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Manuel José dos
Santos Silva |
O futuro da Universidade
- algumas
reflexões
Não é fácil falar sobre o futuro da Universidade
em poucas palavras, pois os últimos tempos têm sido
tão pródigos em transformações, que
ainda agora se teorizam os acontecimentos mais recentes. Na verdade,
a complexidade da vida actual e a evolução para
uma economia global de mercado, altamente competitiva, conduziram
a novas necessidades que, por sua vez, implicam constantes ajustamentos
por parte das instituições. E a verdade é
que as mudanças são mais rápidas do que
a capacidade de adaptação a nível organizacional.
O ensino universitário deve ser encarado como estrutura
de criação de novos conhecimentos que ultrapassem
os limites do saber em todas as áreas, e cada indivíduo
deve ser preparado ao mais alto nível, quer para poder
intervir no sistema económico global, quer para poder
adaptar-se às constantes transformações
que o mundo moderno impõe. Para isso, por um lado, há
que ultrapassar as fronteiras do sistema educativo de cada país
e facilitar a mobilidade ao nível internacional; por outro,
é preciso apostar cada vez mais na pós-graduação
e na formação profissional ao longo da vida.
Este aumento do leque de objectivos traz novas responsabilidades
à Universidade que, cada vez mais, tem de dar resposta
às mais variadas exigências e expectativas da sociedade.
Porém, estas novas exigências colidem, frequentemente,
com estruturas existentes, restrições financeiras,
disponibilidade de meios e outros factores, que acabam por se
traduzir em novos e difíceis desafios ao nível
da gestão de recursos.
"Mudança" é, pois, a palavra que define
os tempos que se aproximam. E esta evolução deverá
ser operada a vários níveis - em especial no que
respeita à estratégia e às estruturas -,
com suficiente rapidez para que não sejamos ultrapassados
pelas transformações do exterior: a era digital
e o mundo do multimédia, o ritmo do progresso científico
e tecnológico, a globalização, os novos
modelos de trabalho (inovação, criatividade, dinamismo
)
e a complexidade de tantos problemas político-sociais,
emergentes neste fim de século.
No caso específico da Universidade da Beira Interior,
a criação e desenvolvimento de novos espaços,
de que é exemplo o futuro Cybercentro, que funcionará
como um espaço aberto à comunidade, de demonstração
prática e de fomento das novas tecnologias da informação,
comunicação e multimédia, bem como a construção
da Faculdade de Ciências da Saúde, a instalar no
Pólo III, junto ao Hospital da Cova da Beira, constituem,
nos próximos anos, dois dos nossos grandes desafios.
Paralelamente, serão criados novos cursos, a maioria dos
quais ditados pelas necessidades do País em termos de
procura. A licenciatura em Medicina, onde a inovação
constitui o objectivo principal, terá início no
ano 2001 e será baseada num ensino com integração
de conteúdos, com uma componente tutorial no acompanhamento
dos alunos, e promoverá a sua inserção e
aprendizagem, desde primeiro ano, nas instituições
de saúde, nomeadamente nas do domínio do ambulatório.
Mas outras licenciaturas vão entrar em vigor já
no próximo ano lectivo, na área das Artes e Letras:
Design Multimédia, Design Têxtil e do Vestuário,
Português/Inglês e Português/Espanhol. A Universidade
da Beira Interior consolida assim a Unidade de Artes e Letras,
rentabilizando os recursos humanos e proporcionando-lhe a massa
crítica indispensável à qualidade do ensino
e da investigação.
Estes exemplos podem dar uma ideia de alguns dos projectos da
UBI. Todavia, há que repensar os métodos de previsão
e combiná-los com estratégias de longo prazo, elaboradas
com base em cenários possíveis, e aumentar a velocidade
de acção e reacção, desenvolvendo
capacidades adicionais em recursos essenciais. Se a isto somarmos
uma maior cooperação com outras instituições
e algum espírito de marketing, será então
possível atingir um equilíbrio favorável
ao desenvolvimento da própria Universidade, com todos
os benefícios daí resultantes.
Não podemos correr o risco de ver aumentado o fosso entre
a Universidade e a Sociedade, e esse é o principal desafio
que a Instituição Universitária deverá
encarar no Século XXI. Mas só o tempo dirá
o que nos reserva o futuro. |
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