Teatro das Beiras estreia
nova peça no Teatro-Cine
Uma das Últimas
Tardes de Carnaval
POR PEDRO JESUS
Subiu ao palco na passada
sexta-feira, dia 14, a peça Uma das Últimas Tardes
de Carnaval, a mais recente encenação da companhia
Teatro das Beiras. Da autoria do italiano Carlo Goldoni(1707-1793),
a peça foi originalmente apresentada ao público
de Veneza corria o ano de 1762, cabendo à cidade da Covilhã,
a oportunidade de, neste ano 2000, comprovar a modernidade do
texto que lhe serve de base.
Se é bem verdade que já
não reconhecemos os ofícios e os métodos
de trabalho empregues nesta época, as relações
que ligam as personagens em cena não estão datadas.
No teatro revelam-se os incontornáveis sentimentos e emoções
que acompanham a vida: o amor, a raiva, a paixão, a vingança,
a inveja. É caso para dizer que as épocas se sucedem,
("atrás dos tempos vêm os tempos", já
dizia o trovador), mas a essência que compõe as
pessoas é perfeitamente imutável. Houve também,
da parte do encenador Gil Salgueiro Nave, a intenção
de dar uma "achega" aos problemas relacionados com
a indústria dos tecidos, à qual a cidade se encontra
tão ligada.
Se o primeiro dia de apresentações estava reservado
aos possuidores de convites, no dia seguinte o Teatro-Cine abriu
as suas portas ao público em geral. Nesta noite, cerca
de 60 as pessoas responderam ao apelo e foram conhecer o último
trabalho da companhia profissional de teatro da cidade da Covilhã.
Dividida em três actos, a peça é uma comédia
que realça os costumes da época, com o desmascarar
de algumas hipocrisias que as personagens procuram esconder.
Contudo, como é dito a certa altura, criticar não
é o mesmo que satirizar. Aqui as personagens são
muito ricas - o teatro é isto mesmo -, possuidoras de
comportamentos bizarros e de tiques contagiantes, sendo o exemplo
privilegiado o do senhor Momolo, numa hilariante interpretação
de Marco Ferreira, que representa o narcisista por excelência.
Ainda assim afirmar que esta personagem é apenas narcisista
acaba por ser uma definição extremamente pobre,
já que esta, tal como todas as personagens, estão
na plena posse das suas contradições, fazendo questão
de o mostrarem ao público.
Além do profissionalismo do elenco, com todos os actores
a mostrarem-se confortáveis (e convincentes) nos seus
papéis, "saltando" frequentemente de cenas cómicas
para registos mais dramáticos, fica ainda a referência
à riqueza do guarda-roupa e do cenário.
Registe-se ainda a situação, que lembra uma coincidência:
se esta foi a última peça apresentada por Carlo
Goldoni ao público do seu país, pouco antes da
sua partida para o território francês, esta é
também a última representação do
Teatro das Beiras no espaço do Teatro-Cine, casa que acolheu
as representações do grupo durante um período
de seis anos, indo agora o grupo ocupar as instalações
situadas na rua da Trapa, local onde passarão a ser apresentados
os futuros espectáculos.
A peça promete ficar em cena até ao dia 26 para,
seguidamente, correr outros palcos do País. Não
a perca. |