Ligação permanente
entre a Cova da beira e o litoral do país
Governo estuda túneis
na Serra da Estrela
Um projecto revolucionário
para a região. O Governo aguarda os estudos de rentabilidade
económica. Uma obra em que os privados podem assumir um
papel relevante
O Governo pode avançar dentro de
alguns anos com a construção de túneis que
atravessem o maciço central da Serra da Estrela para servirem
a circulação rodoviária entre a Covilhã
e Gouveia. Uma ligação permanente que, a concretizar-se,
põe fim às dificuldades na deslocação
de pessoas e bens a partir da zona da Covilhã para o Litoral
Centro.
O primeiro estudo sobre esta obra esteve a cargo de João
Cravinho, ex-ministro de António Guterres. O custo estimado
ascende a 24 milhões de contos. Mas o montante parece
não assustar Jorge Coelho, actual ministro do Equipamento
Social, que tenciona materializar o estudo encomendado pelo seu
antecessor.
O estudo prevê a construção de uma ligação
de quase 33 quilómetros entre Teixoso e Paços da
Serra, a Sul da Gouveia, com passagem por Manteigas. A solução
defendida pelos responsáveis do projecto prevê a
abertura de três túneis: dois na ligação
Covilhã-Manteigas, com 2,2 e 1,8 quilómetros respectivamente,
e o outro, de 8,6 quilómetros, na ligação
de Manteigas para a Estrada Nacional nº 17, entre Gouveia
e Seia. No caso de ser construído, o terceiro túnel
será o maior de Portugal.
Concessão a privados
Além dos três túneis, o projecto de atravessamento
da Serra da Estrela prevê a construção de
vários viadutos, nomeadamente nas travessias das ribeiras
de Atalaias e de Beijames e do rio Zêzere. Devido à
grandiosidade da obra, o documento aconselha ainda a realização
de uma análise benefícios/ custos muito rigorosa
"para sustentar a sua viabilidade económica".
A fim de aumentar a rentabilidade do projecto, sugere também
a concessão a privados da exploração de
vários troços de estrada: a transposição
da Serra da Estrela entre a Covilhã e a EN 17 (futuro
IC7) a sul de Gouveia; a ligação entre a EN 17,
nas proximidades de Seia, até próximo de Nelas
(IC 12), em perfil de auto-estrada; e a exploração
do actual IC 12 entre Canas de Senhorim e o Rojão e Anadia
(A1) e do troço Canas de Senhorim-Mangualde.
A concessão, em princípio, seria feita em regime
de exploração sem cobrança ao utente e com
portagem nos túneis da Serra da Estrela.
Sócrates viabiliza
Sobre o fluxo de tráfego, as estimativas apontam que vão
utilizar a nova via apenas 4300 veículos por dia. Mas
a última palavra sobre a decisão final do atravessamento
da Serra da estrela caberá, sempre, a José Sócrates,
ministro do Ambiente. Apesar do novo percurso atravessar uma
área protegida, a posição do ministro não
deve, no entanto, ser desfavorável. Sócrates já
afirmou mesmo que a nova ligação do túnel
até poderá "ter impactes ambientais positivos".
Um projecto de muitos milhões, no qual os critérios
políticos podem ter um peso crucial na decisão
final.
Sobre este projecto estruturante para a Região Centro,
o presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela
(RTSE), Jorge Patrão, lembrou, em declarações
ao jornal Público, que foi a RTSE que elaborou o estudo
prévio e o entregou em Agosto último, ao secretário
de Estado das Obras Públicas, Maranha das Neves. Por esta
razão conclui: "Será uma grande medida, que
permitirá, pela primeira vez na História, um intercâmbio
entre as populações das vertentes norte e sul da
Serra".
NC / Urbi et Orbi |