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tidal

 

                                                                              POR PEDRO JESUS

 

A secção do disco desta semana apresenta-se em moldes ligeiramente diferentes dos habituais, já que em vez de um, serão apresentados dois álbuns. A excepção poderia justificar-se por uma mão cheia de razões, todavia um único facto resume esta opção: tratar-se dos dois únicos registos editados por uma das mais promissoras intérpretes femininas da actualidade, Fiona Apple. O adjectivo "promissora" é aqui utilizado de forma quase abusiva, já que não deveriam ser atribuídas reservas a quem publicou obras do calibre de Tidal (de 1996) e When the Pawn (editado em Portugal e nos restantes países europeus no passado mês de Fevereiro).
Dona de uma beleza algo selvagem, a magríssima cantora e pianista editou em plena adolescência o álbum Tidal, um conjunto de dez temas que respiram uma atitude de autopunição e desencantamento amoroso. O reconhecimento crítico foi imediato, pelo que Fiona Apple conseguiu a proeza de conquistar prémios como o grammy para melhor tema rock e o prémio do canal VH1 para o melhor videoclip (ambos por Criminal), assim como um prémio do canal americano da MTV (por Sleep To Dream). Também o público rapidamente aderiu à sonoridade e ao carisma da jovem intérprete, que acabou por vender três milhões nos seus Estados Unidos natais. O seu público acaba mesmo por contemplar desde adolescentes que se revêm nas letras, até um público mais maduro, que aprecia a componente literária e instrumental dos temas.
O ano de 1999 viu regressar a intérprete à edição discográfica. Três anos volvidos sobre a edição do primeiro registo, e com 19 anos de idade, sai para as lojas um álbum que se convencionou chamar de When the Pawn, já que o título que Fiona Apple atribui ao registo foi o poema de cerca de 90 palavras que se encontra impresso no papel vegetal que cerca o folheto do álbum.
Em When the Pawn, a cantora imprime mais uma vez um cariz pessoal às suas letras, sempre escritas na primeira pessoa. A interpretação das mesmas continua a ser extremamente emotiva, realçando todo o esplendor vocal da artista. Para este segundo registo, Fiona Apple abriu ainda mais o seu leque de influências e trouxe para a sua música referências que passam pelo folk e pelo hip-hop. O alinhamento do disco é mais uma vez constituído por dez canções magistralmente interpretadas. É ponto assente que se a cantora não é mais prolífica das artistas, e tal deve-se à sua persistência em só editar material com o qual se identifique e do qual tenha orgulho. E este deve ser mesmo o sentimento que a percorre, quando se dedica à audição de brilhantes exemplos da arte de construir canções como são Fast as you can ou Paper bag. A descobrir rapidamente.

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