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Mil e uma coisas ao longo da vida
O maior coleccionador
do País na Covilhã

POR RITA LOPES

Duzentos e quinze mil objectos, de variadas espécies, compõem a colecção de José Duarte Oliveira que, desde 1964, se dedica à arte de coleccionar. Pins, lápis de pau, chávenas de café, pacotes de açúcar, porta-chaves, calendários de bolso, postais, entre outros objectos, dão vida à casa/museu Rosa Teresa de Oliveira que, dia após dia, se vai enchendo com novas peças.

Uma forte atracção por colecções é o que motiva José Duarte Oliveira que, aos 73 anos, ainda sente vontade de aumentar, cada vez mais, a sua colecção, já com alguns milhares de objectos. Reunir todo o tipo de coisas é a maior paixão deste covilhanense que, ao longo de 36 anos, juntou uma colecção de fazer inveja a qualquer um.
Até à data, já reuniu 112 mil calendários de bolso, 40 mil postais, 13 mil porta-chaves, 12 mil esferográficas, 11 mil isqueiros, 4 mil pacotes de açúcar, 2 mil pins, 2 mil latas de bebidas, 1200 chávenas de café, 800 medalhas comemorativas e 180 garrafas de bebidas em miniaturas. Isto significa que são mais de 215 mil objectos que, devidamente catalogados, vigiados e regularmente acrescentados, permitem a José Duarte Oliveira afirmar: "Sou o maior coleccionador do país".
Os primeiros objectos que coleccionou foram os pins. Em1964, José Duarte Oliveira, cuja profissão era pintor, trabalhava em Lisboa e começou a trocar latas de tinta vazias por pins das mais variadas cores e feitios. Assim, de uma forma invulgar, João Duarte Oliveira iniciava a sua primeira colecção de pins, que soma hoje mais de 6 mil, entre eles um de ouro, o mais valioso.
Mas, estes milhares não são os únicos nem, tão pouco, os mais significativos. Contudo, mesmo com este extenso espólio, este coleccionador esteve parado 27 anos. "Foram muitos anos sem recolher qualquer tipo de objectos. Hoje arrependo-me, pois se não tivesse parado, tinha uma colecção bem maior". Recomeçou, então, em 1988 "quando apareceram os calendários de bolso com os brasões das câmaras municipais portuguesas. Foi com estes que eu perdi a cabeça e nunca mais parei"- recorda. Assim, para além de aumentar a colecção que possuía, foi-se interessando por outras. Lápis de pau, porta-chaves, chávenas de café, medalhas comemorativas, esferográficas, entre outros artigos, foram engrandecendo a sua vasta colecção.
As peças mais antigas que possui são os pins e os lápis de pau, "alguns com mais de 50 anos". Porém, o seu calendário mais velho "fez este ano 100 anos". José Duarte Oliveira diz que "isto é um vício. Só quando morrer é que paro". A justificação deste facto são os 1152 calendários de bolso deste ano que já possui, e um do ano 2001.

Falta de espaço

Todos os objectos estão reunidos e expostos na Sala de Exposições Rosa Teresa de Oliveira, casa/museu do coleccionador, que lhe atribui o nome da sua única filha, "uma vez que isto é para ela"- refere.
Depois de um acordo realizado com a edilidade, a sala encontra-se aberta ao público todos os domingos, das 15 às 20 horas.
Mesmo com esse acordo, José Duarte Oliveira está "desiludido com a Câmara", pois as únicas vezes que visitaram a sua casa/museu foi na inauguração e alargamento, "fora disso nunca mais aqui vieram", afirma. Segundo o coleccionador, a autarquia tinha garantido incluir a sala de exposições nos roteiros da cidade para que a sua obra, "provavelmente a maior do país", fosse apreciada por aqueles que a visitam, mas isso ainda não sucedeu.
Situada na Rua Baptista Leitão, nº6, na zona histórica das Portas do Sol, Covilhã, a sala de exposições foi inaugurada em 1992 e alargada em 1997, devido "ao espaço se tornar cada vez mais reduzido para tudo". É nesta sala que, em vitrines, prateleiras, livros e catálogos devidamente organizados, consoante o tema, o objecto e a forma, José Duarte Oliveira guarda e expõe a colecção a quem quer visitar.

Do interior mas conhecido

Com o intuito de fazer trocas com outros amantes do coleccionismo, José Duarte Oliveira, sempre que pode, não perde as feiras e encontros que durante o ano se realizam por todo o país. Fundão, Castelo Branco, Guarda, Belmonte, Benavente, Salvaterra de Magos, Pombal, Batalha e Lisboa são alguns dos locais onde periodicamente se realizam feiras de coleccionadores, nas quais este covilhanense marca presença. "É nesses locais que mostramos o que temos, vemos o dos outros e trocamos objectos e amizades", afirma.
Todavia, sem carta de condução, nem transporte próprio, José Duarte Oliveira entristece-se ao receber "tantos convites e não poder ir". Este ano ainda só participou em Manteigas e na sua cidade, pois "não tenho transportes e os que há são caros". Mesmo sem participar em todas as feiras, este veterano não esquece de actualizar a sua colecção. Para tal, mantém contactos com coleccionadores de "todo o País e estrangeiro, sobretudo Espanha" que, pelo correio, efectuam as trocas.
A sua popularidade, aliás, não termina aqui. José Duarte Oliveira já pôde mostrar a todo o país, quando foi convidado pelo programa "SIC, 10 horas", o tamanho e beleza da sua colecção; para além de conceder periodicamente inúmeras entrevistas aos órgãos de comunicação social regionais e nacionais.

Preciosidades pessoais

Ao longo dos anos, as colecções de José Duarte Oliveira têm integrado outros tipos de peças, mais sentimentais e simbólicas. Este veterano na arte possui algumas preciosidades que se reportam ao seu passado e que, por isso, "têm um valor único". As suas primeiras botas de futebol, do Futebol Clube dos Covilhanenses, já com 54 anos, ainda as mantém em exposição. Por outro lado, a sua actividade columbófila fê-lo ter mais de 100 pombos, dos quais alguns estão agora embalsamados. Sendo fundador da Sociedade Columbófila da Covilhã, em 1937, reuniu 188 troféus, anilhas de ouro, de prata e de bronze, e diplomas que, com os pombos, expõe junto dos outros objectos.
São todas estas riquezas, umas coleccionáveis, outras insubstituíveis, que José Duarte Oliveira se nega a vender quando confrontado com possíveis compradores, aos quais responde que: "Nada se vende, nada se compra, tudo se troca". Este é o verdadeiro espírito dos coleccionistas.
Coleccionar e cuidar do que colecciona faz parte da vida diária deste amante dos objectos que, já sem muito espaço para guardar o que reuniu, não desiste de ter sempre mais, pelo menos "até que a morte me leve", afirma convictamente.






 
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