Avaliação, valia e
valor
A ideia e a prática de uma auto-avaliação
contínua adquiriram na Universidade da Beira Interior
um lugar de destaque na vida académica. Provavelmente
nenhuma outra universidade em Portugal terá um sistema
de auto-avaliação mais intenso e completo. Por
um lado, isso deve-se, inquestionavelmente e em grande medida,
ao mérito pessoal de quem tem liderado o processo de avaliação
interno. Por outro lado, constitui uma forte resposta a posteriori
à impreparação e deficiências com
que a UBI foi confrontada, há já alguns anos, nas
primeiras avaliações externas que teve, por parte
da Ordem dos Engenheiros e da Comissão de Avaliação
Externa das Universidades.
Mas sendo a auto-avaliação um meio e não
um fim, convém aferi-la, pelo menos de quando em vez,
relativamente aos fins que visa. E o que a auto-avaliação
de uma universidade tem de fazer é avaliar a qualidade
do ensino e da investigação que se fazem na universidade,
em ordem a melhorá-los. O fim, o objectivo, há
que sublinhá-lo, é a melhoria do ensino e da investigação.
E isto é muito importante, pois que, não sendo
assim, a auto-avaliação seria um exercício
inútil de auto-miragem, à semelhança de
quem se visse ao espelho apenas para se ver, por prazer ou vício.
Toda a avaliação, mas sobretudo a auto-avaliação,
tem de visar a melhoria da qualidade.
Dito isto, entendida a auto-avaliação como um instrumento
apenas da melhoria da qualidade e não como sinónimo
de qualidade, há que distinguir entre o valor pedagógico
e científico de uma instituição e a qualidade
do seu sistema de auto-avaliação. Uma universidade
pode ter muito valor, ser excelente no ensino e na investigação
e não ter qualquer sistema de auto-avaliação,
e sabe-se que é excelente no ensino pela qualidade dos
seus licenciados e excelente na investigação pelo
reconhecimento das publicações dos seus docentes.
E, ao invés, uma universidade pode ter um sistema de auto-avaliação
muito bem montado, e não ser boa, nem no ensino nem na
investigação.
A primeira tarefa de quem trabalha na universidade é estudar,
ensinar e investigar. Para o fazer bem todas as suas energias
são poucas. É isto que qualquer processo de avaliação
tem de ter muito em atenção. O valor a avaliar
está na qualidade do ensino, em aulas bem dadas, programas
bem feitos e actualizados, boas bibliografias, e na qualidade
da investigação, em livros e artigos publicados.
O fundamental está nisto. Tudo o que servir para isto
está bem, tudo o que estorvar isto está mal. É
que pode suceder que o afã de auto-avaliar prejudique
o bom ensino e a boa investigação.
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