Autonomia e liberdade
de escolha:
Condição de crescimento
Gostava de escrever algumas palavras relacionando algumas das
notícias recentes do jornal. São elas "o deserto
de Sortelha", a "falta de um colégio no Interior"
e o "calendário académico".
À primeira vista nada têm em comum. Mas vou tentar
provar o contrário.
Durante esta ainda muito recente estada no MidWest americano,
mais propriamente na Universidade de Illinois at Urbana Champaign,
o tempo é fundamentalmente ocupado com trabalho de leitura,
reflexão e escrita, mas consegui também um espaço
(às vezes parece até muito grande) para lazer quase
sempre ocupado com passeios a pé e ida a espectáculos
diversos.
Durante esses mesmos passeios é frequente dar por mim
a pensar em Portugal, no Interior e na Covilhã mais especificamente,
quase sempre com uma sensação de que temos tudo,
mas tudo que a Natureza pode dar de necessário para termos
um melhor nível de vida, mas efectivamente não
o conseguimos com a qualidade que gostaríamos. Cos
diabos, os Estados Unidos têm pouco mais
de duzentos anos e nós
temos 4 vezes mais. Eu próprio, que sou a mesma
pessoa, sinto-me de alguma forma diferente aqui, quase que "puxado"
para trabalhar com mais rigor de utilização do
tempo do que na Covilhã. E, com efeito, descontado o efeito
de ausência de família e amigos, julgo que é
o "ambiente urbano" o responsável por essa situação.
É em torno das actividades da cidade que se criam as sinergias
estimulantes, em grande medida fortemente correlacionadas com
o que se faz na Universidade.
Mas para além deste ambiente que se cria, é certo
que com mais gente, mas que poderia ser igualmente bom com uma
escala
menor, existe uma coisa muito importante que se chama AUTONOMIA
E LIBERDADE DE ESCOLHA.
Primeiro o Colégio privado. A grande modificação
que o sistema de ensino secundário tem de conseguir é
o da educação para a autonomia. Não se pode
continuar a educar ensinando apenas oralmente, com repetições,
melhor ou pior conseguidas, de livros e diversas fontes produzidos
por outros. Isso pode-se fazer nas escolas existentes a não
ser que se considere que só com "novos" professores.
Embora com grandes problemas, o ensino secundário americano
exige muito mais capacidade de auto-organização
e disciplina aos jovens, que entram na Universidade mais familiarizados
com este ambiente.
Segundo Sortelha. Não se pode arranjar uma aldeia histórica,
pondo-a muito bonita e depois pedir preços incomportáveis
para a maioria das bolsas dos portugueses que poderiam lá
ir. É óbvio que os turistas endinheirados têm
outros sítios para onde ir. Quem gosta destes locais mais
bucólicos é um público completamente diferente.
O Estado subsidiou programas, arranjaram-se as casinhas, mas
retirou-se quase por completo a vida da aldeia. Ninguém
quer visitar museus e ficar neles, a não ser que tenham
vida própria e actividades interessantes. São também
precisas ideias, competências e autonomia de gestão
dos projectos de recuperação, o que constituiria
um excelente mercado de trabalho para os nossos licenciados que
estudaram marketing e comunicação.
Terceiro o calendário académico. Pelo que me apercebi
está a levantar uma questão claramente importante
e não pode ser decidido administrativamente, sob pena
de se criarem clivagens irremediáveis na performance,
já baixa, da UBI. Também aqui a lição
que aqui tenho recebido é interessante. Os cursos funcionam em
4 estações, como as estações do ano
Spring, Summer I, Summer II e Fall e nem sempre funcionam
todos os cursos. Por exemplo, pode acontecer que a mesma disciplina
seja assegurada 3 estações seguidas e depois esteja
outras três sem funcionar porque o professor responsável
está com outras tarefas. O aluno tem a planificação
do que vai acontecer em todo o ano seguinte e inscreve-se com
seis meses de antecedência nas respectivas disciplinas.
Por outro lado, há cursos cujas aulas e os trabalhos práticos
estão completamente disponíveis na Net, de forma
a que cada aluno possa decidir o seu percurso uma vez que é
avisado de quais as disciplinas que deveria dominar antes de
frequentar aquela.
Tudo aparentemente simples. Nada que não se saiba. Mas
tudo exige uma grande autonomia e capacidade de saber escolher,
em cada momento, o rumo que devera seguir. Escolhido o rumo e
decidindo, depois são fáceis de conseguir os aspectos
burocráticos. Aqui sim, eles são mesmo eficientes
e o sistema funciona.
O quarto ponto, apenas uma referência à tão
pequena participação dos professores da UBI neste
EXCELENTE forum de troca de ideias e aprendizagem.
Não têm tempo, preferem ler os outros ou receiam
emitir a sua opinião? Seria bom que se pensasse nisso...
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