Qualidade no
Ensino Superior
Algumas reflexões
Nas últimas semanas realizaram-se na UBI duas iniciativas
que merecem a reflexão de todos quantos se interessam
pelo funcionamento da Universidade e se preocupam com um ensino
de qualidade nesta Universidade. Refiro-me concretamente às
Jornadas de auto-avaliação e ao seminário
sobre a Qualidade no Ensino Superior. Embora o conteúdo
de um e de outro mereça ser analisado, e até mesmo
comparado, aquilo que me levou a sair do meu casulo e deitar
para o papel (no caso para o teclado) algumas considerações
foi uma questão de "forma", se é que
assim se poderá chamar. Mais exactamente fez-me meditar
a escassíssima participação da Universidade
nestas iniciativas.
Dizem os estudiosos que qualquer
programa de qualidade em qualquer instituição,
para ter o mínimo de sucesso tem que satisfazer, entre
outras, duas condições:
- Empenhamento da Gestão de Topo;
- Participação de todos dentro dessa organização.
Quanto ao empenhamento dos responsáveis
máximos da nossa Universidade não duvido das suas
boas intenções, contudo, face aos resultados, tenho
algumas dúvidas relativamente à abordagem que vem
sendo seguida. É que a perspectiva seguida, por esta e
por outras instituições de ensino superior tem
sido exclusivamente a da avaliação. Mas avaliar
o quê? Supostamente Qualidade. E já nos preocupamos
em ter uma ideia minimamente clara e consensual do que efectivamente
é qualidade no ensino?
Assim, sem esta perspectiva aquilo
a que nos temos dedicado é quase exclusivamente a preencher
relatórios que procuram satisfazer um guião estabelecido,
e depois cumprir com todas as burocracias e cópias de
papeis e mais papeis para ficarem em anexos que uma comissão
uns tempos (anos) mais tarde irá compulsar. Podemos fazer
excelentes relatórios, mas será que efectivamente
avaliamos a qualidade.
Face a esta praxis não
é de espantar que a maioria da Universidade se não
sinta motivada a participar.
Talvez valha a pena começar
a pensar e discutir outras abordagens. É nesse sentido
que aqui deixo algumas reflexões.
Para começar talvez valha
a pena debruçarmo-nos um pouco sobre a definição
de qualidade no ensino. Podemos pegar numa ideia, que nos vem
do mundo empresarial: Satisfação de Necessidades
e Expectativas. A ideia pode parecer simplista e não aplicável
ao ambiente Universitário. Mas será que não
o é?
É óbvio as necessidades
e expectativas de que falamos numa empresa são as dos
seus clientes. Mas quem são os clientes da Universidade?
(Aqui estou apenas a pensar na Universidade como instituição
de ensino. A inclusão da vertente investigação
trará mais complexidade à discussão, mas
pode também ser feita). A ideia de que os clientes são
exclusivamente os estudantes é algo simplista. Os estudantes
são obviamente clientes, mas há claramente outros
clientes. Será que os futuros empregadores dos actuais
alunos não são nossos clientes? Será que
a sociedade que nos paga (mal, mas paga!) não será
nossa cliente? E que dizer dos pais, das famílias dos
estudantes? Haja imaginação e com certeza encontrarão
mais alguns clientes. E tudo isto sem sequer falar nos clientes
internos cujas necessidades e expectativas também devem
ser satisfeitas.
(A título de parêntesis
permitam-me que vos diga que não perfilho a ideia de que
a satisfação de clientes no ensino, mesmo que por
clientes consideremos apenas os alunos, seja caminho para o facilitismo
e portanto falta de qualidade. Creio que as necessidades e as
expectativas de qualquer aluno nunca serão as do facilitismo
que, em última análise, conduzirá a um canudo
sem valor.)
Admitindo que se chegue a uma
conclusão minimamente consensual no que diz respeito à
identificação dos nosso clientes resta saber o
que é que já foi, se é que algo foi feito,
para se identificar as suas necessidades e expectativas. Será
que as estruturas curriculares dos cursos ministrados na UBI
atendem de facto a essas necessidades e expectativas. A resposta,
em minha opinião só pode ser uma: Não! Com
isto não estou a dizer que os responsáveis dos
diversos cursos (nos quais eu me incluo) não têm
tais preocupações em mente. O problema é
que estas coisas não são uma questão de
inspiração, divina ou não, têm que
ser estudadas de forma sistematizada. Mais, têm que ser
permanentemente acompanhadas, pois na sociedade actual, também
as necessidades e as expectativas estão em constante mutação.
Talvez esta perspectiva vá
ao arrepio daquilo que tem sido a tradição universitária.
É contudo minha convicção que, também
aqui a mudança de mentalidades é uma questão
de sobrevivência.
Identificadas as necessidades
e expectativas dos nosso clientes há que garantir que
o "produto" satisfaz essas necessidades e expectativas
ou, melhor ainda, as ultrapassa.
Aqui levanta-se um outro e não
menos importante problema: qual o "produto" que nós,
Universidade, produzimos? Qual é o nosso output? (Novamente
estamos a falar na perspectiva de apenas instituição
de Ensino).
Sem pretender ter uma resposta
definitiva vale a pena olharmos para o que é efectivamente
o processo ensino-aprendizagem. Com este processo pretende-se
que os alunos adquiram as competências adequadas. Assim,
de uma forma simplista, podemos considerar que os alunos sem
essas competências, são o nosso input. O output
serão esses mesmos alunos com as competências que
são consideradas as adequadas à satisfação
das necessidades e expectativas dos "nossos clientes".
Parece-me óbvio que a
garantia da qualidade, entendida nesta perspectiva, nunca será
conseguida com comissões de avaliação nem
com relatórios mais ou menos bem apresentados. Não
que as avaliações não sejam importantes,
mas para que a qualidade seja avaliada tem antes que ser construída.
Não que as comissões não possam existir,
mas a qualidade só pode ser o resultado do empenho e da
participação de todos sem excepção.
Não é essa a imagem
que nos deixaram as iniciativas que no princípio referi.
Por isso talvez valha a pena tentar uma abordagem diferente na
implementação da qualidade.
Como é que afinal se "constrói"
qualidade? Para não cansar, estas minhas reflexões
hoje ficam por aqui. Talvez um dia destes volte a este tema.
Deixo também aqui o desafio para que outros o abordem.
Ainda assim fica aqui uma ideia: Só uma organização
de qualidade consegue produzir qualidade!!! Quais deverão
então ser as características definidoras de uma
organização de qualidade? |