Associação de
Protecção e Apoio ao Animal Errante
Vida de Cão
Vivem ao relento, comem
o nosso lixo, são enxotados por quem passa, são
um incómodo para a sociedade que
passa, de olhos "distraídos" ao seu corpo fraco
e olhar profundamente triste. São os animais que outros
deitaram ao lixo. Vagueiam pelas ruas até que a "rede"
passe para seu eterno repouso. Em Castelo Branco já há
um canil que os recolhe e procura encontrar lares de adopção.
Na Covilhã começam agora os primeiros esforços
para fundar uma instituição similar.
O Urbi et Orbi visitou as instalações da Associação
de Protecção e Apoio ao Animal Errante - APAAE
e ficou a conhecer a solução dada pela Câmara
Municipal de Castelo Branco ao problema dos animais errantes.
Por lá viu cães abandonados, mas principalmente
cadelas prenhes. Ali alguns conhecem pela primeira vez o amor
dos humanos e o deleite de uma refeição.
Agora, na Covilhã, um grupo de pessoas está a reunir
assinaturas para subscrever a criação de uma associação
similar. Dizem-se descontentes com o serviço camarário
do canil que consideram "desumano e criminoso" e pretendem
ser recebidos pelo vereador responsável pelo actual canil,
Joaquim Matias.
Como a APAAE existem já várias Associações
deste género no País. Cuidar e arranjar um destino
condigno aos animais errantes são iniciativas que adquirem
cada vez mais relevo noutras cidades portuguesas: Coimbra, Aveiro,
Porto, Viseu, Guarda, e Fundão. Em Castelo Branco existe,
desde Março de 1999, a APAAE.
O Urbi et Orbi visitou as instalações em que recebem
os animais abandonados, nos terrenos anexos aos viveiros camarários,
com capacidade aproximada para 40 cães, e ficou a conhecer
a solução dada pela Câmara de Castelo Branco
ao problema dos animais errantes. Este tipo de associações
funcionam, um pouco por todo o país, com o apoio financeiro
camarário e doações do cidadão comum.
A APAAE é um modelo para os entusiastas da Covilhã
que querem proteger os animais abandonados. Desde a sua formação,
a associação já acolheu e reencaminhou para
adopção cerca de 100 animais, entre cachorros e
cães adultos, principalmente fêmeas. Neste momento
guardam cerca de 30 animais, e ainda sete cachorros e sete bebés
prestes a nascer, de uma cadela que foi abandonada em plena gravidez.
Os sócios responsáveis da APAAE tomam conhecimento
da existência de animais "em risco" através
de denúncias de abandono dos animais.
Falamos com Maria do Rosário Ferreira de Almeida, natural
de Castelo Branco e sócia fundadora número sete
da APAAE. Todos os dias, a par das suas funções
como professora de Geografia na Escola Secundária Nun'Álvares,
cuida das instalações e dos animais, frequentemente
necessitados de acompanhamento médico. Esse acompanhamento
é prestado de forma gratuita pelo veterinário Ferreira
Monteiro, presidente da mesa da Assembleia Geral da APAAE, e
outros veterinários das clínicas Albivet e Alcampo.
Mas, Maria do Rosário afirma com orgulho que, graças
à sua dedicação, nem sempre é necessária
a consulta do veterinário. "Já aprendi a reconhecer
as doenças e a ministrar os medicamentos apropriados",
afirma. Foi o próprio Ferreira Monteiro que a ensinou
a dar injecções, que no início lhe "suavam
as mãos de medo".
A adopção
Na tarde em que visitamos a APAAE,
Rosário tinha oficializado outra adopção.
O cão tinha sido encontrado numa estrada do concelho e
foi recolhido com a ajuda de uma corda para o veículo
de transporte oficial da APAAE, um
Renault 5 comercial oferecido pela autarquia. Já nas instalações,
seguiu-se o processo habitual com a ajuda de Filipa Cabaço,
voluntária da APAAE. Depois da desparasitação
interna e externa, o cão foi instalado junto dos restantes
animais. Preencheram uma ficha com os dados do animal: data de
entrada, idade, sexo, raça, nome, doenças, tratamento.
Agora fica-se a aguardar o preenchimento de "data de saída"
e "adoptado por".
