Questão
de Confiança
A confiança é a base de toda a relação
humana. E a pedra de toque em toda a vida social. Na empresa
ou em qualquer serviço, actividade, clube, instituição,
partido político, igreja, família.
Não há iniciativa eu possa avançar sem confiança.
O casamento assenta numa confiança que gera fidelidade
mútua. E lhe dá estabilidade. E o faz construir
um amor de onde foge a rotina.
A confiança integra em pleno a cidadania. Ou seja, faz
parte dos direitos e deveres de cada um. Mas confiar não
se reduz a simples delegação de representação.
Trata-se de uma atitude activa que leva as pessoas a assumir
as suas responsabilidades de forma consciente. E isto em todas
as funções, quaisquer que elas sejam.
A confiança leva à partilha, no sentido de paradoxo
que lhe atribui Chesteton: "Se dois vão juntos e
ó um leva um guarda-chuva, têm de partilhar o guarda-chuva.
Se nenhum dos dois leva guarda-chuva, têm de partilhar,
com alegria e bom humor, o facto de se molharem".
O acto de murmurar, que não se identifica com a opinião,
quebra a confiança. Daí que haja regras a respeitar.
Lopez Caballero sintetizou estas regras, em linguagem simples
e concreta.
Assim, toda a murmuração que é crítica
deve fazer-se frente a frente. E não em atitude de hipocrisia.
E à pessoa em questão e em privado.
A crítica evita as comparações com outras
pessoas. Critiquem-se os factos, nunca as intenções.
E de forma específica, objectiva, não exagerada
nem generalizada.
Um princípio a observar é não repetir a
crítica já feita. E saber escolher o momento próprio
para o fazer. O ideal será logo que aconteça o
facto criticável.
Só se pode levar à crítica o que se comprovou
com factos. Criticar a partir de boatos, suspeitas e atribuição
de intenções torna-se injusto e sobretudo muito
perigoso, no domínio da confiança.
Norma de bom senso: antes da crítica, colocar-se nas circunstâncias
do criticado.
Um velho ditado serve de bússola para orientação:
"Deus me livre de julgar o meu irmão sem ter calçado
um mês os seus sapatos".
Mas a confiança social vai muito para além da murmuração.
Franis Fukuyama, pensador conhecido dos Estados Unidos, diz que
a confiança "através do trabalho em grupo
e da cooperação com parceiros de negócios
cria novos laços sociais, regras e valores". E acrescenta
que, face ao egoísmo, "competição e
cooperação não podem ser dissociadas".
Donde a necessidade de as pessoas, sem reservas, terem de confiar
umas nas outras para se obterem resultados de ordem económica
e ética.
Inquéritos recentes manifestam que a confiança
já conheceu melhores dias. À pergunta "confia
nos outros?", dois terços dos americanos respondem
que não. Há 25 anos, a resposta era sim. 76 por
cento dos portugueses afirmam que "nunca se é cuidadoso
demais com os outros". E, dado curioso, no mais recente
barómetro da opinião pública portuguesa,
a confiança vi em primeiro lugar para os jornalistas,
depois para os professores de todas as profissões, e em
último lugar para os políticos.
Que fazer para que cresça a confiança na sociedade?
A resposta afirma-se simples: começar pela família
e pela escola. Na expressão do filósofo Michel
Renaud, "a família surge como o meio onde a confiança
se vive, se ensina, se pratica, enquanto resposta ao tempo e
enquanto vitória sobre o tempo". A vida, afinal,
é uma questão de confiança.
*NC / Urbi et Orbi
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