"Ethnicu" mais uma
vez na Covilhã
POR SÍLVIA FERREIRA
"Os instrumentos
podem servir de pista
para estudar o passado musical de uma nação ou
região"
Bruno Netti
O segundo Festival Internacional de Música Étnica
está já a decorrer na Covilhã. No dia 3
de Abril, o Ethnicu abriu as portas a mais duas semanas de música
dos mundos, que incluem a realização de workshops,
concertos, projecção de filmes e exposições,
totalmente vocacionados para o tema das etnias.
O objectivo desta iniciativa é a dinamização,
divulgação e caracterização da música
étnica/tradicional, de modo a lembrar as raízes
que servem de sustentáculo à nossa cultura musical.
A Associação Académica da Universidade da
Beira Interior (AAUBI) assume, deste modo, também a pretensão
de "valorizar o interior do País, ao incentivar o
gosto e descoberta da região pela sua música tradicional,
tendo em conta toda a riqueza que esta zona tem para oferecer",
diz-nos Sérgio Novo responsável pela secção
cultural da AAUBI
O início do programa ficou marcado pela projecção
de filmes nos dias 3 e 4: o "Ódio" de Mathieu
Kassivitz, e o "Estrangeiro Louco" de Toni Gatlit,
respectivamente, ambos na sede da associação académica.
Para o segundo dia estava, também, inicialmente, marcada
a inauguração das três exposições
patentes no Teatro-cine da Covilhã e na sede da associação,
que por motivos alheios à associação sofreram
um adiamento da inauguração oficial para esta semana,
sendo que a mostra será, por este facto, estendida do
dia 15, data marcada para o terminus das exposições,
até dia 25 de Abril. Duas delas estiveram, contudo, já
abertas ao público desde a passada quarta-feira.
Para não esquecer
Estas exposições
trazem consigo a variedade que caracteriza o festival. Os temas
que as acompanham são tão vastos como os "Mundos
por detrás da música", "Músicos
portugueses" e "A evolução da gaita de
foles", sendo esta última explorada no sentido de
lembrar as tradições e a influência deste
instrumento nos nossos dias: "Se por um lado alguns de nós
temos memória, há que lembrar aqueles que não
a têm, por nada terem para relembrar", posição
defendida pela associação cultural LELIA DOURA,
responsável por esta última exposição.
"A evolução da gaita de foles" está
dividida por uma série de painéis aos quais correspondem
as temáticas: A gaita ao longo dos tempos; Área
de expansão da gaita; Construção da gaita;
A gaita em Portugal ontem e hoje; A gaita na arte; A gaita na
literatura; Humor e gaitas;
Aposta na formação
Uma novidade implementada pela
AAUBI para o Ethnicu deste ano é a área da formação:
"No ano passado, muita gente demonstrou interesse não
só pelos concertos, mas também em participar, experimentando
os instrumentos apresentados no festival" afirma Sérgio
Novo, e foi por esta razão que o alinhamento do programa
dedicou a tarde do passado sábado à realização
de um workshop de percussão, apresentado por José
Salgueiro, instrumentista dos Gaiteiros de Lisboa. A particularidade
deste workshop está no facto de não terem existido
quaisquer instrumentos, mas um muito melhor construtor melódico:
neste workshop fez-se música com o corpo.
O objectivo de "promover o desenvolvimento das capacidades
psicomotoras através de exemplos rítmicos, e melhorar
a concentração e o relacionamento disciplinar em
grupo", era o que anunciava o panfleto publicitário
do workshop, e foi exactamente o que aconteceu. A reunião
de um grupo amusical que se deixou envolver pela atmosfera rítmica,
melódica, de improviso e cooperação, acabaria
por ser o resultado desta sessão.
Ainda há tempo...
Ainda não é tarde
para ver esta última semana de festival. Ontem, pelas
21:30, foi a vez da projecção do filme "Destino"
de Youssef Chahine, e hoje, no mesmo horário, a "Alma
dos guerreiros" de Lee Tanhoni, ambos na sede da associação
de estudantes.
A data dos concertos está marcada para os dias 12 e 13,
pelas 22 horas, no Pelourinho, bem no centro da cidade da Covilhã.
No primeiro dia o destaque vai para a apresentação
da Dança do Pau pelo Grupo Pauliteiros de Sendim, após
o que terá lugar a actuação dos At-Tambur,
grupo musical português, e os Rumba Mayor, grupo francês
de musica cigana. Dia 13, a encerrar os concertos, vão
subir ao palco as Cantadeiras de Caria, os Folk Quest, grupo
irlandês e, finalmente, os Gaiteiros de Lisboa, um dos
melhores grupos portugueses na área da nova música
tradicional, distinguidos por esse facto com o prémio
José Afonso de 1998.
Nascido em 1991, o projecto dos Gaiteiros envolve um grupo de
músicos poli-instrumentistas com um longo percurso em
torno da música e dos instrumentos populares, e assenta
essencialmente na combinação das sonoridades de
diversos aerofones e de polifonias vocais, não apenas
da tradição popular portuguesa, mas também
de outras culturas e contextos.
Este projecto, levado a cabo conjuntamente com a Câmara
Municipal da Covilhã e integrado nas comemorações
do 25 de Abril, representa um custo acima dos 4000 mil contos,
sendo que, 50% das despesas são assumidas pela edilidade
local, revela-nos Sérgio Novo. Este é um trabalho
que está já ser preparado desde finais de Outubro,
e que conta também com apoios do Ministério da
Cultura, Inatel, e Instituto Português da Juventude (IPJ).
Um leque de boas razões para não perder esta oportunidade
de assistir a manifestações culturais das mais
variadas etnias. |