Com dois meses de atraso
Estudantes cabo-verdianos
recebem bolsas
O pagamento, em atraso, das bolsas
atribuídas pelo governo cabo-verdiano aos estudantes daquele
país a estudar em Portugal foi finalmente efectuado. Após
dois meses de espera e de alguma angústia, a situação
acabou por se resolver, numa altura em que muitos estudantes
garantiam já estar a ficar com dívidas e sem recursos
para prosseguirem os seus estudos.
A situação já não
é nova. Mais uma vez, repetiram-se os atrasos no pagamento
de bolsas pelo governo de Cabo-Verde. Os alunos dependentes desta
bolsa temem especialmente estes atrasos, já que dependem
do dinheiro para alimentação, transportes, e para
o pagamento de rendas do alojamento. " Já não
é a primeira nem a segunda vez que esta situação
acontece. Ainda em Dezembro estivemos à espera que nos
pagassem as bolsas correspondentes aos meses de Outubro e Novembro.",
afirma António Veríssimo, estudante do 4º
ano de Ciências da Comunicação da UBI.
A gota de água foi o atraso registado no pagamento das
bolsas relativas aos meses de Janeiro e Fevereiro, que apenas
foi efectuado nos primeiros dias do mês de Março.
Um problema que parece afectar todo o país, uma vez que
não são atingidos apenas alunos da UBI, mas todos
os estudantes cabo-verdianos bolseiros a frequentar instituições
de ensino universitário.
Os problemas que este tipo de situações acarreta
não se reduzem à simples falta de pagamento de
uma bolsa: " Muitos colegas meus precisam desse dinheiro
para viver. Muitos de nós tivemos que pedir dinheiro emprestado
para conseguirmos sobreviver", refere Elisângela Leite,
estudante de Economia do 1º ano, que acrescenta: "
havia muitos colegas que nem as rendas podiam pagar. Se não
fosse a compreensão de alguns senhorios estaríamos
no meio da rua", garante. "Alguns colegas meus chegaram
ao ponto de ter que trabalhar para poderem continuar a sobreviver".
Muitos dos estudantes hipotecaram mesmo o seu 1º semestre,
afirma João Carvalho, aluno do curso de Gestão:
"Eu não tinha quaisquer condições para
estudar para os exames, a minha única preocupação
era o facto de nunca mais nos pagarem a bolsa ".
Outros alunos houve que tiveram que se deslocar para junto de
alguns familiares a residirem no nosso país, a fim de
conseguirem resolver alguns dos seus problemas: " Tive mesmo
que ir para Lisboa para junto de alguns familiares, a fim de
poder ter condições para continuar a minha vida",
sublinha António Veríssimo.
Segundo conseguimos apurar junto de alguns estudantes, a única
razão apresentada pelo seu governo prendia-se com o facto
de existirem graves dificuldades financeiras no executivo cabo-verdiano.
Para além disso, o governo avisou já esses mesmos
estudantes que a bolsa referente a Março só seria
paga no final desse mesmo mês, ao contrário do que
havia sido estipulado - o pagamento seria sempre efectuado até
ao dia 8 de cada mês.
Perante este cenário, os alunos prometem não se
calar, estando já em marcha a organização
de uma greve nacional que envolverá todos os alunos visados.
Rui Lopes
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