Restruturação
da Gestão e Economia
Mal necessário
POR PEDRO MACHADO
Na Universidade da Beira Interior vivem-se momentos difíceis
para alunos e docentes de Gestão e Economia. A causa das
"dores de cabeça" prende-se com a restruturação
de ambos os cursos, levada a cabo no início do ano lectivo.
De um lado, os alunos queixam-se das muitas cadeiras que têm
de fazer num só ano. Do outro, os docentes, falam das
listas de alunos inscritos às cadeiras, a ultrapassarem
por vezes os 500 alunos. Da parte do departamento, há
a compreensão pelas queixas, e a promessa de melhorar
a situação.
Elaborar uma restruturação de um curso é
sempre uma tarefa complicada, e que levanta protestos quer da
parte de alunos, quer da parte dos professores Mas a alteração
como esta "visa o melhoramento dos cursos", como diz
Luís Lourenço, presidente do departamento de Gestão
e Economia. "As coisas mudam, existem novas abordagens,
novos desenvolvimentos em diferentes áreas, e é
importante que os cursos saibam dar respostas a essas alterações".
O principal objectivo desta restruturação é,
para o presidente do departamento, " ir ao encontro daquilo
que são as necessidades actuais, e por isso houve disciplinas
sobre áreas que antes não eram contempladas que
entraram, como a questão dos novos mercados financeiros,
e a gestão da qualidade, por exemplo".
Aliás, acrescenta, "tivemos a preocupação
de elaborar este processo da forma mais correcta possível.
Houve uma reunião com gente ligada às empresas,
e que esteve aqui a estudar, com o objectivo de vermos quais
eram as reais necessidades dos cursos".
Alunos resignados
Os alunos de Gestão e
Economia compreendem a situação, no entanto, não
se coíbem de lançar críticas a alguns aspectos
da restruturação. A maior preocupação
relaciona-se com o facto de verem o número de disciplinas
aumentarem drasticamente.
Outra das críticas direcciona-se para o número
de alunos que frequentam as aulas, levando mesmo a situações
caricatas, como a necessidade de marcar lugar nas salas uma hora
antes da aula começar.
Para Sónia Ferreira, aluna do quarto ano de Gestão
"as dificuldades são muitas. Temos cadeiras práticas,
onde prática nem a vemos; tantos são alunos que
é impossível ensinar todos". Para esta aluna,
a maior preocupação do momento é a cadeira
de Matemática Financeira, "temos de fazer um mini-teste
onde a nota dez é que nos dará acesso à
frequência. Nós alunos, compreendemos que um professor
não possa corrigir 500 frequências, mas o que é
certo é que vemos as nossas dificuldades agravadas".
Sónia Ferreira faz ainda um apelo. "Compreendemos
e aceitamos a necessidade de uma restruturação,
compreendemos as dificuldades dos docentes, só esperamos
que também compreendam as nossas, e nos ajudem a ultrapassar
este momento difícil".
Docentes preocupados
Da parte dos docentes a preocupação
prende-se fundamentalmente com questões pedagógicas.
O caso mais grave é o da disciplina de Matemática
Financeira onde o número de alunos ultrapassa mesmo os
500 inscritos. Para Paulo Mêda, um dos docente da cadeira,
"a situação é incomportável,
é perfeitamente anti-pedagógico". E acrescenta,
"são mais de 500 alunos, e no início, quando
o anfiteatro estava cheio, mandava os alunos que não tinham
lugar embora. Eu dizia-lhes mesmo para reclamarem, o objectivo
era levantar protestos".
E parece que resultou, uma vez que a situação se
alterou, "fez-se um desdobramento das turmas por forma a
que todos pudessem assistir às aulas, mas mesmo assim,
corrigir mais de 500 frequências não vai ser tarefa
fácil" desabafou.
Paulo Mêda é da opinião que "a restruturação
do curso é um mal necessário, havia muitas coisas
más no curso: muitas cadeiras a mais, e outras que faltavam".
Para este docente, a maior dificuldade está em ensinar
nestas condições "há falta de motivação,
quer da nossa parte, quer da parte dos alunos. Esta é
uma cadeira que pela sua dificuldade intrínseca tem um
nível de reprovação bastante alto, e desta
forma o problema será agravado". O docente referiu
ainda que "a disciplina tem uma componente muito prática,
e nestas condições é tremendamente difícil
cumprir os objectivos a que nos propomos. Não podemos
de forma nenhuma ensinar a prática a 500 pessoas".
Para Paulo Pinheiro, também docente da disciplina de matemática
financeira, a restruturação é positiva.
"Vem eliminar disciplinas que estavam a mais, e criar outras
que faltavam, e que pela sua actualidade era muito importante
integrar nos cursos". Para este docente apresar da pertinência
da restruturação "há obviamente sempre
quem fique prejudicado, nomeadamente a nível de alunos,
que deixam de ter um plano curricular certo e passam a ter uma
mistura de anos, confusões nos horários, enfim,
um sem número de contrariedades, que temos de compreender".
Apesar de todo o processo ter sido encaminhado de forma cuidada,
com a participação de docentes e alunos, "o
pós-restruturação talvez não tenha
tido tanto sucesso", é o que defende Paulo Pinheiro.
Acrescentando que "deveria haver uma maior preocupação
na forma como está a decorrer na prática a restruturação.
As pessoas deveriam reunir-se para debaterem o que vai bem, o
que vai mal, e assim colmatar-se algumas das lacunas".
Na sua opinião, essa "é a única coisa
que falta neste momento".
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