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Vasco Cardoso


O direito a participar

No final deste mês de Maio, dois anos após ter abraçado de corpo e alma o desafio de ser presidente da Associação Académica da Universidade da Beira Interior- AAUBI, irei por motivos meus, abandonar as tarefas que entretanto assumi. Trata-se somente da evolução natural quer da estrutura associativa que representei, que naturalmente necessita de novas ideias e novos rostos para a sua própria afirmação, quer da vida de um qualquer estudante que na sua passagem pela Academia cumpre o seu papel de participação cívica na defesa dos interesses dos seus pares. Não me conferindo tal compromisso, qualquer estatuto especial no que toca às matérias relacionadas com o Movimento Associativo Estudantil, pensei dedicar as linhas que gentilmente o " O Interior" me concede todos os meses, sobre essa realidade que me foi próxima ao longo dos últimos anos, isto é, a AAUBI.
Começaria por afirmar, que em primeira e última análise, estamos e estaremos sempre a falar de um movimento de estudantes que partilhando uma mesma condição se associam e promovem de forma organizada a resolução dos seus problemas, na satisfação das suas necessidades desportivas, culturais, de emprego e de afirmação social enquanto, movimento de consciências que têm algo a dizer à sociedade em que se inserem. É por esta razão que as Associações de Estudantes- AAEE`s existem e penso que AAUBI assume plenamente essa mesma condição.
Olhando para o interior do país, numa cidade relativamente pequena como é a Covilhã, e vejamos, que à semelhança do que acontece em Braga, Vila Real, Aveiro, Viseu, Évora, Faro e mesmo a Guarda, as verificamos que as AAEE`s acompanharam na sua grande maioria o rápido crescimento das suas Instituições de Ensino Superior ao longo dos últimos 20 anos, assumindo nestas cidades um dinamismo cada vez mais crescente, fruto em muitas circunstâncias, da tentativa de superar lacunas consideráveis que as mesmas cidades tinham e têm, em termos de infra-estruturas capazes de acolher grandes massas de população estudantil.
No entanto, as mesmas exigências não são postas ao trabalho associativo realizado nos grandes centro nomeadamente em Lisboa e no Porto (cidades cujo o ensino Superior não tem o efeito dinâmico que nas outras se verificam), com relação a Coimbra esta surge não só como modelo Associativo com largas décadas de experiência, como também, como paradigma de intervenção estudantil com ampla expressão social e sólida envolvência com o meio local.
A evolução natural destas estruturas em meios Académicos de média dimensão como é o caso da Covilhã, será no sentido de aumentarem cada vez mais a sua influência e intervenção nas cidades, nos seus ritmos, nos seus padrões de vida, na sua oferta cultural, na possibilidade de praticarem desporto e porque não nas suas tradições e ritos. Hoje, estas cidades já não são as mesmas, nem sem os seus estudantes, nem tão pouco sem as associações que os representam. A actual situação da AAUBI, é disso um exemplo crasso, uma estrutura que em cerca de dez anos cresceu exponencialmente quer na actividade que realiza, quer na expressão social que alcança. A AAUBI é hoje, com mais de 15 modalidades desportivas, com uma área de serviços e trabalho com mais de 700 m2, com iniciativas culturais e recreativas sem paralelo na região (movimentando quer largos milhares de pessoas quer largos milhares de contos), com 26 Núcleos de Estudantes e Culturais, com a possibilidade de vir a ter uma rádio nos próximos tempos, a maior estrutura associativa de carácter juvenil da Beira Interior. Este estatuto, conquistado fruto de muito trabalho tenderá certamente a ser fortalecido, pelo que me parece oportuno reflectir sobre um aspecto ou outro aspecto que poderão ser nocivos à Associação. Com efeito, este volume de actividade, de aumento substancial das diferentes valências que gradualmente se assumem, poderão implicar por um lado, a possibilidade que a gestão destas estruturas se torne de tal forma pesada que as Associações não se concentrem no seu papel e objectivo principal que lhes deu origem, isto é, a defesa inalienável dos interesses dos estudantes face ao ensino que aspiram e que têm direito, por outro, que as exigências do trabalho associativo não ascendam ao extremo de impedir por completo, que os estudantes que assumem essas tarefas não o possam compatibilizar com um percurso académico minimamente fluente, o que pode originar que alunos que não tenham condições financeiras para tal, estejam automaticamente afastados do envolvimento associativo que se quer mais e melhor representado e não elitizado.
Para evitar que qualquer destas circunstâncias surjam num cenário real, é importante não só que se apoiem as Associações na medida do seu papel e das suas necessidades, dotando-as de meios humanos e financeiros que lhes possibilitem o exercício cabal do seu papel, como também que existam instrumentos efectivos de apoio social que ponham em pé de igualdade todos os estudantes que desejem praticar nesse exercício de cidadania que é o associativismo estudantil. Para terminar, um registo público de tudo aquilo que tive oportunidade de aprender e conhecer com esta experiência, cuja riqueza não estou certo de ter explorado o suficiente, mas pelo processo de valorização humana, quer individual, quer colectiva que me possibilitou, fiquei certo de que todos os estudantes deveriam ter a possibilidade de exercer este direito de participar!





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