"Quem deseja adoptar um animal, desloca-se aos canis da
APAAE e escolhe o que lhe agradar. Não tem de pagar nada,
mas sempre pode deixar um donativo para ajudar", explica
a responsável.
O voluntariado
Filipa Cabaço, de 20 anos,
estudante, é natural de Castelo Branco. Teve conhecimento
da existência da instituição através
de um anúncio publicado no semanário "A Reconquista",
onde pediam donativos. Ofereceu-se como voluntária. Todos
os fins de semana, desde há 6 meses, colabora com a APAAE.
"Gosto muito de cá estar e poder ajudar. Adoro todos
estes cães", afirma. A sua ajuda é preciosa,
pois as principais dificuldades que enfrentam são os escassos
recursos humanos e financeiros. "Encontrar voluntários
com disponibilidade para cuidar dos animais é extremamente
complicado. É preciso voluntariado que goste de animais",
reforça Rosário Ferreira de Almeida.
Albicastrenses colaboram
Anualmente, a autarquia atribui
300 mil escudos para ajudas, a Junta de Freguesia, 50 contos
e os cerca de 200 sócios pagam a sua quota no valor de
1200 escudos anuais. "Neste momento, dos 200 sócios,
só 40 pagaram as quotas de 2000. Esta
situação compromete o sucesso e a expansão
da Associação", refere Maria do Rosário.
Um deficiente orçamento, 590 contos, que exige um esforço
económico suplementar dos voluntários. "A
CMCB é a grande apoiante. Aliás, esta iniciativa
só é possível graças à parceria
que se criou. Para além do subsídio em dinheiro,
faz as obras e fornece a água para as lavagens",
garante Maria do Rosário.
A Associação é bem vista pela comunidade
albicastrense. Às instalações da APAAE chegam
regularmente donativos, alimentícios e medicamentosos,
da população em geral e de várias casas
comerciais da cidade que fazem descontos à instituição
e aos seus sócios.
Rosário não tem dúvidas em afirmar: "Vale
a pena! Lamento que não existam organizações
destas nos outros concelhos. Para isso é imprescindível
a colaboração activa por parte de entidades como
câmaras".
Covilhanenses unem esforços
De mão em mão,
pela cidade da Covilhã, um grupo de cidadãos está
a passar um documento de sensibilização para a
criação de uma Organização Não
Governamental (ONG) semelhante à APAAE, com sede na cidade.
O Urbi contactou uma das pessoas envolvidas neste projecto, que
tem vindo a reunir vários adeptos. Maria José Tomás,
Administrativa Especialista da Secção Autónoma
de Ciências da Educação, encabeça
a lista de docentes, funcionários e estudantes da UBI
que está a despontar para esta iniciativa.
"É uma forma de oficializar as acções
que particularmente temos levado a cabo. Já temos recolhido,
tratado e entregue a famílias os animais que nos aparecem
à porta. Chega a uma altura em que esgotamos essas possibilidades,
mas se efectivamente existisse um espaço próprio
poderíamos manter os animais em boas condições",
defende Maria José.
O projecto é ainda um feto, está em preparação
uma audiência com o vereador responsável, Joaquim
Matias. "Somos pessoas sensíveis em relação
a tudo o que seja injustiça e desumanização.
Há já algum tempo que andamos a pensar nisto, só
que meia dúzia de vontades não chegam, exige muito
empenhamento", justifica.
Foi através do conhecimento do funcionamento da APAAE
que começaram a perspectivar outra solução
mais simples para esta vontade. Outras Associações
contam com o apoio das autarquias que têm verbas específicas
para estas acções. Os objectivos deste grupo são
recolher os animais abandonados, "em vez de serem recolhidos
pelo canil e abatidos, e educar as pessoas para que essa situação
não aconteça".
"A situação actual que se vive na Covilhã
é muito lamentável. Para além da rede sair
quase todos os dias, é um espectáculo muito degradante,
triste, feroz e humilhante para os animais e para as pessoas
que são obrigadas a conviver com esta realidade",
acrescenta Maria José Tomás.
Em certas alturas conseguem recolher alguns animais antes de
serem "apanhados pela rede". Sentem-se revoltados com
o facto e por isso querem apresentar uma solução:
"Temos que andar sempre a 'olhar para o lado' porque todos
os dias se vêem animais nesta situação e
é difícil lidar com a impossibilidade de os salvar".
Raquel Fragata |