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Mães estudantes relatam as suas experiências
Filhos do acaso

POR DORA CONDE E SUSANA FERREIRA

Em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 1998, tiveram filhos 5622 raparigas entre os 17 e 19 anos. Na UBI, estas situações também existem. Elsa, Sónia e Yolanda contaram as suas histórias. Falam com orgulho dos seus rebentos. Filhos do acaso, são agora a sua razão de viver

"É mais um diploma que vou levar para a minha terra". Este não é um canudo igual a tantos outros que se recebem na faculdade. Elsa Mota, é cabo-verdiana, tem 27 anos e termina este ano o curso de Ciências da Comunicação. Para casa, leva a licenciatura e uma filha. Quando nos fala da Paula, fá-lo com um brilho no olhar: "É a minha razão de enfrentar o mundo".
Elsa veio para Portugal terminar o 12º ano. Na cidade de Viseu, decidiu tirar o curso de Relações Públicas. Em 1996, o sonho concretizou-se. Ingressou na Universidade da Beira Interior onde inicia uma nova fase da sua vida. A sua adaptação à Covilhã é difícil: "É uma cidade um bocadinho monótona. Além disso, fica muito distante de Lisboa, onde tenho família e o meu namorado."
O ano de caloira terminava quando algo de imprevisto aconteceu. Elsa estava grávida. "Ter um filho nessa altura não estava nos meus planos, mas fiquei alegre", afiança.
Paula Larissa tem agora três anos. Elsa nunca pensou deixar de estudar: "Sabia que ia ser complicado mas tive sempre o apoio da minha família. Seria mais difícil tê-la longe de mim". A Paula é uma menina calma que já compreende a tarefa da mãe. "Quando estou a estudar, ela não me incomoda". Pelo contrário. "Saio da faculdade cansada mas quando chego a casa fico bem" acrescenta a jovem emocionada.
Permanecer solteira foi uma opção. Contudo, o casamento está previsto para o final do curso. Por enquanto Paula continuará filha única. "Primeiro vamos tentar dar-lhe tudo que precisa. Depois logo se vê".

Cedo demais

O Daniel é o menino dos olhos de Sónia. Fala do seu rebento com orgulho. "É a melhor coisa que me aconteceu no mundo", confessa aquela estudante de Ciências da Comunicação. Com 16 meses, o Daniel vive com o pai e a mãe. A Sónia, ao contrário de Elsa, é casada com Michel, estudante de Gestão. No entanto, as dificuldades são idênticas. Vivem da mesada que o avô de Michel lhes dá.
Para Sónia, a vinda do filho aconteceu por pura irresponsabilidade. "Se tivesse consciência dos problemas que iriam surgir, talvez tivesse adiado a maternidade".
O dia de Sónia começa cedo. Entre aulas, o Daniel, e a lida doméstica, sobra pouco tempo para a diversão. A vida de estudante assumiu novos contornos. Os livros andam lado a lado com as fraldas e os biberões. "É claro que eu adoraria ter terminado o curso no tempo em que tinha planeado". Contudo, acrescenta, "não podemos ter pena do que não existe".

Solidariedade estudantil

Logo à entrada, sobressai um acessório pouco usual numa casa de estudantes. Um carrinho de bebé que pertence ao Renato. Rodeado de brinquedos, recebe-nos com um sorriso. Com oito meses, ainda não compreende a ausência do pai e as dificuldades da mãe.
Yolanda Carvalho tem 19 anos mas já carrega uma grande responsabilidade. As noitadas na discoteca deram lugar a noites mal dormidas a cuidar do Renato. Mas não está arrependida. "Quando soube que estava grávida fiquei surpresa, mas o aborto estava fora de questão".
O pai do Renato é que gostou pouco da noticia. Hoje, aceita a criança, mas a relação terminou. Yolanda vive com uma colega e conta com a solidariedade dos outros para criar o filho. "Os amigos ajudaram-me muito. Sem eles não teria sido possível".
Um agradecimento à comunidade estudantil, que nunca a desamparou. "Uma vez, não tinha dinheiro para pagar a renda de casa e a minha turma juntou dinheiro para me ajudar." O Renato está no infantário porque "os meus amigos foram falar com o responsável. Assim, não tenho que pagar nada", acrescenta esta aluna de Engenharia Aeronáutica.

O apoio da UBI

Neste caso, a UBI também ajudou. Concede a esta estudante, natural de Angola, a quantia de 40 mil escudos. "Como sou estudante estrangeira, não teria direito a bolsa, mas a universidade abriu uma excepção". Para além de dinheiro, o apoio moral é também muito importante.
O padre Luciano foi uma das pessoas que mais a apoiou. O capelão da UBI recorda-se bem de Yolanda. "Ela assumiu e enfrentou o meio estudantil". Na sua opinião, a universidade, "por ser um ambiente mais elitista e mais fechado, pode criar dificuldades". No entanto, este não é o caso da UBI. "Há - enfatiza - uma solidariedade natural na Covilhã que não existe nas grandes cidades."
Para o pároco a missão da Igreja é "ajudar estas mulheres a encarar a realidade". Por isso, estas situações têm que ser tratadas com "sensibilidade, abertura e preocupação". É também importante partilhar a experiência com os pais e amigos, para uma maior "mentalização" da sociedade.






 
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