Desde 'Os Idiotas' que não
via uma mistura tão possante de alegria e tristeza,
delicadeza e brutalidade.
Boys don't cry salta da tela e dá duas festas na cara,
logo seguido de duas chapadas. E o mais interessante (mas
também o mais
triste) é que se baseia numa história real.
Passado na américa rural, branca, pobre, e sexista, este
filme capta (em grande parte devido à fotografia e
à banda sonora)
a crueza da vida numa zona agreste onde os "red
necks" imperam e de onde
os "freaks" desaparecem. E é neste
cenário que Teena Brandon
/ Brandon Teena, a rapariga que quer ser rapaz vai nascer e
tentar sobreviver. Com
muito amor e ódio, violência e carinho à mistura,
num jackpot emocional que dificilmente deixará o
espectador indiferente.
O conjunto de actores e actrizes é muito coeso e transmite
excepcionalmente bem a dimensão psicológica das
personagens (porque é que em Portugal não
há direcção de
actores e/ou actuações assim?), fazendo de facto
com que o espectador creia que (e cá
voltamos ao exemplo do Dogme #2, mas também dos outros Dogmes) está
perante pessoas que 'de facto' estão a viver aquelas situações
e não meros actores que se levantam do chão poeirento
do Nebraska após o "corta!".
E é assim uma maneira de se fazer bons filmes - com boas
histórias e boas actuações.
Pedro Homero |