Teatr'UBI estreia em grande
A Viagem Começou e Hamlet,
as últimas produções do Teatr'UBI, levaram
ao Teatro-cine 800 pessoas. Entre elas, José Carlos, estilista
português que presenteou o grupo com os seus tecidos para
a elaboração do guarda-roupa. Concretizaram-se
assim cinco meses de trabalho intensivo com os encenadores Ruth
Mandel e Harvey Grossman, ao longo dos quais, actores e técnicos
ultrapassaram diversas dificuldades.
O espectáculo começou muitas
horas antes da estreia. Desde o inicio da tarde que a agitação
reinava nos bastidores do Teatro-cine. Davam-se os últimos
retoques no guarda roupa, e no palco ajustavam-se as luzes e
o som.
Os técnicos andavam numa roda viva. Começaram a
trabalhar em Outubro. Contudo, segundo Ricardo Ramos, sonoplasta,
"o principal é feito nesta última semana,
em que temos estado a trabalhar no duro e a 100%."
Para a concretização destas peças tiveram
de ser formadas duas equipas, uma para o som e outra para as
luzes. "Foi necessária uma fusão de luzes
para evitar a mudança de estrutura de iluminação
no intervalo."- explicou Ricardo Ramos.
Todavia o trabalho de um técnico não se faz sem
o apoio financeiro indispensável à compra de material,
e por isso Ramos referiu ainda que "temos recebido apoios
do IPAI, da Fundação Calouste Gulbenkien e da Reitoria
da universidade, mas a parte financeira continua a ser o nosso
calcanhar de Aquiles."
Reboliço nos bastidores
A medida que a hora da estreia se aproximava,
a confusão aumentava nos bastidores. Entre gritos e correrias
engomava-se a capa do Hamlet e fazia-se a maquilhagem. A saltar
e a cantar, cada um disfarçava os nervos conforme podia,
mas sempre em alvoroço.
O maior nervosismo era sentido principalmente pelos estreantes.
Exemplo disso era Eric Gonçalves, aluno de física,
que encarna Hamlet, a personagem principal. Um grande desafio
para quem pisa o palco pela primeira vez. "É a minha
primeira vez mas tem sido uma experiência excelente onde
encontrei grandes amigos."
Apesar de experiente, duas horas antes do espectáculo,
Márcia Bastos já se encontrava no camarim a vestir-se.
"Antes de entrar no palco é que os nervos se vão
fazer sentir. Mas tudo passa quando as luzes de cena se acenderem."-
diz a título de desabafo.
É a sua paixão pelo teatro que a mantém
ligada ao Teatr'UBI, apesar da dificuldade em conciliá-lo
com a profissão de jornalista.
A conciliação de horários não foi
a única dificuldade encarada durante os ensaios. "Tivemos
muitos problemas a nível de encenação, ambos
os encenadores estiveram de cama um mês. Nunca esperei
ver tanta força de vontade, chegamos a ensaiar oito horas
seguidas."- salienta Raquel Menezes, rainha do mar em A
Viagem Começou.
Estreia à força
Cerca das 22h30m resolviam-se os últimos
problemas técnicos. Porém, o público, na
sua grande maioria universitário, estava ansioso. Abertas
as portas a sala depressa se encheu e a Viagem Começou.
A peça encenada por Ruth Mandel foi bem recebida pela
plateia que a aplaudiu de pé. A obra prima de Shakespeare,
Hamlet, aqui encenada segundo a visão de Gordan Craig
também prendeu o público, embora este tenha sido
pouco disciplinado durante o espectáculo. No final, as
críticas dos curiosos, colegas e entendidos na matéria
eram acima de tudo positivas.
A confirmá-lo, José Carlos, o conhecido estilista
português que ofereceu os tecidos, mostrava-se satisfeito
com o resultado final do projecto que abraçou. "
Notava-se que estavam todos a 100% no trabalho que fizeram. Já
dei os parabéns a todos que aqui estão presentes."
A ideia de participar no projecto veio do seu grande amigo, Mota
Duarte, que lhe falou de um casal fantástico que conheceu
na Bélgica. Mais tarde viu-os na Gulbenkian e apreciou
bastante o seu trabalho. Contudo, decidiu apoiar o grupo, por
ser um apaixonado por tudo quanto é arte e por perceber
as carências e dificuldades que existem nestas companhias.
Harvey , um encenador realizado
Harvey Grossman era um homem feliz ao fim
da noite e satisfeito com o trabalho dos seus actores. "Eles
fizeram um trabalho intenso e árduo e conseguiram suportá-lo
em todos os sentidos. São dotados de um grande talento
e de uma atitude muito artística, neste sentido a ideia
de teatro amador não tem significado algum."
Tudo começou quando há seis anos atrás ensinava
em Évora e Victor Correia, um amigo, lhe sugeriu esta
companhia. Foi então que decidiu fazer workshops na Covilhã
onde falou da visão de Gordan Craig acerca de Hamlet.
A ideia foi muito bem recebida e deitaram mãos ao trabalho.
Harvey é um encenador belga com provas dadas em Portugal
e no estrangeiro, mas não deixou de ficar surpreendido
com a adesão do público covilhanense, uma vez que
o espaço era muito grande. " Foi fantástico,
é um teatro tão grande e encheu, penso que deveriam
ser centenas, não?!". De partida para a Bélgica,
prepara já o próximo trabalho que irá ser
apresentado na Expo do Milénio, em Hannover.
Sandra Cunha
e Cristina Mendes |