Sindicato dos Professores
da Região Centro defende
"Somos um corpo
especial
da Administração Pública "
Que os professores são um corpo especial dentro da Administração
Pública foi a tese defendida por Adelino Lopes, professor
de Educação Visual e Tecnológica do Ensino
Secundário em Coimbra, e membro do Sindicato dos Professores
da Região Centro (SPRC), durante a conferência que
se realizou no pólo I da UBI na passada 5ª feira,
subordinada ao tema "Jovens professores: que futuro? ".
Juntamente com Luís Lopes, também professor e dirigente
daquele sindicato, foram os oradores desta acção
de esclarecimento para todos os alunos dos cursos de via ensino:
Física, Informática, Matemática e Língua
e Cultura Portuguesa.
Os sindicalistas foram convidados pelos vários núcleos,
com o objectivo foi abordar e esclarecer as dúvidas da
profissão de professor. Recebeu-os um anfiteatro cheio
de alunos para saber de perto o que os espera num futuro mais
próximo, que para a grande maioria já acontece
dentro de alguns meses.
Exploração no
Ensino Privado
Luís Lopes foi o primeiro
a desfazer as dúvidas. Começou por falar dos concursos,
que para muitos sao sempre o primeiro passo para enveredar por
esta profissão. Explicados o funcionamento e todas as
cláusulas dos concursos para o ensino público,
as críticas ao ensino privado não se fizeram esperar:
"Um professor do ensino privado é um professor explorado!
".
Foi depois a vez de se explicarem as diferenças entre
ensino público e privado: se o primeiro tem os problemas
que todos já conhecemos, o segundo ainda explora o trabalho
do docente. "O professor de uma instituição
privada tem uma carga horária a duplicar, e os anos de
serviço não contam da mesma maneira"..
Menos anos de serviço
e aumento de salários
A crítica seguinte parou
nas mãos do governo. Adelino Lopes lecciona há
27 anos e como coordenador dos professores da Região Centro
começou por explicar " a profissão de professor
é desgastante, e como tal deviam baixar os anos de serviço
". O problema do desemprego na Educação começa
logo com esta questão, porque se o professor for mais
cedo para a reforma, mais cedo ficam lugares vagos para ocupar.
Outro problema é aumentar a carga horária por semana,
o que significa que com menos docentes se lecciona a mesma quantidade
de matéria.
Com o desemprego na ordem do dia, falou-se também de subsídios.
O subsídio de desemprego para os professores não
colocados é cada vez menos claro, perante a situação
que cresce de dia para dia.
Os actuais36 anos de serviço que o professor tem de cumprir
até à reforma são uma das principais reivindicações
dos vários sindicatos de professores e da FENPROF, Federação
Nacional de Professores: o objectivo é baixar para 30
anos o tempo necessário para atingir a reforma, promovendo
desta forma o emprego e melhores condições de trabalho
para o professor.
O aumento de salários foi outro tema na ordem do dia.
A opinião de ambos os oradores era bem clara "os
professores que estão a iniciar a carreira precisam de
mais dinheiro". Deixaram ainda bem claro que são
"escandalosos" os elevados descontos que um professor
faz em relação a relação a outras
profissões.
Ministério debaixo
de fogo
Adelino Lopes, o orador que mais
críticas apontou a todo o sistema de ensino, citava agora
uma anterior declaração do ministro Marçal
Grilo: "Os professores não são mercenários
a quem se lhe pague isto e aquilo".
Adelino Lopes defendeu então que "realmente os professores
não são mercenários, mas também não
trabalham de graça, e portanto é justo terem pelo
menos regalias idênticas à dos restantes profissionais".
O SPRC reinvindica desde 1989 um subsídio para a fixação
de professores em zonas muito deslocadas, que ainda não
foi atendido. " Os médicos, por exemplo, já
têm esse subsídio para viverem no interior".
Para o Ministério da Educação, não
existem escolas do "2º e 3º ciclo e Secundárias
em zonas isoladas. As poucas que existem são a nível
do 1º ciclo. Assim sendo, esta continua a ser uma luta deste
sindicato para os próximos tempos".
Professores doentes recebem
"não satisfaz"
Caminhando para a parte final
da conferência, o tema era agora a carreira de professor
nas suas várias etapas.
Luís Lopes começou por um termo de comparação:
"Se uma empresa ao fim de três anos tem de admitir
nos seus quadros um empregado, o Ministério da Educação
devia fazer o mesmo". Isto veio a propósito dos professores
contratados. O sindicato lutou muitos anos para que os professores
chegassem ao ensino profissionalizado, o que já acontece
quase a praticamente 100 por centro, uma vez que antes de mais,
todos passam pelo estágio.
A partir daqui não faz sentido que o professor venha outra
vez a ser avaliado, uma vez que o foi previamente. "valiar
o desempenho de professores contratados e avaliá-los depois
durante a carreira é um absurdo".
Adelino Lopes foi claro ao dizer " queremos uma carreira
única, sem níveis". A avaliação
dos professores vai criar níveis de carreira e nem sempre
é justa, uma vez que se um professor estiver doente leva
um "não satisfaz", ou seja, leva nota negativa
na avaliação , o que significa ter de abandonar
o ensino por um período de dois anos".
António Lopes questionou a assistência por várias
vezes: "Um professor não pode estar doente?"
Houve ainda uma sessão de esclarecimento da legislação
da carreira docente e a discussão de situações
práticas que os futuros professores terão pela
frente. O encontro serviu para mostrar aos alunos uma realidade
nem sempre clara no meio universitário.
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