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Os Segredos da Censura
POR SOFIA FREIRE



Vivemos hoje as comemorações do 25 de Abril. Vamos assim revivendo um passado em que muitos sofreram e morreram em silêncio, lutando pela liberdade.
O regime do Estado Novo assentava num sistema de propaganda. Deus, Pátria e Família eram os valores exaltados, mas era mantida em segredo, através da PIDE e da censura prévia, toda a engrenagem da incompetência e da corrupção de um Estado manipulador de interesses económicos, sociais, culturais e psicológicos.
"Politicamente só existe aquilo que o povo sabe que existe", estas foram as palavras proferidas por Salazar no seu discurso, durante a inauguração do Secretariado de Propaganda Nacional, em 26 de Outubro de 1933. O povo era premeditadamente mantido em ignorância, assegurando assim todo o poder nas mãos do Estado. Os intelectuais ou aqueles que poderiam contribuir para a emancipação da população eram perseguidos, exilados ou assassinados.
A censura ao lado da PIDE foi como um carrasco da liberdade que ia mantendo o povo amordaçado. Contribuiu para um subdesenvolvimento da Arte e da Ciência em Portugal. Assassinou a inteligência, contribuindo para um embrutecimento das consciências e um empobrecimento da cultura do povo português. O País viveu uma ditadura de quase meio século e sobre ela só se passaram 26 anos. As repercussões são inevitáveis na presente sociedade em que vivemos.
Mas hoje tudo isto parece passar-nos ao lado e as comemorações para muitos não são mais do que motivo de festa. Até a liberdade passou despercebida!
É num apelo à consciência dos portugueses que César Príncipe nos dá a oportunidade de conhecer "Os Segredos da Censura". Neste seu livro poderemos recordar que a liberdade que comemoramos em festa teve o preço daqueles que a pagaram com a tortura e com a própria vida.
O que representa a liberdade nos dias de hoje? Temos consciência dela? Então o que fazemos com ela? Será que deixámos de ser manipulados por massas que sustentam o poder? Não existem ainda elites privilegiadas?
Abram os olhos, portugueses! E não deixem adormecida a vossa cultura, pois enquanto nos deixamos andar, não deixam os outros de se aproveitar do nosso grande desinteresse.
Comecem por ler este livro. Cultivem a própria consciência, pois mais do que um direito, ela é um dever para com a nossa liberdade!

Príncipe, César, "Os Segredos da Censura",
2ª Edição, Caminho Nosso Mundo, Lisboa, 1979
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