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Edmundo Cordeiro |
A festa da Taça
O Sporting, contra marés e marinheiros, mas também
com a sorte que protege os campeões, acaba por ser o justo
vencedor deste campeonato, campeonato que é, simbólica
e efectivamente, o primeiro do dealbar do ano 2000. Cedo o vaticinei,
quando muitos, esteados é certo num passado de 18 anos
de reveses para os apaniguados das bandas de Alvalade, se recusaram
a admiti-lo. Importa não esquecer que tudo isto é
o fruto de um projecto bem estruturado que veio a ter o seu corolário
numa caminhada decidida para o título, ainda que não
isenta de sinuosidades, mormente no início de época,
por parte de uma equipa esforçada e voluntariosa que soube
por vezes arranjar forças onde faltava a técnica
e, não menos importante, facturar quando as ocasiões
se proporcionaram. Há agora que dar os parabéns
aos rapazes, que tiveram em Inácio um comandante à
altura, o qual, nas horas de maior indecisão e adversidade,
que as houve, soube cerrar fileiras e manter sempre unido um
balneário que no início aparentava e exibia inúmeras
fragilidades, não menos importantes as de índole
psicológica (não esquecer a era Materazzi e, extra-futebol
- mas até que ponto? -, os problemas entre a Sporting
SAD e a Sporting SGPS, constituindo estes ainda arestas a limar
para o futuro). E com Inácio a equipa soube dar a volta
aos acontecimentos, ele que não é pessoa de andar
em bicos dos pés nem a fazer alarido.
Quando no início do campeonato, repito, eu tinha lançado
que o Sporting iria ser campeão, logo alguns vociferaram
impropérios sobre o elevado grau de imponderabilidade
de prognósticos desse jaez. É certo que os prognósticos
são sempre um exercício altamente especulativo,
mas é necessário recordar também que o Sporting
era e é tradicionalmente, e por mérito próprio,
um dos três crónicos candidatos ao título.
Além do mais, todo mundo sabia de antemão do tão
propalado projecto a longo termo da Sporting SAD, exemplarmente
personificado na pessoa do Dr. José Roquette, que o gizou
de raiz. E quando, a meio da época, voltei a insistir
na mesma tecla, ressalvando no entanto que este campeonato estava
nivelado por baixo, referenciando mesmo que os dados estavam
lançados, mais a mais quando o síndrome natalício
estava, à evidência, definitavamente debelado (ou,
pelo menos, no que a este campeonato, e na circunstância,
dizia respeito), logo de todos os lados não se coibiram
de me apelidar de aprendiz de feiticeiro
"Quando estou
menos seguro de mim, tenho uma visão do mundo que se assemelha
a uma dança de cadeiras, mas sem a menor graça,
por não ter suspense, sendo só uma enfadonha repetição
interminável, onde os que ficam vivos se sentam nos lugares
antes ocupados pelos mortos. É como se no mundo não
houvesse lugar para todo mundo e estar vivo não eliminasse
a possibilidade de longos e longos anos na fila de espera até
aparecer uma vaguinha. É só uma intuição
esotérica, uma fantasia, mas que vem se confirmando comigo
"
Hoje, sentado no café - o castelo ali à frente
-, quando abria "As Iniciais", de Bernardo de Carvalho,
caiu-me em cima da cabeça o quadro (quem o pintou?) "A
Night of Passion Near Rondane", Norway (140.000 esc.). Doeu-me
imenso. |
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