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Versos
POR PEDRO JESUS
"O
que distingue os poetas
Os faz diferentes da gente
É dizer em duas letras
O que toda a gente sente
... é esta limitação
Que Deus me deu a escrever
Que me enche o coração
De coisas para dizer"
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De entre todos os versos que completam
esta obra, as duas quadras transcritas eventualmente serão
das mais representativas relativamente ao conteúdo presente
nesta antologia. Na primeira quadra transparece a homenagem que
Amália presta aos (seus) poetas, tantas vezes divulgados
pela sua voz. A voz que arrancou as palavras aos livros e as
ofereceu a públicos pouco habituados ao universo da criação
poética. Já na segunda quadra é notória
a humildade própria de alguém que apesar de cedo
ter cantado os seus próprios escritos, nunca disso se
vangloriou e sempre o procurou ocultar.
Até surgir este Versos, o grande público reconhecia
a popular cantora como autora de alguns dos seus mais sentidos
poemas, casos de Grito e Lágrima, contudo desconhecia
que a artista escrevia com regularidade. Amália é
assim uma escritora - não pretendendo abusar deste termo
- muito especial, com poemas que se integram perfeitamente naquela
"estranha forma de vida" própria do Fado, numa
imensa tristeza que parece alimentar a alma de quem canta. Mas
também escreveu sobre as "coisas pequenas",
sobre aqueles pormenores que enriquecem a vida, mas que de tão
comuns serem, poucos são os que se lembram da sua existência.
É verdadeiramente enternecedor contactar com versos escritos
de uma forma quase pueril, e que versam sobre os insectos, sobre
as flores, ou sobre as práticas diárias das lavadeiras
ou dos pescadores.
Os escritos encontram-se divididos em duas grandes partes. Uma
primeira parte é respeitante aos poemas gravados e editados
em disco, enquanto todos os restantes são poemas dispersos
que Amália foi acumulando. Comum a todos os poemas, às
quadras e às cartas em poesia que constituem estes Versos
é a enorme sensibilidade da cantora, que a escrever sem
grandes pretensões, fá-lo com uma simplicidade
e uma sabedoria absolutamente desarmantes.
A fechar o livro encontramos ainda uma pequena biografia da artista.
Partindo do ano de 1920 e prolongando-se até ao ano de
1997, esta biografia deixa no leitor a noção de
quão grande foi o carisma, a alma, e principalmente a
voz de Amália Rodrigues. Uma voz que se elevou a todas
quantas existiam em Portugal e que aboliu as fronteiras que delimitam
a música portuguesa para encantar ouvintes em todo o mundo.
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