José Dias, da ACM da
Covilhã
Um cesteiro com asas
nos pés
Com uma carreira desportiva
iniciada na década de 80, o atleta da ACM é um
modelo a seguir. Construiu um invejável currículo
onde se destacam inúmeras medalhas e vários recordes.
O último foi alcançado na Suécia, onde estabeleceu
a nova marca mundial de marcha em pista coberta
José Manuel Jesus Dias
nasceu a 16 de Janeiro de 1970, em S. Jorge da Beira. Localidade
onde todos os dias apanha o autocarro que o conduz ao Centro
de Educação Especial da ACM da Covilhã.
O "Zé", como o preferem chamar os amigos, trabalha
no departamento de cestaria da instituição. Coloca
asas em revestimentos de vime para garrafas e garrafões,
trabalho que adora fazer, e que, segundo o próprio, "é
mais fácil do que marchar e correr".
A sua actividade desportiva começa em 1987, ao representar
a equipa de futebol da ACM nos "Special Olympics" em
Viana do Castelo. Nesse ano a equipa alcançou um modesto
7º lugar, mas no ano seguinte, em Coimbra, Dias foi considerado
o melhor guarda-redes da prova.
Em 1989 o atleta deixa o futebol e dedica-se ao atletismo. Nos
"Special Olympics" de Tomar, conquista o primeiro lugar
na prova de 1500 metros. Estava dado o mote para uma brilhante
carreira no atletismo, pois desde esse dia até hoje o
seu currículo desportivo mais não é que
um avolumar de vitórias e de recordes, quer a nível
nacional quer a nível internacional.
O seu feito mais recente foi alcançado no último
Campeonato do Mundo de pista coberta, realizado em Bollnas -
Suécia, entre 7 e 13 deste mês. Dias alcançou
o primeiro lugar da prova estabelecendo uma nova marca internacional:
16 minutos e 10 segundos, recorde que perseguia há dois
anos.
"Treinei bastante", justifica o atleta da ACM que agora
está parado, por força de uma lesão no joelho
contraída na última prova, e a recuperar para o
próximo Grande Prémio Internacional de marcha atlética,
a disputar em Abril próximo em Rio Maior.
A Selecção e
as Olimpíadas
Segundo Fátima Brito,
treinadora de José Dias e de outros atletas da associação,
a prestação do marchador na Suécia "foi
beneficiada por todo um projecto de trabalho e um trajecto evolutivo
desde que começou a treinar". José Dias iniciou-se
nos 1500 metros e foi subindo progressivamente para os três
mil e para os cinco mil metros, "nunca descurando as distâncias
mais pequenas", continua a treinadora, que adianta ainda
que o atleta "tem capacidade para avançar até
aos 10 mil metros".
José Dias, que até preferia ser jogador de futebol
na sua equipa preferida, o Sporting da Covilhã, é
neste momento uma unidade fundamental na Selecção
Nacional de "atletismo adaptado" e o expoente máximo
a nível de marcha. Isto porque a Polónia e, mais
recentemente, a Espanha são, juntamente com Portugal,
as grandes potências europeias de atletismo adaptado. "Uma
vez que nem a Polónia nem a Espanha têm grandes
marchadores", explica Fátima Brito, "o José
torna-se num elemento essencial para amealhar pontos para a classificação
colectiva final".
Quanto à participação de José Dias
nos Jogos Olímpicos de Sidney, tudo depende da decisão
do Comité Olímpico de formalizar a marcha atlética
como modalidade olímpica para desporto adaptado. A treinadora
mostra-se, neste aspecto, optimista, uma vez que a modalidade
já foi formalizada para os campeonatos europeus e mundiais.
Treinos na Guarda
Uma das grandes mágoas
quer dos atletas quer da treinadora e do presidente da ACM, Joaquim
Gaspar, é a inexistência de um estádio ou
um pavilhão na Covilhã para que atletas como José
Dias possam treinar.
Sempre que se aproxima uma prova, ele e a treinadora têm
que se deslocar à Guarda ou a Rio Maior, quando se trata
de estágios da Selecção Nacional, para fazer
a preparação física em condições
aceitáveis, ou então fazer os seus treinos habituais
em estrada.
"A cidade não possui infra-estruturas onde se possam
desenvolver, não só a marcha, mas também
outras modalidades para o desporto adaptado", lamenta o
responsável máximo da associação,
que revela ter solicitado, por várias vezes, ajuda à
Câmara Municipal da Covilhã sem que, completa, "os
nossos pedidos e reivindicações tenham sido ouvidos".
Por esta razão, a ACM depende das contribuições
anónimas de algumas empresas da Região.
Alexandre S. Silva
NC / Urbi et Orbi |