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A única saída alternativa à entrada principal é demasiado estreita para possibilitar uma fuga segura para 600 pessoas em caso de emergência

Fernando Pina Bicho:
"Teatro Cine deve pertencer à autarquia"

A Câmara Municipal da Covilhã quis, em tempos, comprar o Teatro Cine, mas os valores aventados na altura "não eram comportáveis pelo município". A situação acabaria por colocar o executivo perante a opção de construir um edifício de raiz para as mesmas funções: o Centro de Artes.
"As verbas envolvidas justificam claramente essa opção. Fazer de novo é mais rentável, e se calhar até mais económico", afirma João Esgalhado, vereador com o pelouro da Protecção Civil. O valor do imóvel ronda os 800 mil contos, montante apurado por uma avaliação encomendada pela edilidade ao Ministério das Finanças.
"Nunca avaliamos o edifício, mas confiamos na avaliação feita pelo Estado. Esse valor corresponde à totalidade do prédio. Ora, a venda seria apenas da sala de cinema", sublinha o proprietário. E conclui: "Não houve propriamente negociação para venda, e quando a Câmara mostrou interesse na compra os proprietários não disseram que não vendiam. Até porque eu, pessoalmente, acho que o Teatro Cine futuramente e tendencialmente deve pertencer à autarquia", reitera.
Quanto ao aluguer da sala de espectáculos, o representante dos herdeiros do Teatro adiantou que existem já negociações para a renovação do contrato, que termina em Dezembro deste ano, com a Câmara. O valor da renda é de 600 contos mensais. Entretanto, uma nova vistoria à sala foi recentemente requerida pela autarquia. Para já sabe-se que o processo se encontra com a vereadora da Cultura, Maria do Rosário Rocha, para avaliação.
Entretanto, resta aguardar que o novo complexo cultural - o Centro de Artes da Covilhã, que irá custar um milhão e 500 mil contos, em parte financiados pelo Ministério da Cultura e pelos fundos do III Quadro Comunitário de Apoio - entre em funcionamento. O projecto final, da autoria do arquitecto José Manuel Castanheira, deverá ser entregue à autarquia ainda este mês.



Teatro Cine peca na segurança
Obras precisam-se

POR RAQUEL FRAGATA

A mais antiga sala de espectáculos da cidade da Covilhã vive hoje momentos de solidão. O Teatro Cine outrora atraiu centenas de covilhanenses, hoje acolhe esporadicamente algumas encenações teatrais, dança e concertos.
O edifício data de 1954 e desde então manifesta degradação e desajuste em relação às actuais exigências no domínio da segurança.
O "jogo do empurra" entre a Câmara Municipal da Covilhã, entidade inquilina, e a família Pina Bicho, proprietária da sala, tem atrasado o processo de recuperação.

O vereador responsável pela Protecção Civil da Covilhã, João Esgalhado, admite que as condições de segurança do espaço não são totalmente satisfatórias, e que algumas das normas não estão a ser cumpridas. No entanto, entende que só suportando esse risco a Covilhã pode albergar as iniciativas de grande porte ali desenvolvidas. A autarquia é apenas inquilina da casa, e a hipótese de fazer obras no edifício, orçadas em várias dezenas de milhares de contos, está posta de parte. Tanto os Bombeiros Voluntários da Covilhã (BVC), como o representante da Inspecção Geral das Actividades Culturais (IGAC) na cidade partilham a mesma preocupação.

