Teatro Cine peca na segurança
Obras precisam-se
POR RAQUEL FRAGATA
A mais antiga sala de
espectáculos da cidade da Covilhã vive hoje momentos
de solidão. O Teatro Cine outrora atraiu centenas de covilhanenses,
hoje acolhe esporadicamente algumas encenações
teatrais, dança e concertos.
O edifício data de 1954 e desde então manifesta
degradação e desajuste em relação
às actuais exigências no domínio da segurança.
O "jogo do empurra" entre a Câmara Municipal
da Covilhã, entidade inquilina, e a família Pina
Bicho, proprietária da sala, tem atrasado o processo de
recuperação.
O vereador responsável
pela Protecção Civil da Covilhã, João
Esgalhado, admite que as condições de segurança
do espaço não são totalmente satisfatórias,
e que algumas das normas não estão a ser cumpridas.
No entanto, entende que só suportando esse risco a Covilhã
pode albergar as iniciativas de grande porte ali desenvolvidas.
A autarquia é apenas inquilina da casa, e a hipótese
de fazer obras no edifício, orçadas em várias
dezenas de milhares de contos, está posta de parte. Tanto
os Bombeiros Voluntários da Covilhã (BVC), como
o representante da Inspecção Geral das Actividades
Culturais (IGAC) na cidade partilham a mesma preocupação.
Saídas de emergência
bloqueadas
O edifício do Teatro Cine foi construído há
46 anos e não tem sido alvo da manutenção
normalmente exigida para este tipo de espaços. O sistema
eléctrico da sala "é muito antigo e pouco
seguro" face a possíveis casos de incêndio,
e as saídas de emergência não estão
activas. O espaço destinado a esse efeito está
alugado ao "Quiosque Hermínios" e à loja
de fotografia "Nova Cor". Assim, as saídas operacionais
da sala limitam-se à porta principal e a uma outra nas
traseiras, de acesso aos bastidores.
Para tornar o caso ainda mais complicado a sala, pela sua localização
no primeiro andar, torna difícil o escoamento de pessoas
para o exterior em caso de pânico. "Temos consciência
de que o edifício apresenta um estado de degradação
avançado, uma vez que não têm sido desenvolvidas,
com frequência, obras de manutenção. Naturalmente
que por isso há um desajustamento grande relativamente
àquilo que são as exigências modernas no
domínio da segurança", reconhece João
Esgalhado.
Por outro lado, o representante dos proprietários, Fernando
Pina Bicho, considera que a sala tem estruturalmente boas condições
de segurança para abrir ao público. E alega que,
quando em 1992, depois de aprovado por vistoria dos Bombeiros
e da IGAC, iniciaram o contrato de cedência das instalações
à Câmara Municipal, esta ficou responsável
pela sua manutenção. "Depois da vistoria foram
feitas algumas rectificações necessárias
e o edifício foi aprovado. A partir daí a autarquia
ficou contratualmente responsabilizada de assegurar o seu funcionamento
e em cumprir os requisitos legais e administrativos", defende
o representante legal dos proprietários.
"A sala tem um escoamento óptimo de pessoas. Tem
muitas saídas, nomeadamente de acesso ao terraço.
O facto de essas portas estarem trancadas não é
da responsabilidade dos proprietários. A operacionalidade
destas incumbe à exploradora do espaço, a autarquia."
Obras custam milhares
A Câmara Municipal da Covilhã
encomendou um estudo relativamente a vários espaços
públicos da cidade, o qual não chegou a ser executado
devido à falta de técnicos especializados na região.
"Queríamos um estudo objectivo e claro sobre quais
seriam as medidas, dentro de razoabilidade, a tomar para um espaço
deste género", refere João Esgalhado.
Mas, salienta, "para garantir 100 por cento de segurança
são necessários volumes financeiros absurdos. Largas
dezenas de milhares de contos". "Não é
possível investir esse montante num espaço que
nem sequer é da Câmara. As obras para instalar detectores
de incêndio com disparo automático de água
obrigam a rasgar todo o prédio e a construir um depósito.
Para além da substituição da rede eléctrica
e de toda a cablagem necessárias", explica.
O vereador afirma ter havido "uma vistoria informal"
feita pelo comandante dos bombeiros, que alertou para "o
estado perigoso em que se encontra o Teatro Cine". O comandante
dos Bombeiros, José Flávio, escusou-se a falar
no assunto, mas não corrobora esta versão. "A
última vistoria ao edifício foi feita entre 1990
e 91", diz.
Bombeiros de prevenção
Consciente da situação,
a edilidade solicita a presença dos Bombeiros Voluntários
em todas as actividades por si desenvolvidas no Teatro Cine.
"Para intervenções de menor monta requeremos
para o local dois ou três homens de prevenção
e o acompanhamento quase em permanência de um técnico
de electricidade que previamente verifica a instalação
e que na hora e durante o espectáculo está à
disposição para, a todo o momento, intervir",
garante o responsável pela Protecção Civil.
Como referencial de segurança foram instalados extintores
de pó químico e está a processar-se uma
renovação de alguma da rede eléctrica.
A Câmara cede o espaço a outras instituições
culturais da cidade, como sejam o GICC e a Associação
de Estudantes da UBI.
Quando confrontado com os acontecimentos do passado dia 13 de
Março, em que a sala esgotou a sua capacidade para receber
uma das apresentações integradas no ciclo de Teatro
Universitário, afirma: "Desconheço se têm
sido tomadas medidas neste sentido ou se têm, de facto,
apenas usado o espaço como se ele estivesse no melhor
estado de conservação". E continua: "Se
os Bombeiros e técnicos estiverem presentes podem resolver
o problema de imediato, não estando é mais complicado".
A sala pela sua natureza e estrutura apresenta elevados riscos
de incêndio. O edifício foi antigamente uma sala
de cinema, tendo produtos facilmente inflamáveis, como
cortinas e sistemas de iluminação de palco e camarins,
e o próprio armazém de materiais. "A opção
que temos é ter a sala fechada e não realizar quaisquer
espectáculos, ou então assumir alguns riscos que
afinal existem nas grandes salas e nos bons espaços, e
que aqui estão ligeiramente mais patentes e mais prementes",
realça o vereador.
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