Fátima
e a beatificação dos pastorinhos
O dia 13 de Maio de 2000 vai ficar na história do cristianismo
em Portugal, como um marco de referência inevitável.
A vinda do Papa João Paulo II expressamente para a beatificação
dos pastorinhos videntes Jacinta e Francisco é o sinal
máximo de credibilidade para Fátima.
O facto da beatificação aprovada, pelo Vaticano
com base num milagre demonstrado pela ciência médica
já impõe só por si as aparições
da Cova da Iria, sem qualquer margem para ambiguidades. Embora
se trate de aparições privadas, mesmo sem explicitação
como dogma, a aprovação oficial da Igreja e a presença,
primeiro, de Paulo VI a 13 de Maio de 1967, e agora pela terceira
vez de João Paulo II, são elementos que desfazem
todas as dúvidas.
Os críticos continuarão a existir. E há
pessoas que se tornaram incapazes de compreender a fé
dos milhares de peregrinos que anualmente se deslocam a Fátima.
D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa tem razão
quando fala de "análises tendenciosas". E é
de lembrar a resposta daquela mulher que, de joelhos, cumpria
a sua promessa, a uns pergunta de D. Manuel Vieira Pinto, actual
Arcebispo de Nampula:- "Não foi a você que
fiz a promessa".
Agora tornou-se moda criticar Fátima. Uns porque confundem
Fátima e o comércio. Outros porque são avessos
à religiosidade popular ilustrada pelas multidões
que acorrem ao Santuário. E ainda há um terceiro
grupo que, sem bases científicas, se limita a denegrir
Fátima, comparando a "Senhora mais brilhante que
o sol", a deusas antigas.
Paul Claudel, exímio diplomata francês poeta e reconhecido
autor de peças de teatro, tem uma expressão que
deita por terra a teoria da conspiração de tais
críticos: "Fátima é a explosão
do sobrenatural". Após a implantação
da República em 1910, Afonso Costa profetizou que "antes
de duas gerações, a religião teria desaparecido
de Portugal." Enganou-se redondamente. E Fátima foi
a resposta mais cabal à sua profecia.
A mensagem de Fátima é plenamente evangélica.
E centra-se no chamamento à Conversão e à
penitência como Jesus Cristo anunciou. O que Maria Comunicou
aos pastorinhos tem fundamento bíblico e teológico
na sua totalidade: o amor, a misericórdia, a salvação,
o pecado, o céu, o inferno, a Eucaristia, a oração,
a Igreja, o lugar do Papa, o seu magistério e a preocupação
com os outros.
Muito se tem especulado sobre o terceiro segredo de Fátima
guardado em Roma que, no dizer do Patriarca de Lisboa, pode ser
objecto de divulgação pelo Papa na beatificação
dos pastorinhos. O Cardeal Ratzinger, presidente da Congregação
para a doutrina da Fé (o equivalente a um ministro no
governo) comenta: "Não se trata de um acontecimento
da história futura.(
). A Senhora não aponta
pormenores sobre o futuro nem Se ocupa da grande história
do mundo mas procura antes ajudar no caminho da fé".
A beatificação de Jacinta e Francisco põe
em evidência modelos a imitar na fé e dignos de
veneração e intercessão. As suas virtudes
são oficialmente reconhecidas pela Igreja. E, como considera
D. José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação
para a causa dos Santos, apresentam valores" para o nosso
tempo. E o contributo de Lúcia foi importante. Diz o Prefeito:
"Lúcia pôs em relevo o modo de ser e de se
comportar antes, durante e depois das aparições,
o seu progresso sempre crescente na vida espiritual e o seu modo
de viver verdadeiramente heróico". Mas - sublinha
- "a santidade é estritamente pessoal. Portanto,
a santidade de Jacinta é dela, a santidade de Francisco
é dele. Não têm nada a ver com a santidade
de Lúcia. Só Deus sabe se esta será beatificada".
A beatificação dos pastorinhos vai dar novo impulso
a Fátima. E um novo rosto ao Santuário que se transformou
em "altar do mundo". A ligação da própria
vida pessoal de João Paulo II a Fátima abre novos
caminhos não só ao culto mariano mas também
a uma revitalização da pastoral do Santuário.
Mesmo não crentes confessam, com honestidade, que ir a
Fátima não pode deixar ninguém indiferente.
*NC / Urbi et Orbi |