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Madonna
ray of light
POR PEDRO JESUS


 

 

 

 

Numa altura em que praticamente tudo já foi dito acerca do muito celebrado regresso aos discos por parte da mais mediática mulher da indústria musical, Madonna, façamos uma pequena análise ao percurso da figura que na primeira parte da década de 80 cantava sobre a necessidade de ter umas férias, e que no ano de 1998 surpreendeu meio-mundo com um álbum fruto da sua espiritualidade emergente. O registo, que acabou por ser um tremendo sucesso nos dois lados do Atlântico, valeu à cantora elogios da maioria das publicações e fez com que arrecadasse um sem número de prémios, quer nas cerimónias habituadas a premiar os nomes do mainstream, quer em cerimónias que, por exemplo, celebram os videoclips mais inovadores.
Comecemos por lembrar que quando idealizou o álbum, Madonna convidou nomes como Norman Cook, também conhecido por Fatboy Slim, ou Liam Howlett, do projecto Prodigy, para o lugar de produtor. Perante a recusa ou indisponibilidade dos visados, o papel de produtor acabou por recair em William Orbit, um nome vindo da chamada música ambiente, e que após a produção deste álbum acedeu a um estatuto de produtor de luxo, produzindo os últimos trabalhos das All Saints ou Blur, aguardando-se ainda de uma colaboração próxima com os norte-americanos Limp Bizkit. Apenas aqueles que se encontram desligados da carreira da artista se poderão surpreender com a qualidade da selecção para o papel de produtor. Já em Bedtimes Stories, o anterior álbum, a escolha de Madonna recaiu sobre Nellee Hooper, que no ano anterior havia produzido um dos álbuns - chave da década de 90, Debut, da musa islandesa Bjork, também ela responsável pela inclusão de um original seu no álbum de Madonna. E mesmo os respeitadíssimos Massive Attack são responsáveis por uma colaboração com a artista, saída num álbum de tributo ao afro-americano Marvin Gaye, sob o nome de I Want You. Também Lenny Kravitz escreveu, no início da década de 90, para a cantora. E se necessário for, relembro mais um nome que não se inibiu de trabalhar com a artista, caso do conhecido duo Kruder & Dorfmeister que remisturou temas de Ray of Light.
O álbum Ray of Light, considerado um dos mais inovadores e consistentes da carreira da cantora, confirma o que já se sabia: que a artista é uma óptima gestora de imagem, rodeando-se sempre dos nomes mais respeitados da actualidade, e acabando por lucrar com as suas parcerias. Mais ainda, que Madonna é possuidora de uma espécie de sexto sentido para a descoberta de talentos, que a partir da oportunidade dada, acabam por consolidar um nome. Esta situação verifica-se com os estilistas que trabalham com a cantora, e com as escolhas para realização dos seus vídeos, área em que Madonna é indubitavelmente das artistas mais inovadoras e surpreendentes. Relembre-se os casos de três fortíssimos videoclips, que ilustram outros tantos singles retirados deste álbum: Frozen, rodado em pleno deserto, remetendo para ambientes quase góticos; Nothing Really Matters, que inspirado no best-seller literário Confissões de uma Gueixa, nos remete para paragens orientais, pautadas por um guarda-roupa genuinamente original e pelo abuso das cores berrantes. Ainda assim, estes dois videoclips são superados pela pequena pérola que é Ray of Light, o vídeo que apresenta uma cantora à beira da euforia e que acompanha as 24 horas passadas numa cidade que vive à velocidade da luz. O videoclip foi realizado pelo mesmo homem que havia realizado o clip-choque dos Prodigy, Smack My Bitch Up, valendo a Madonna dezenas de prémios.
Relativamente às sonoridades do álbum, confirma-se novamente que a artista tem um lugar cativo no topo, porque sabe realmente o que as pessoas querem ouvir. E quando pega nestas informações, rodeia-se daqueles que sabe serem capazes de conferir um carimbo de qualidade às suas composições. Em Ray Of Light, denota-se, antes de mais, o aperfeiçoamento vocal da artista. A excelente produção é um dos principais trunfos de um álbum repleto de canções de corte elegante e de verdadeiros hinos da melhor música pop e de dança que podemos encontrar no mercado.
Quem é que disse que ser famoso é sinónimo de estagnação e de acomodamento?


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