Teatro Experimental de Medicina
de Lisboa
"Black Comedy"
às escuras
Coube ao TEMA, Teatro Experimental de Medicina, a tarefa de trazer
ao ciclo a peça mais assumidamente cómica, "Black
Comedy", da autoria do inglês Peter Shaffer. Toda
a peça é uma sucessão de encontros e desencontros
entre personagens, do choque de personalidades, e em última
análise, do desvendar de enganos e mentiras que se estabelecem
entre um grupo de pessoas.
A peça não podia começar de modo mais esclarecedor:
Miguel e Carolina, movimentam-se no escuro como se possuíssem
toda a luz de que necessitam. No momento da acção
em que as luzes se apagam, é que o público pode
ver, pela primeira vez, o cenário em que tudo se passa.
Esta é uma noite muito importante para Miguel Ventura,
já que será apresentado ao pai da sua noiva e também
porque espera a visita de Paloma Picasso, que espera lhe compre
algumas esculturas. Como forma de causar boa impressão
a estas duas personagens, Miguel e Carolina "pedem emprestado"
alguns móveis a Natálio, o proprietário
de uma loja de antiguidades chinesas.
A partir deste enredo,e durante cerca de 90 minutos, surgem em
cena uma séries de enganos e o desvendar de todas as mentiras
que unem estas personagens, que pensando estar sozinhas acabam
por revelar o que pensam umas das outras.
"Porque é muito bom rir", esta foi a resposta
dada aos presentes pelo encenador e actor, César Alagoa,
como forma de justificar a escolha de uma peça essencialmente
cómica para um grupo que está habituado a peças
de cariz mais dramático.
César Alagoa revelou ainda que esta está ser a
peça de maior sucesso do grupo. "É a 17ª
apresentação deste espectáculo, que já
foi visto por 1400 pessoas, o que é muito, se pensarmos
que não existe publicidade, além da feita por aqueles
que nos vão ver", afirmou.
Numa peça em que fez a inversão dos elementos,
com as personagens a movimentarem-se perfeitamente no escuro
e "às apalpadelas" perante a luz, os actores
revelaram, em conversa, as suas dificuldades iniciais relativamente
a uma encenação na plena escuridão... E
como a realidade acaba por ser mais estranha que a ficção,
a luz faltou mesmo quando faltavam cerca de três minutos
para o fim da peça, situação que confundiu
os presentes sobre se esta não seria mais uma manobra
do grupo.
Os actores confidenciaram que têm um grande prazer em apresentar
esta peça, e o público que se dirigiu ao espectáculo
percebeu-os perfeitamente.
Pedro Jesus |