais alto responsáveis dessa
universidade para criar uma boa biblioteca. Ter ou não
ter uma boa biblioteca é uma opção financeira
de grande peso, e, por conseguinte, de política universitária.
Os livros são muito caros! Uma biblioteca em condições
exige muito dinheiro!
A ausência total de revistas científicas da área
da comunicação na biblioteca da UBI é suficiente
para dar uma ideia da gravidade dos problemas. O atraso e as
lacunas da nossa biblioteca são tais que a UBI tem de
fazer um esforço financeiro excepcional e hercúleo,
se quiser dar condições mínimas da trabalho
(já nem sequer falo de condições ideais...)
a alunos, docentes e investigadores da área das ciências
humanas, e, no caso do nosso curso, da comunicação.
Há, neste capítulo, dois mitos que é preciso
destruir. O primeiro é o dos que dizem que os cursos de
letras ou ciências humanas são baratos. Se tivermos
em conta que para tais cursos são precisos livros, livros
e mais livros, não são. Certos livros universitários
podem custar 50 contos ou mais, e são absolutamente indispensáveis
numa boa biblioteca. Nos cursos de letras e ciências humanas
os laboratórios são as bibliotecas; e os livros
para encher as bibliotecas são tão caros como o
material de recheio dos laboratórios de química
ou de engenharia.
O segundo mito é o de com a internet basta "clicar"
e se tem o texto desejado, seja ele qual for. Deixaria de ser
necessário gastar dinheiro com livros. Quem diz uma coisa
destas não tem a mais pequena ideia da realidade. Nas
disciplinas que lecciono não deve haver um único
texto da bibliografia por mim recomendada que esteja na internet.
Os textos acessíveis "on line" são uma
ínfima minoria. O livro é, e vai continuar a ser,
um instrumento de tarbalho indispensável das ciências
humanas. Uma prova disto é que, apesar do desenvolvimento
das tecnologias, e dos investimentos das bibliotecas nestas tecnologias,
todas as grandes bibliotecas universitárias continuam
a investir em livros. As tecnologiaas de rede são sem
dúvida úteis para a pesquisa bibliográfica;
no entanto, a matéria-prima livro é insubstituível
por estas tecnologias.
U@O - Uma das críticas
da CAE foi que estes continuam a ser "cursos de papel e
caneta, onde o uso do computador não é generalizado,
e há um enorme atraso na adopção das novas
tecnologias". Depois da reestruturação do
curso da UBI, foi retirada a disciplina de informática
e esta é actualmente uma das lacumas da licenciatura.
Concorda com esta perspectiva?
JMS - O currículo do curso de comunicação
da UBI foi considerado pela CAE como bastante bom e equilibrado.
As críticas que refere, como a do "demasiado teórico"
foram feitas na generalidade e não dizem muito respeito
ao curso da UBI. (Quando se fala na generalidade, há sempre
excepções que escapam ao que se diz). No que diz
respeito ao caso específico da disciplina de informática,
o rlatório da CAE considera que ela nem sequer deve existir
num curso de comunicação. A CAE considera que,
hoje em dia, os conhecimentos gerais relativos à utilização
de computados tipo PC já estão de tal modo generalizados
que não se justifica uma cadeira especiífica de
informática num curso de comunicação. Caso,
apesar de tudo, ainda haja alunos sem conhecimentos básicos
nesta matéria, eles devem ser fornecidos num regime extra-curricular.
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