Dois anos depois do nascimento
do Cartão do Idoso
Oito mil encartados
POR CRISTINA MENDES
São oito mil os
utentes do cartão do idoso. Entre as vantagens que o serviço
proporciona, a utilização gratuita dos transportes
colectivos da cidade e do concelho da Covilhã é
a mais apreciada por quem vê no permanecer activo um desafio.
Este ano, a redução em produtos de óptica,
alimentação e combustíveis são as
novidades em termos de descontos. Uma aposta que a Câmara
Municipal da Covilhã, pioneira nesta iniciativa, considera
ganha.
António Monteiro observa
o reboliço no Pelourinho, característico da hora
do almoço. O centro da cidade da Covilhã é
um ponto de paragem obrigatória para este tipografo reformado.
Com 75 anos, António é utente do cartão
do idoso desde o início, um projecto que defende com unhas
e dentes, "foi uma boa ideia", diz. Os transportes
gratuitos "são o nossa maior vantagem, principalmente
quando tenho de ir ao Centro de Saúde", acrescenta.
Residir no concelho e ter 65 anos são os requisitos necessários
para adquirir o cartão do idoso. Estando estas duas condições
reunidas, basta a apresentação do bilhete de identidade
e uma fotografia tipo-passe junto da Divisão Municipal
de Cultura e Desporto (DMCDES), ou Junta de Freguesia mais próxima,
para fazer a inscrição, sendo que todo o processo
é gratuito.
António Monteiro é uma dos oito mil pessoas com
cartão do idoso. "A adesão foi sempre muito
boa", garante Anabela Quelhas, responsável executiva
do projecto. Esta receptividade deveu-se aos benefícios
inerentes ao cartão, mas também à forte
campanha junto dos potenciais utilizadores. Se no início
a procura foi muita, "hoje ainda é maior", devido
ao testemunhos satisfeitos dos actuais utentes. "Estamos
sempre a receber novas inscrições", acrescenta.
O sucesso da iniciativa ultrapassa as fronteiras do concelho
e traz à DMCDES, sede do projecto, inscrições
de outros concelhos, como Belmonte, " inscrições
essas que temos de recusar", lamenta Anabela Quelhas.
Mais descontos
A passagem do ano trouxe mais
descontos a quem utiliza o cartão do idoso, pois entretanto
aderiram novas empresas ao projecto, com actividades em campos
tão diferentes como a restauração e a saúde.
Agora, mediante a apresentação do cartão,
o utente consegue descontos em restaurantes da cidade, em lojas
de óptica (armações e lentes) e em algumas
bombas de gasolina. "Os descontos nas ópticas estão
bem pensados porque nesta idade todos usamos óculos",
reflecte Ana Gil, de 68 anos. A possibilidade de comer nas cantinas
sociais aos mesmo preço dos funcionários da Câmara
Municipal é outra das inovações.
Estes benefícios vêm juntar-se aos já existentes
desde o início do projecto, todos proporcionados pela
autarquia: redução da conta da água, entrada
gratuita em eventos culturais, participação em
viagens realizadas pela DMCDES e a utilização gratuita
dos transportes colectivos do concelho, principal razão
para a grande adesão. Numa cidade onde o relevo é
tão acidentado o usufruto gratuito dos transportes públicos
traz a liberdade a quem um corpo doente, ou fraco, prende em
casa. "Saio pouco, só quando é preciso e sempre
de autocarro. É o que me vale", diz Ana Gil enquanto
olha para a canadiana que a acompanha depois de ter caído
e magoado a perna direita. Quem mora na coroa urbana dirige-se
à DMCDES para requisitar os módulos; fora da cidade,
os bilhetes são pagos, mas o valor é recuperado,
mediante a sua apresentação, na Junta de Freguesia
da sua área concelhia. As poucas queixas apresentadas
pelos utentes centram-se nas viagens de passeio organizadas pela
autarquia. "Não concordo que só vão
alguns, principalmente quando são quase sempre os mesmos",
protesta António Monteiro. Uma reivindicação
já conhecida da responsável. "As pessoas tem
dificuldade em perceber que nem todos podem ir nessas actividades",
diz Anabela Quelhas.
Promessa cumprida
Carlos Pinto foi o "pai"
do cartão do idoso, uma promessa eleitoral levada a cabo
pela autarquia no seu primeiro ano de mandato. Desde 1998, a
Covilhã tornou-se um caso único no País
ao desenvolver um serviço autónomo de auxílio
à terceira idade. "A ideia é minimizar as
dificuldades sentidas pelos mais idosos do concelho, agravadas
pelas limitações da interioridade", explica
Anabela Quelhas. O projecto serve agora todas as 31 freguesias
da Covilhã, permitindo que todos os idosos do concelho
beneficiem do serviço.
O financiamento é suportado, na sua totalidade, pela Câmara
Municipal. Há uma preocupação em conseguir
cativar empresas em diferentes ramos de actividade para alargar
o leque de descontos, "como contrapartida, essas empresas
são publicitadas pela organização e, em
princípio, aumentam os seus clientes", refere a responsável.
O pioneirismo da autarquia covilhanense foi já recompensado
com o interesse manifestado por outros municípios na iniciativa.
A Câmara Municipal da Figueira da Foz foi uma das interessadas
a quem Anabela Quelhas enviou um dossier pormenorizado sobre
o projecto. Pedro Santana Lopes pode vir a desenvolver um projecto
semelhante. |