C.A.R. da Cova da Beira arranca
Assumidos contra o alcoolismo
POR ALEXANDRE S. SILVA
Sem vergonhas nem complexos.
São alcoólicos recuperados. A criação
do novo centro pretende ajudar aqueles que sofrem do "flagelo
número um do País".
"O alcoolismo não
é uma vergonha, é uma doença, e como tal,
as pessoas têm que procurar ajuda para se tratar".
É com esta determinação que José
Amarelo, presidente da Comissão Instaladora do Centro
de Alcoólicos Recuperados (CAR) da Cova da Beira, se lança
em mais uma iniciativa.
Com sede no Nº 1 da Viela do Raimundo, a recém formada
instituição irá, não só dar
apoio, como também proporcionar a possibilidade de tratamento
médico efectivo num centro hospitalar.
Carlos Brito, alcoólico recuperado há 20 anos e
presidente do CAR da Guarda, apadrinhou esta iniciativa. O dirigente
promete "acompanhar todo o processo de legalização
da associação, e dar todo o apoio possível
ao novo organismo, uma vez que", adianta, "sensibilizar
um doente alcoólico não é tarefa fácil".
Dos cerca de mil e cem casos que já lhe passaram pelas
mãos, Carlos Brito, salienta alguns episódios com
contornos, no mínimo, surreais. Além das tradicionais
cenas de violência doméstica, "houve casos
em que pais tentaram violar as próprias filhas, outros
perseguiam a família de caçadeira em punho",
refere o presidente do CAR guardense, que um dia, teve mesmo,
que arrancar carraças do corpo de um indivíduo
que ía para tratamento.
Luta contra alcoolismo não
é reconhecida
"O tratamento não se limita à aplicação
de uma injecção", responde Brito aos mais
cépticos. O processo de cura, normalmente, feito numa
unidade hospitalar de alcoologia em Coimbra, decorre durante
três semanas. Segundo, José Amarelo, que já
passou pela experiência, "a última semana,
à base de terapias de grupo, é aquela que melhor
nos prepara para o regresso à selva". Após
o tratamento, terão que decorrer três anos sem recaídas
para que o paciente se possa considerar recuperado. Durante esse
período, "o mais importante é o apoio familiar
e dos amigos", refere o presidente da Comissão Instaladora.
Uma das "lutas" do novo CAR, além de sensibilizar
e dinamizar a luta contra o consumo excessivo de álcool,
será a criação de uma unidade de desintoxicação
alcoólica no Centro Hospitalar da Cova da Beira. Se bem
que os doentes alcoólicos não gostem da ideia de
serem tratados na sua área de residência, "por
receio de serem reconhecidos e rotulados", o certo é
que esta medida descongestionaria os únicos três
centros existentes em Portugal. Centros esses que, por limitações
orçamentais, não raras vezes, solicitam a ajuda
dos CAR. Uma situação que, nas palavras de Carlos
Brito, "se deve ao facto de o governo arquear apenas a bandeira
da droga, esquecendo-se que o problema do alcoolismo é
muito mais abrangente".
NC / Urbi et Orbi
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