O realizador deste filme afirmou
que as restrições ao trabalho de criação
cinematográfica podem, quando aceites, resultar num desafio
interessente. No caso deste Mifune, é difícil discordar.
O terceiro capítulo da "saga" Dogme 95 leva
para novos caminhos (mais campestres) a prática de uma
teoria cinematográfica que se revela cada vez mais inovadora,
apesar de, aparentemente, restringir ao máximo as possibilidades.
Acontece é que a restrição está nos
elementos técnicos e não nos humanos - e assim
se filma boas histórias e se comove os espectadores.
Mifune, tal como "Festen" e "Idioterne",
coloca os dinamarqueses (os ocidentais, na realidade) no sofá
do psicanalista - só que todos ao mesmo tempo. Se bem
que mais psicológico que os anteriores filhos-do-dogma,
é menos perturbador, como que a mostrar que se pode rir
e enternecer com a nossa/dos outros degraça. Novamente
o casting é irepreensível - parecemos ter à
nossa frente no ecrán pessoas reais e não personagens
que desaparecem ao som de "corta!".
Por fim a nível técnico, e agora finalmente tudo
em película (grande parte de "Festen" e "Idioterne"
são filmados em vídeo), temos som directo e crú,
todo o esplendor de cores saturadas e sombras tão profundas
como as do expressionismo alemão - só que verdadeiras.
O filme é antecedido, em Portugal, pela curta-metragem
"Entretanto", de Miguel Gomes. Não precisa preocupar-se
em chegar tarde ao cinema.
Pedro Homero |