" É uma das imagens
que me ficaram da Hanna. Memorizei-as, consigo projectá-las
numa tela interior e olhá-las, imutáveis, sem desgaste.
Por vezes não penso nelas durante muito. Mas acabam sempre
por me voltar ao pensamento, e pode então acontecer ter
de as projectar repetidamente umas atrás das outras na
minha tela interior, e ter de as olhar."
O Leitor, obra publicada em 1995
e que saiu para as livrarias portuguesas no último mês
de 1998, foi considerado, aquando da sua publicação,
como um dos mais importantes romances alemães da década
de 90.
O leitor do livro, jurista de profissão, partindo de um
enredo propício a considerações de ordem
filosófica e moral, indaga ainda sobre uma série
de questões que passam pela reflexão acerca das
possibilidades de uma pessoa conhecer realmente outra, ou pela
legitimidade da geração que se seguiu ao Holocausto
julgar a que lhe antecedeu.
O leitor a que se refere o título da obra é Michael
Berg, um adolescente de 15 anos, que inicia a sua vida amorosa
com Hanna Schmitz, uma bela e misteriosa mulher de 36 anos, e
que mantém com ela uma intensa relação que
dura até ao momento em que esta desaparece da cidade em
que ambos viviam. Os seus encontros passavam-se como se dum ritual
se tratasse: primeiro tomam banho, depois ele lê para ela
e seguidamente, fazem amor.
Michael volta a reencontrar Hanna quando esta está a ser
julgada por ser uma ex-guarda nos campos de concentração
nazis. A partir deste momento, o rapaz procura estabelecer um
paralelo entre a mulher que conheceu e amou e a mulher que é
acusada de ter pactuado com um regime de horror e morte.
Michael, ele próprio um estagiário no tribunal
em que Hanna é julgada, confronta a sua consciência
com o intuito de saber se se apaixonou por uma mulher cruel e
sem escrúpulos, ou por alguém que, por muito que
os seus actos nos horrorizem, terá sido de algum modo
uma vítima. É que Michael conhece algo que Hanna
procura ocultar de todos...
Pedro Jesus
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