Souto Moura
A arte do risco no estirador
Eduardo Souto Moura, arquitecto responsável
pelo projecto de recuperação do antigo Sanatório
dos Ferroviários, obra do início do século
do arquitecto Cottinelli Telmo, para a futura Pousada das Penhas
da Saúde, nasceu em 1952 na cidade do Porto. Também
no Porto, estudou arquitectura na antiga Escola das Belas Artes
- ESBAP-, até 1980 tendo entretanto trabalhado com o arquitecto
Álvaro Siza Vieira.
Terminados os estudos, entrou como assistente na Faculdade de
Arquitectura da cidade Invicta.
O seu percurso de docente prosseguiu como professor convidado
em diversas universidades europeias: Genebra, Harvard, Dublin,
Zurique, Lausanne e a universidade de arquitectura de Belleville
em Paris.
Apresentando uma obra com raízes na escultura americana
contemporânea, Donald Judd ou Robert Morris, inúmeras
vezes foi laureado por altas entidades ligadas às Beaux-Arts.
Destaca-se o galardão Prémio Pessoa, instituído
pelo semanário Expresso, que recebeu em 1998. Prémio
este atribuído noutros anos a nomes como José Mattoso,
José Cardoso Pires, Maria João Pires, João
Lobo Antunes e Helberto Helder.
A partir desse momento, Souto Moura passou a pertencer, na história
portuguesa, ao "limbo da glória terrena", como
assim justificou o júri que "pela primeira vez decide
sublinhar a arte do risco no estirador e no papel vegetal",
reconhecendo a importância para a arquitectura portuguesa
da simplicidade e materialidade essenciais da obra de Souto Moura.
Outro importante reconhecimento do seu trabalho na recuperação
para uma pousada do Mosteiro de Santa Maria do Borro do século
XII, no Gerês, foi a nomeação para o Prémio
bienal Mies van der Rohe, que pretende distinguir os melhores
arquitectos europeus e as melhores obras realizadas no continente.
O prémio foi criado em 1987 pela Comissão Europeia,
pelo Parlamento Europeu e pela Fundação com o nome
do famoso arquitecto Ludwig Mies van der Rohe, influenciador
da obra de Souto Moura e Siza Vieira pela ruptura com a tradição
clássica e do "baukunust" alemão. Com
semelhanças à pintura de Piet Mondrian, o culminar
da tradição rigorista nas obras do arquitecto holandês
continua hoje na fisicidade dos seus seguidores portugueses.
Neste momento tem em mãos o projecto de requalificação
urbana integrado nas comemorações do Porto 2001-
Capital Europeia da Cultura, que vai passar pela transformação
da Cadeia da Relação em Centro Português
de Fotografia, e a construção do novo Estádio
Municipal de Braga.
Para citar algumas das melhores realizações do
arquitecto portuense não se pode evitar a reforma do Edifício
da Alfândega do Porto em Museu dos Transportes; e a construção
do departamento de Geociência da Universidade de Aveiro,
um bloco envidraçado levantado do solo que assenta sobre
blocos em forma de sapatas.
Raquel Fragata
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