Entre a família
e o doutoramento
Aonde vai família? Este é o título de um
livro de Carlo Maria Martini, Cardeal-Arcebispo de Milão.
Livro que aborda os principais desafios que se colocam hoje à
instituição familiar.
O tema concentra a atenção do público nestas
duas semanas. No passado dia 15, segunda-feira, a ONU celebrou
o Dia Internacional das Famílias. A Igreja Católica,
em Portugal, promove, pela sexta vez, a Semana da Vida. Trata-se
de uma oportunidade para equacionar questões que a todos
dizem respeito.
Kofi Annan, secretário-geral da Organização
das Nações Unidas, vai direito ao problema, ao
falar da importância da estrutura familiar para as crianças:
"É no seio da família que as crianças
podem aprender valores positivos que as guiarão durante
o resto da vida. É também no seio da família
que as pessoas podem aprender lições essenciais
sobre a igualdade, a tolerância e a partilha de responsabilidades".
Aliás, o tema proposto para o III Encontro Mundial das
Famílias, em Roma, em Outubro próximo incide precisamente
sobre os filhos, Primavera da família e da sociedade.
Há dez anos, João Paulo II já dizia que
"a sociedade de amanhã será o que hoje for
a família".
É um facto que as mudanças sociais influiram as
formas de encarar a família. Mas todos os estudos demonstram
claramente que a família é indispensável
para a sociedade. E a Igreja considera a família como
célula-base da vida social.
Muitas causas contribuiram para a evolução familiar.
A secularização do casamento e a dessacralização
do vínculo matrimonial são as principais. Mas há
que referir a influência da televisão em muitos
comportamentos.
A família perdeu o monopólio da socialização
dos jovens. Outras instituições meteram-se de permeio.
E o aumento dos divórcios criou diferentes modelos de
família. Mas, nos inquéritos de opinião,
o valor-família permanece sempre como uma referência.
Mais: a família é sentida como o verdadeiro lugar
onde se recebem os valores a que se refere o secretário-geral
da ONU.
A vivência dos afectos de que tanto se fala, faz-se, em
profundidade, na família. Há sociólogos
que dizem mesmo "ter-se a família transformado num
espaço eminentemente afectivo". O afecto, nestes
tempos de egoísmo e solidão escondida, parece como
bússola na vida. E o afecto leva à comunhão
de responsabilidades e à partilha de tarefas.
Os filhos potenciam os afectos e criam laços fundamentais
para a solidez familiar. As famílias numerosas, no entanto,
passam a ser excepção. Em Portugal, segundo os
últimos dados da INE (Instituto Nacional de Estatística),
a média é de 2,1. Só 13 por cento das famílias
portuguesas têm três ou mais filhos. É nas
classes abastadas e menos favorecidas que encontramos proles
numerosas. A classe média urbana tende para dois filhos.
Registe-se o testemunho de uma mãe de 12 filhos, Teresa
Cunha: "Os filhos são importantíssimos. E
eu, entre a carreira e a família, escolhi a família
e não me arrependo. A minha realização é
esta. "Toca-se" a vida nos filhos mais do que nos doutoramentos.
Acrescente-se que Teresa Cunha, é doutorada.
O filósofo inglês Francis Bacon escreveu que "os
filhos aumentam os cuidados da vida mas ao encher a vida, atenuam
a recordação da morte". Ou seja preenchem
um vazio que se pode instalar entre marido e mulher.
Aonde vais Família? A pergunta de Carlo Maria Martini
deve levar-nos à reflexão sobre o papel da família
na sociedade actual. E como pode evitar todas as formas de exclusão.
E ser criadora de futuros mais radiosos. E promessa de novos
amanhãs que cantam.
*NC / Urbi et Orbi |