Câmara vai manter actuais
moldes de funcionamento mas
Taxistas chumbam semáforos
A opinião parece unânime
entre os profissionais da condução: há demasiados
semáforos na Covilhã. A Câmara Municipal
discorda. Os sinais são indispensáveis para a preservação
da integridade física dos condutores, defendem. Um braço
de ferro que promete
No último ano, o número de
semáforos instalado na Covilhã aumentou significativamente.
O escoamento do trânsito no centro da cidade torna-se
difícil pela sinuosidade das ruas e pela estreiteza das
faixas de rodagem. Para combater o problema do tráfego
crescente, o município camarário decidiu instalar
sinais luminosos em várias artérias da cidade.
No espaço que se estende entre o pelourinho e o Pólo
I da Universidade da Beira Interior encontramos sete semáforos.
Para quem faz este trajecto regularmente a marcha prossegue ao
ritmo do pára e arranca do verde e vermelho.
Os taxistas, frequentadores mais assíduos da estrada,
protestam. António Campos é motorista de taxi há
20 anos. Não tem dúvidas em afirmar que "99,9%
dos taxistas não concordam com a existência de tantos
semáforos".
A principal queixa dos profissionais do volante prende-se com
o seu funcionamento durante a noite: "Entre as 22 h e as
sete da manhã deveriam ser desligados. Não há
movimento. Mesmo nas grandes cidades, os sinais ficam intermitentes."
O taxista acrescenta: "O carro, se é obrigado a parar
num vermelho, está a trabalhar sem justificação
e polui o ambiente".
Para este profissional da condução, que é
também industrial de táxis, o problema começa
pelo estudo que foi feito antes da implementação
dos semáforos. Admite que alguns seriam necessários
mas nunca de forma tão concentrada como acontece no centro
da cidade: "Há muitos sinais na Praça do Município.
Mesmo quando há trânsito, em grandes espaços
de tempo, o centro fica sem nada." Na sua opinião
tudo não passa de uma questão política:
"Gastou-se o dinheiro e agora tem que se justificar o investimento."
Clientes também são prejudicados
Possuidor de um estabelecimento comercial,
António Martins conduz táxis há três
anos. Concorda com as afirmações do seu colega
e põe em destaque a falta de conhecimento dos condutores
face a este tipo de sinais. Defende a criação de
colóquios de esclarecimento por parte da Câmara.
"A grande maioria dos condutores não estão
preparados para lidar com este tipo de dispositivos. Afecta o
mnosso trabalho porque demoram muito tempo a arrancar. Ás
vezes, a câmara também não os consegue captar
porque não estão no local indicado para o efeito",
salienta.
Os seus clientes também se mostram insatisfeitos. Para
breve, está prevista a instalação de parquímetros,
o que poderá aumentar os protestos por parte dos fregueses:
"Eles reclamam porque levam mais tempo a chegar ao destino.
São também prejudicados por esta situação."
Apesar da aparente unanimidade nesta matéria, as medidas
para alterar a situação tardam em surgir. O representante
dos profissionais de táxi na Covilhã, João
Carriço, considera ser este "um ponto fulcral"
para a actividade dos seus colegas. No entanto, confessa que
ainda não foram tomadas medidas para solucionar a questão:
"O presidente disse que o pelourinho vai ser alterado e
que vão desistir de vários semáforos. Resta-nos
aguardar." A única acção prevista será
a elaboração de um abaixo assinado como forma de
protesto contra este esquema de sinalização.
Câmara desconhece queixas
Joaquim Matias, vereador responsável
pelo tráfego na Câmara Municipal da Covilhã,
mostrou-se surpreendido com o descontentamento dos taxistas.
No início,
ouviu algumas críticas por os sensores não estarem
a funcionar na perfeição. Desde que os problemas
foram solucionados, garante que "nunca mais ouvi vozes discordantes".
Além disso, a instalação da sinalização
luminosa esteve a cargo duma empresa especializada neste domínio,
estudos de implementação rodoviária. A edilidade
limitou-se a aprovar o projecto.
Na sua opinião, os protestos são apenas "uma
medida reivindicativa em termos comerciais. Como há uma
grande concorrência, importa-lhes realizar o percurso no
menor tempo possível."
Além disso, Matias garante que os sinais vão continuar
a funcionar durante a noite. Não existe justificação
para alterar o seu funcionamento durante o período nocturno:
"São semáforos inteligentes. O sensor é
que faz a leitura do tráfego. O sinal passa a verde se
o carro estiver colocado no local apropriado". Reconhece
que os condutores da Covilhã não estão habituados
a lidar com este tipo de dispositivos mas é tudo uma questão
de "aculturação": "Os condutores
não podem ter o terreno todo livre senão é
uma balbúrdia", reforça.
Neste momento, o controlo dos semáforos está a
cargo da PSP. Os policias têm as chaves e são os
responsáveis pelo correcto funcionamento das instalações.
A Câmara não se intromete nesse assunto. Mesmo assim,
Joaquim Matias defende que a sinalização existente
é indispensável para o correcto funcionamento do
trânsito na cidade: "Pouco nos importam as queixas
se pudermos evitar que aconteçam danos físicos
e perda de vidas humanas através dos sinais luminosos",
conclui.
Susana Ferreira
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