Numa altura em que praticamente tudo já
foi dito acerca do muito celebrado regresso aos discos por parte
da mais mediática mulher da indústria musical,
Madonna, façamos uma pequena análise ao percurso
da figura que na primeira parte da década de 80 cantava
sobre a necessidade de ter umas férias, e que no ano de
1998 surpreendeu meio-mundo com um álbum fruto da sua
espiritualidade emergente. O registo, que acabou por ser um tremendo
sucesso nos dois lados do Atlântico, valeu à cantora
elogios da maioria das publicações e fez com que
arrecadasse um sem número de prémios, quer nas
cerimónias habituadas a premiar os nomes do mainstream,
quer em cerimónias que, por exemplo, celebram os videoclips
mais inovadores.
Comecemos por lembrar que quando idealizou o álbum, Madonna
convidou nomes como Norman Cook, também conhecido por
Fatboy Slim, ou Liam Howlett, do projecto Prodigy, para o lugar
de produtor. Perante a recusa ou indisponibilidade dos visados,
o papel de produtor acabou por recair em William Orbit, um nome
vindo da chamada música ambiente, e que após a
produção deste álbum acedeu a um estatuto
de produtor de luxo, produzindo os últimos trabalhos das
All Saints ou Blur, aguardando-se ainda de uma colaboração
próxima com os norte-americanos Limp Bizkit. Apenas aqueles
que se encontram desligados da carreira da artista se poderão
surpreender com a qualidade da selecção para o
papel de produtor. Já em Bedtimes Stories, o anterior
álbum, a escolha de Madonna recaiu sobre Nellee Hooper,
que no ano anterior havia produzido um dos álbuns - chave
da década de 90, Debut, da musa islandesa Bjork, também
ela responsável pela inclusão de um original seu
no álbum de Madonna. E mesmo os respeitadíssimos
Massive Attack são responsáveis por uma colaboração
com a artista, saída num álbum de tributo ao afro-americano
Marvin Gaye, sob o nome de I Want You. Também Lenny Kravitz
escreveu, no início da década de 90, para a cantora.
E se necessário for, relembro mais um nome que não
se inibiu de trabalhar com a artista, caso do conhecido duo Kruder
& Dorfmeister que remisturou temas de Ray of Light.
O álbum Ray of Light, considerado um dos mais inovadores
e consistentes da carreira da cantora, confirma o que já
se sabia: que a artista é uma óptima gestora de
imagem, rodeando-se sempre dos nomes mais respeitados da actualidade,
e acabando por lucrar com as suas parcerias. Mais ainda, que
Madonna é possuidora de uma espécie de sexto sentido
para a descoberta de talentos, que a partir da oportunidade dada,
acabam por consolidar um nome. Esta situação verifica-se
com os estilistas que trabalham com a cantora, e com as escolhas
para realização dos seus vídeos, área
em que Madonna é indubitavelmente das artistas mais inovadoras
e surpreendentes. Relembre-se os casos de três fortíssimos
videoclips, que ilustram outros tantos singles retirados deste
álbum: Frozen, rodado em pleno deserto, remetendo para
ambientes quase góticos; Nothing Really Matters, que inspirado
no best-seller literário Confissões de uma Gueixa,
nos remete para paragens orientais, pautadas por um guarda-roupa
genuinamente original e pelo abuso das cores berrantes. Ainda
assim, estes dois videoclips são superados pela pequena
pérola que é Ray of Light, o vídeo que apresenta
uma cantora à beira da euforia e que acompanha as 24 horas
passadas numa cidade que vive à velocidade da luz. O videoclip
foi realizado pelo mesmo homem que havia realizado o clip-choque
dos Prodigy, Smack My Bitch Up, valendo a Madonna dezenas de
prémios.
Relativamente às sonoridades do álbum, confirma-se
novamente que a artista tem um lugar cativo no topo, porque sabe
realmente o que as pessoas querem ouvir. E quando pega nestas
informações, rodeia-se daqueles que sabe serem
capazes de conferir um carimbo de qualidade às suas composições.
Em Ray Of Light, denota-se, antes de mais, o aperfeiçoamento
vocal da artista. A excelente produção é
um dos principais trunfos de um álbum repleto de canções
de corte elegante e de verdadeiros hinos da melhor música
pop e de dança que podemos encontrar no mercado.
Quem é que disse que ser famoso é sinónimo
de estagnação e de acomodamento? |