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Pedro Guedes de Carvalho


Autonomia e liberdade de escolha:
Condição de crescimento

Gostava de escrever algumas palavras relacionando algumas das notícias recentes do jornal. São elas "o deserto de Sortelha", a "falta de um colégio no Interior" e o "calendário académico".
À primeira vista nada têm em comum. Mas vou tentar provar o contrário.
Durante esta ainda muito recente estada no MidWest americano, mais propriamente na Universidade de Illinois at Urbana Champaign, o tempo é fundamentalmente ocupado com trabalho de leitura, reflexão e escrita, mas consegui também um espaço (às vezes parece até muito grande) para lazer quase sempre ocupado com passeios a pé e ida a espectáculos diversos.
Durante esses mesmos passeios é frequente dar por mim a pensar em Portugal, no Interior e na Covilhã mais especificamente, quase sempre com uma sensação de que temos tudo, mas tudo que a Natureza pode dar de necessário para termos um melhor nível de vida, mas efectivamente não o conseguimos com a qualidade que gostaríamos. C’os diabos, os Estados Unidos têm pouco mais de duzentos anos e nós temos 4 vezes mais. Eu próprio, que sou a mesma pessoa, sinto-me de alguma forma diferente aqui, quase que "puxado" para trabalhar com mais rigor de utilização do tempo do que na Covilhã. E, com efeito, descontado o efeito de ausência de família e amigos, julgo que é o "ambiente urbano" o responsável por essa situação. É em torno das actividades da cidade que se criam as sinergias estimulantes, em grande medida fortemente correlacionadas com o que se faz na Universidade.
Mas para além deste ambiente que se cria, é certo que com mais gente, mas que poderia ser igualmente bom com uma escala menor, existe uma coisa muito importante que se chama AUTONOMIA E LIBERDADE DE ESCOLHA.


Primeiro o Colégio privado. A grande modificação que o sistema de ensino secundário tem de conseguir é o da educação para a autonomia. Não se pode continuar a educar ensinando apenas oralmente, com repetições, melhor ou pior conseguidas, de livros e diversas fontes produzidos por outros. Isso pode-se fazer nas escolas existentes a não ser que se considere que só com "novos" professores. Embora com grandes problemas, o ensino secundário americano exige muito mais capacidade de auto-organização e disciplina aos jovens, que entram na Universidade mais familiarizados com este ambiente.


Segundo Sortelha. Não se pode arranjar uma aldeia histórica, pondo-a muito bonita e depois pedir preços incomportáveis para a maioria das bolsas dos portugueses que poderiam lá ir. É óbvio que os turistas endinheirados têm outros sítios para onde ir. Quem gosta destes locais mais bucólicos é um público completamente diferente. O Estado subsidiou programas, arranjaram-se as casinhas, mas retirou-se quase por completo a vida da aldeia. Ninguém quer visitar museus e ficar neles, a não ser que tenham vida própria e actividades interessantes. São também precisas ideias, competências e autonomia de gestão dos projectos de recuperação, o que constituiria um excelente mercado de trabalho para os nossos licenciados que estudaram marketing e comunicação.


Terceiro o calendário académico. Pelo que me apercebi está a levantar uma questão claramente importante e não pode ser decidido administrativamente, sob pena de se criarem clivagens irremediáveis na performance, já baixa, da UBI. Também aqui a lição que aqui tenho recebido é interessante. Os cursos funcionam em 4 estações, como as estações do ano – Spring, Summer I, Summer II e Fall e nem sempre funcionam todos os cursos. Por exemplo, pode acontecer que a mesma disciplina seja assegurada 3 estações seguidas e depois esteja outras três sem funcionar porque o professor responsável está com outras tarefas. O aluno tem a planificação do que vai acontecer em todo o ano seguinte e inscreve-se com seis meses de antecedência nas respectivas disciplinas. Por outro lado, há cursos cujas aulas e os trabalhos práticos estão completamente disponíveis na Net, de forma a que cada aluno possa decidir o seu percurso uma vez que é avisado de quais as disciplinas que deveria dominar antes de frequentar aquela.


Tudo aparentemente simples. Nada que não se saiba. Mas tudo exige uma grande autonomia e capacidade de saber escolher, em cada momento, o rumo que devera seguir. Escolhido o rumo e decidindo, depois são fáceis de conseguir os aspectos burocráticos. Aqui sim, eles são mesmo eficientes e o sistema funciona.
O quarto ponto, apenas uma referência à tão pequena participação dos professores da UBI neste EXCELENTE forum de troca de ideias e aprendizagem.
Não têm tempo, preferem ler os outros ou receiam emitir a sua opinião? Seria bom que se pensasse nisso...






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