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Luís Lourenço


Qualidade no Ensino Superior
Algumas reflexões

Nas últimas semanas realizaram-se na UBI duas iniciativas que merecem a reflexão de todos quantos se interessam pelo funcionamento da Universidade e se preocupam com um ensino de qualidade nesta Universidade. Refiro-me concretamente às Jornadas de auto-avaliação e ao seminário sobre a Qualidade no Ensino Superior. Embora o conteúdo de um e de outro mereça ser analisado, e até mesmo comparado, aquilo que me levou a sair do meu casulo e deitar para o papel (no caso para o teclado) algumas considerações foi uma questão de "forma", se é que assim se poderá chamar. Mais exactamente fez-me meditar a escassíssima participação da Universidade nestas iniciativas.

Dizem os estudiosos que qualquer programa de qualidade em qualquer instituição, para ter o mínimo de sucesso tem que satisfazer, entre outras, duas condições:
- Empenhamento da Gestão de Topo;
- Participação de todos dentro dessa organização.

Quanto ao empenhamento dos responsáveis máximos da nossa Universidade não duvido das suas boas intenções, contudo, face aos resultados, tenho algumas dúvidas relativamente à abordagem que vem sendo seguida. É que a perspectiva seguida, por esta e por outras instituições de ensino superior tem sido exclusivamente a da avaliação. Mas avaliar o quê? Supostamente Qualidade. E já nos preocupamos em ter uma ideia minimamente clara e consensual do que efectivamente é qualidade no ensino?

Assim, sem esta perspectiva aquilo a que nos temos dedicado é quase exclusivamente a preencher relatórios que procuram satisfazer um guião estabelecido, e depois cumprir com todas as burocracias e cópias de papeis e mais papeis para ficarem em anexos que uma comissão uns tempos (anos) mais tarde irá compulsar. Podemos fazer excelentes relatórios, mas será que efectivamente avaliamos a qualidade.

Face a esta praxis não é de espantar que a maioria da Universidade se não sinta motivada a participar.

Talvez valha a pena começar a pensar e discutir outras abordagens. É nesse sentido que aqui deixo algumas reflexões.

Para começar talvez valha a pena debruçarmo-nos um pouco sobre a definição de qualidade no ensino. Podemos pegar numa ideia, que nos vem do mundo empresarial: Satisfação de Necessidades e Expectativas. A ideia pode parecer simplista e não aplicável ao ambiente Universitário. Mas será que não o é?

É óbvio as necessidades e expectativas de que falamos numa empresa são as dos seus clientes. Mas quem são os clientes da Universidade? (Aqui estou apenas a pensar na Universidade como instituição de ensino. A inclusão da vertente investigação trará mais complexidade à discussão, mas pode também ser feita). A ideia de que os clientes são exclusivamente os estudantes é algo simplista. Os estudantes são obviamente clientes, mas há claramente outros clientes. Será que os futuros empregadores dos actuais alunos não são nossos clientes? Será que a sociedade que nos paga (mal, mas paga!) não será nossa cliente? E que dizer dos pais, das famílias dos estudantes? Haja imaginação e com certeza encontrarão mais alguns clientes. E tudo isto sem sequer falar nos clientes internos cujas necessidades e expectativas também devem ser satisfeitas.

(A título de parêntesis permitam-me que vos diga que não perfilho a ideia de que a satisfação de clientes no ensino, mesmo que por clientes consideremos apenas os alunos, seja caminho para o facilitismo e portanto falta de qualidade. Creio que as necessidades e as expectativas de qualquer aluno nunca serão as do facilitismo que, em última análise, conduzirá a um canudo sem valor.)

Admitindo que se chegue a uma conclusão minimamente consensual no que diz respeito à identificação dos nosso clientes resta saber o que é que já foi, se é que algo foi feito, para se identificar as suas necessidades e expectativas. Será que as estruturas curriculares dos cursos ministrados na UBI atendem de facto a essas necessidades e expectativas. A resposta, em minha opinião só pode ser uma: Não! Com isto não estou a dizer que os responsáveis dos diversos cursos (nos quais eu me incluo) não têm tais preocupações em mente. O problema é que estas coisas não são uma questão de inspiração, divina ou não, têm que ser estudadas de forma sistematizada. Mais, têm que ser permanentemente acompanhadas, pois na sociedade actual, também as necessidades e as expectativas estão em constante mutação.

Talvez esta perspectiva vá ao arrepio daquilo que tem sido a tradição universitária. É contudo minha convicção que, também aqui a mudança de mentalidades é uma questão de sobrevivência.

Identificadas as necessidades e expectativas dos nosso clientes há que garantir que o "produto" satisfaz essas necessidades e expectativas ou, melhor ainda, as ultrapassa.

Aqui levanta-se um outro e não menos importante problema: qual o "produto" que nós, Universidade, produzimos? Qual é o nosso output? (Novamente estamos a falar na perspectiva de apenas instituição de Ensino).

Sem pretender ter uma resposta definitiva vale a pena olharmos para o que é efectivamente o processo ensino-aprendizagem. Com este processo pretende-se que os alunos adquiram as competências adequadas. Assim, de uma forma simplista, podemos considerar que os alunos sem essas competências, são o nosso input. O output serão esses mesmos alunos com as competências que são consideradas as adequadas à satisfação das necessidades e expectativas dos "nossos clientes".

Parece-me óbvio que a garantia da qualidade, entendida nesta perspectiva, nunca será conseguida com comissões de avaliação nem com relatórios mais ou menos bem apresentados. Não que as avaliações não sejam importantes, mas para que a qualidade seja avaliada tem antes que ser construída. Não que as comissões não possam existir, mas a qualidade só pode ser o resultado do empenho e da participação de todos sem excepção.

Não é essa a imagem que nos deixaram as iniciativas que no princípio referi. Por isso talvez valha a pena tentar uma abordagem diferente na implementação da qualidade.

Como é que afinal se "constrói" qualidade? Para não cansar, estas minhas reflexões hoje ficam por aqui. Talvez um dia destes volte a este tema. Deixo também aqui o desafio para que outros o abordem. Ainda assim fica aqui uma ideia: Só uma organização de qualidade consegue produzir qualidade!!! Quais deverão então ser as características definidoras de uma organização de qualidade?






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