.


.

 


José Geraldes*


Entre a família
e o doutoramento

Aonde vai família? Este é o título de um livro de Carlo Maria Martini, Cardeal-Arcebispo de Milão. Livro que aborda os principais desafios que se colocam hoje à instituição familiar.
O tema concentra a atenção do público nestas duas semanas. No passado dia 15, segunda-feira, a ONU celebrou o Dia Internacional das Famílias. A Igreja Católica, em Portugal, promove, pela sexta vez, a Semana da Vida. Trata-se de uma oportunidade para equacionar questões que a todos dizem respeito.
Kofi Annan, secretário-geral da Organização das Nações Unidas, vai direito ao problema, ao falar da importância da estrutura familiar para as crianças: "É no seio da família que as crianças podem aprender valores positivos que as guiarão durante o resto da vida. É também no seio da família que as pessoas podem aprender lições essenciais sobre a igualdade, a tolerância e a partilha de responsabilidades". Aliás, o tema proposto para o III Encontro Mundial das Famílias, em Roma, em Outubro próximo incide precisamente sobre os filhos, Primavera da família e da sociedade.
Há dez anos, João Paulo II já dizia que "a sociedade de amanhã será o que hoje for a família".
É um facto que as mudanças sociais influiram as formas de encarar a família. Mas todos os estudos demonstram claramente que a família é indispensável para a sociedade. E a Igreja considera a família como célula-base da vida social.
Muitas causas contribuiram para a evolução familiar. A secularização do casamento e a dessacralização do vínculo matrimonial são as principais. Mas há que referir a influência da televisão em muitos comportamentos.
A família perdeu o monopólio da socialização dos jovens. Outras instituições meteram-se de permeio. E o aumento dos divórcios criou diferentes modelos de família. Mas, nos inquéritos de opinião, o valor-família permanece sempre como uma referência. Mais: a família é sentida como o verdadeiro lugar onde se recebem os valores a que se refere o secretário-geral da ONU.
A vivência dos afectos de que tanto se fala, faz-se, em profundidade, na família. Há sociólogos que dizem mesmo "ter-se a família transformado num espaço eminentemente afectivo". O afecto, nestes tempos de egoísmo e solidão escondida, parece como bússola na vida. E o afecto leva à comunhão de responsabilidades e à partilha de tarefas.
Os filhos potenciam os afectos e criam laços fundamentais para a solidez familiar. As famílias numerosas, no entanto, passam a ser excepção. Em Portugal, segundo os últimos dados da INE (Instituto Nacional de Estatística), a média é de 2,1. Só 13 por cento das famílias portuguesas têm três ou mais filhos. É nas classes abastadas e menos favorecidas que encontramos proles numerosas. A classe média urbana tende para dois filhos.
Registe-se o testemunho de uma mãe de 12 filhos, Teresa Cunha: "Os filhos são importantíssimos. E eu, entre a carreira e a família, escolhi a família e não me arrependo. A minha realização é esta. "Toca-se" a vida nos filhos mais do que nos doutoramentos. Acrescente-se que Teresa Cunha, é doutorada.
O filósofo inglês Francis Bacon escreveu que "os filhos aumentam os cuidados da vida mas ao encher a vida, atenuam a recordação da morte". Ou seja preenchem um vazio que se pode instalar entre marido e mulher.
Aonde vais Família? A pergunta de Carlo Maria Martini deve levar-nos à reflexão sobre o papel da família na sociedade actual. E como pode evitar todas as formas de exclusão. E ser criadora de futuros mais radiosos. E promessa de novos amanhãs que cantam.

*NC / Urbi et Orbi






.

 Primeira Ubi  Covilhã  Região  em ORBita  Cultura  Desporto Agenda