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Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra
"E Se?!... Um Espectáculo Para Clarice Lispector"

O TEUC, Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, trouxe à Covilhã uma peça que vive mais das personagens que saíram do imaginário de Clarice Lispector, do que propriamente uma narrativa que se sucede num tempo e espaço convencionais.
Pouco divulgada no nosso país, Clarice Lispector, que faleceu em 1979, foi uma escritora de origem ucraniana que se radicou no Brasil e escolheu a língua portuguesa para escrever, por acreditar que esta exprimia na perfeição a complexidade das emoções humanas.
Baseado na técnica da escritora, a qual fazia desfilar as suas personagens habituais em diferentes contos, o encenador Tiago Torres da Silva recorreu às palavras de Clarice Lispector e construiu, no palco, uma estrutura que evidencia toda a força das histórias simples.
O público entrou assim em contacto com sete personagens da obra da escritora, as quais têm uma essência própria, mas são ao mesmo tempo quem as traçou, são também Clarice Lispector. Partindo desta premissa, foi natural ver todas as personagens a actuarem simultaneamente, cada uma delas inserida no seu contexto, dando origem a histórias fragmentadas. Desde a mulher que quer comprar rosas e quando o faz, quer tê-las e também as quer dar; até à Dona Jorge B. Xavier, que anda à procura não se sabe bem do quê; passando pela nordestina que vai para o Rio de Janeiro e que contacta com uma realidade moral diferente da sua.
E se Clarice Lispector está em cada uma das personagens, cada personagem tem sempre algo de outra personagem, já que todas partem da mesma base. Esta situação acabou por dar origem a que diferentes personagens tivessem os mesmos discursos e que, não raras vezes, uma personagem saltasse do seu contexto e que acabasse as "deixas" de outra.
Inquiridos sobre este facto, os actores acabaram por revelar que em palco estão simultaneamente Clarice Lispector, a sua consciência e as suas personagens, as quais "lutam" entre si para serem vistas pelo público e que todas acabam por viver as mesmas situações, pelo que empregam o mesmo discurso.
Após cerca de 70 minutos de excelentes representações, evidenciando-se um magnífico jogo da voz, do movimento e dos gestos dos actores com a parte técnica da luz e da música, o espectáculo findou e o público aplaudiu longamente os actores.
Quem ficou para a habitual conversa informal com os actores foi brindado com uma segunda parte do espectáculo, em que os actores assumem o papel de espectadores e fazem desfilar, com alguma dose de ironia, as interrogações e os comentários que, durante o espectáculo, nos tomaram a todos.
Os actores terminaram com o apelo: "Leiam Clarice Lispector, porque a escrita dela é muito mais do que o que nós mostrámos". A mim convenceram-me plenamente.

Pedro Jesus






 
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