Saídas de emergência bloqueadas

O edifício do Teatro Cine foi construído há 46 anos e não tem sido alvo da manutenção normalmente exigida para este tipo de espaços. O sistema eléctrico da sala "é muito antigo e pouco seguro" face a possíveis casos de incêndio, e as saídas de emergência não estão activas. O espaço destinado a esse efeito está alugado ao "Quiosque Hermínios" e à loja de fotografia "Nova Cor". Assim, as saídas operacionais da sala limitam-se à porta principal e a uma outra nas traseiras, de acesso aos bastidores.
Para tornar o caso ainda mais complicado a sala, pela sua localização no primeiro andar, torna difícil o escoamento de pessoas para o exterior em caso de pânico. "Temos consciência de que o edifício apresenta um estado de degradação avançado, uma vez que não têm sido desenvolvidas, com frequência, obras de manutenção. Naturalmente que por isso há um desajustamento grande relativamente àquilo que são as exigências modernas no domínio da segurança", reconhece João Esgalhado.
Por outro lado, o representante dos proprietários, Fernando Pina Bicho, considera que a sala tem estruturalmente boas condições de segurança para abrir ao público. E alega que, quando em 1992, depois de aprovado por vistoria dos Bombeiros e da IGAC, iniciaram o contrato de cedência das instalações à Câmara Municipal, esta ficou responsável pela sua manutenção. "Depois da vistoria foram feitas algumas rectificações necessárias e o edifício foi aprovado. A partir daí a autarquia ficou contratualmente responsabilizada de assegurar o seu funcionamento e em cumprir os requisitos legais e administrativos", defende o representante legal dos proprietários.
"A sala tem um escoamento óptimo de pessoas. Tem muitas saídas, nomeadamente de acesso ao terraço. O facto de essas portas estarem trancadas não é da responsabilidade dos proprietários. A operacionalidade destas incumbe à exploradora do espaço, a autarquia."

Obras custam milhares

A Câmara Municipal da Covilhã encomendou um estudo relativamente a vários espaços públicos da cidade, o qual não chegou a ser executado devido à falta de técnicos especializados na região. "Queríamos um estudo objectivo e claro sobre quais seriam as medidas, dentro de razoabilidade, a tomar para um espaço deste género", refere João Esgalhado.
Mas, salienta, "para garantir 100 por cento de segurança são necessários volumes financeiros absurdos. Largas dezenas de milhares de contos". "Não é possível investir esse montante num espaço que nem sequer é da Câmara. As obras para instalar detectores de incêndio com disparo automático de água obrigam a rasgar todo o prédio e a construir um depósito. Para além da substituição da rede eléctrica e de toda a cablagem necessárias", explica.
O vereador afirma ter havido "uma vistoria informal" feita pelo comandante dos bombeiros, que alertou para "o estado perigoso em que se encontra o Teatro Cine". O comandante dos Bombeiros, José Flávio, escusou-se a falar no assunto, mas não corrobora esta versão. "A última vistoria ao edifício foi feita entre 1990 e 91", diz.

Bombeiros de prevenção

Consciente da situação, a edilidade solicita a presença dos Bombeiros Voluntários em todas as actividades por si desenvolvidas no Teatro Cine. "Para intervenções de menor monta requeremos para o local dois ou três homens de prevenção e o acompanhamento quase em permanência de um técnico de electricidade que previamente verifica a instalação e que na hora e durante o espectáculo está à disposição para, a todo o momento, intervir", garante o responsável pela Protecção Civil.
Como referencial de segurança foram instalados extintores de pó químico e está a processar-se uma renovação de alguma da rede eléctrica.
A Câmara cede o espaço a outras instituições culturais da cidade, como sejam o GICC e a Associação de Estudantes da UBI.
Quando confrontado com os acontecimentos do passado dia 13 de Março, em que a sala esgotou a sua capacidade para receber uma das apresentações integradas no ciclo de Teatro Universitário, afirma: "Desconheço se têm sido tomadas medidas neste sentido ou se têm, de facto, apenas usado o espaço como se ele estivesse no melhor estado de conservação". E continua: "Se os Bombeiros e técnicos estiverem presentes podem resolver o problema de imediato, não estando é mais complicado".
A sala pela sua natureza e estrutura apresenta elevados riscos de incêndio. O edifício foi antigamente uma sala de cinema, tendo produtos facilmente inflamáveis, como cortinas e sistemas de iluminação de palco e camarins, e o próprio armazém de materiais. "A opção que temos é ter a sala fechada e não realizar quaisquer espectáculos, ou então assumir alguns riscos que afinal existem nas grandes salas e nos bons espaços, e que aqui estão ligeiramente mais patentes e mais prementes", realça o vereador.







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