Vida difícil na universidade
Trabalhar não
rima
com estudar
Frequentar o ensino superior e manter
ao mesmo tempo uma actividade profissional não é
tarefa fácil. Quem o garante são os trabalhadores-estudantes,
que são cerca de 200 na Universidade da Beira Interior.
João Filipe é estudante de
Engenharia Têxtil e proprietário de um café.
A trabalhar há ano e meio, só teve acesso ao estatuto
de trabalhador-estudante este ano lectivo. A burocracia exigida
acabou por prejudicar o seu aproveitamento escolar no ano anterior.
"Segundo as informações que me deram nos Serviços
Académicos, para ser trabalhador-estudante é preciso
descontar pelo menos 6 meses para a Segurança Social.
Só que como era o meu primeiro emprego e tive um ano de
isenção, não beneficiei do estatuto durante
esse primeiro ano de trabalho, o que me dificultou bastante a
vida" explicou João.
Professores mal informados
Obtido o estatuto os estudantes-trabalhadores
continuam a encontrar outras dificuldades. A falta de informação
de alguns professores constitui também um obstáculo
ao sucesso escolar destes alunos. "Eu tinha um professor
que me marcava falta, apresentei-lhe a lei três vezes
e ele ignorou-a" afirma Luís Ribeiro, presidente
do NETUBI (Núcleo de Estudantes Trabalhadores da Universidade
da Beira Interior).
Nestes casos, a lei não obriga a um número mínimo
de presenças nas aulas para o aluno ter acesso ao exame.
Contudo, estabelece que se a assistência às aulas
for imprescindível para o processo de avaliação,
o professor tem que combinar com o aluno aulas de compensação.
No entanto, "nunca há disponibilidade do professor
e quem sai prejudicado são os alunos" afirma o presidente
do NETUBI. "Existe uma certa descriminação
em relação aos trabalhadores-estudantes",
defende.
Época Especial é insuficiente
A concessão de uma única
época de exames aos estudantes-trabalhadores é
alvo de críticas por parte dos alunos nesta situação.
Na opinião de Luís Ribeiro, não é
possível orientar todo um ano lectivo em função
de um ou dois exames de época especial.
Os Serviços Académicos da UBI justificam a existência
de uma época especial única com base na legislação
em vigor: "A lei estipula uma época especial e, como
tal, na Universidade da Beira Interior foi estabelecido que deve
ser concedido aos trabalhadores-estudantes aquilo que é
concedido aos outros alunos que usufruem da época especial,
ou seja, realizarem uma disciplina anual ou duas semestrais".
Para Carlos Melo, director dos Serviços Académicos
da UBI, uma das vantagens do estatuto é a não obrigatoriedade
de inscrição a um número mínimo de
disciplinas. Mas o aluno tem que saber organizar o seu tempo
livre, "dosear a sua capacidade, fazer uma auto-avaliação
para ver a quantas disciplinas se deve inscrever de forma a obter
aprovação".
Apesar da entidade patronal conceder algumas horas semanais aos
trabalhadores-estudantes, os horários das aulas não
são adaptáveis à sua disponibilidade. O
aproveitamento académico começa a diminuir, as
inscrições a aumentar e o prazo para prescrever
é o fim de alguns percursos académicos destes estudantes.
O regime de prescrições na Universidade da Beira
Interior permite, no caso dos trabalhadores-estudantes, o dobro
de inscrições para a conclusão do curso.
No entanto, segundo o director dos Serviços Académicos,
este regime pode sofrer alterações ainda este ano
lectivo, de forma a coincidir com o disposto na lei actual.
Lúcia Cavaleiro
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