.


.

 


António Rodrigues Tomé


Calendário escolar e não só

Ao contrário de algumas opiniões expressas na academia, de que o novo calendário escolar seria bom para as Ciências Exactas e de Engenharia, mas mau para as Ciências Sociais e Humanas, a minha opinião é de que o novo calendário escolar não é nada adequado para as Ciências Exactas, nem tão pouco, no meu entender, para as Engenharias.

O documento produzido pela comissão ad-hoc diz sobre o calendário escolar:
"A filosofia do novo calendário escolar e da sua organização visam a melhoria do sucesso escolar, da continuidade dos períodos lectivos e da sequencialidade de exames"
Nesta altura devo confessar a minha ignorância porque não entendo bem o que esta frase significa, salvaguardando a parte do sucesso escolar, que no meu entender será agravado com este calendário. A parte da sequencialidade das aulas e exames deve ser a que faz com que o primeiro semestre do primeiro ano tenha apenas 9 semanas lectivas, se não existirem feriados, e que não medeie nenhum espaço entre a realização de exames do primeiro semestre e o inicio do segundo semestre.
Quando se analisa em pormenor o novo calendário escolar constata-se que o único feito conseguido é o aumento do período de exames, que corresponde a uma reivindicação antiga dos senhores estudantes. O período de exames passará a ser de 44 dias por semestre, comparado os 75 dias de aulas por semestre parece-me que existe uma proporção inaceitável de quase dois para um. Mas analisemos as consequências práticas deste calendário.
Consideremos um aluno médio da Universidade da Beira Interior que não goste de ir às aulas e pensa que se tivesse uma semana para estudar para um qualquer exame conseguia alcançar os 10 valores, nota que, incompreensivelmente, satisfaz muitos estudantes. Infelizmente este é o comportamento típico de uma grande maioria dos estudantes de Engenharia.
Perante este novo calendário este aluno escolherá duas disciplinas para fazer por frequência, provavelmente aquelas que lhe forem mais favoráveis nos critérios de frequência, desprezará por completo as outras três durante o período lectivo, pensando que após o final das aulas disporá entre 15 a 21 dias para estudar duas disciplinas, que pretenderá fazer em época normal, após a qual disporá de um mínimo de 15 dias para estudar a última disciplina que pretenderá fazer na época de recurso, supondo a média de 5 disciplinas por semestre.
Conhecendo desde há quase 10 anos o tipo de raciocínio dos estudantes de engenharia no que diz respeito à preparação para exame, direi que este calendário escolar parece ser a resposta a todas as suas reivindicações. Contudo, contrariamente ao que os senhores estudantes parecem pensar, uma semana, duas semanas ou mesmo três semanas não são suficientes para um aluno médio estudar uma disciplina cuja assistência às aulas desprezou por completo, a não ser que a disciplina seja leccionada com padrões abaixo dos mínimos exigidos numa Universidade.
Concluindo, o que este calendário incentiva é o estudo nas semanas anteriores aos exames e não o estudo sequencial da matérias.
Nesta altura os autores do acima mencionado documento apontarão o ponto 7.1 que diz:
"O ensino aprendizagem deve ser fortalecido, durante o período lectivo, com incentivos à presença nas aulas (assiduidade)".
Antes de mais há que realçar que este ponto é um claro retrocesso a um documento anterior sobre promoção do sucesso escolar que exortava os professores a não concederem frequência a alunos que ultrapassassem um número máximo de faltas. No entanto, este ponto vem ao encontro de uma prática aplicada por vários docentes, e que pelos vistos se quer institucionalizar, que bonificam os alunos com um valor, dois valores, três valores, quatro valores ou cinco valores pela simples presença nas aulas. Caros senhores professores isso nem no Ensino Secundário. A presença nas aulas é um direito e um dever de todos os estudantes legalmente inscritos. Eventualmente os estudantes podem abdicar desse direito e, se o professor o permitir, podem mesmo não cumprir esse dever, fazem-no, contudo, por sua conta e risco, que na maioria dos casos resulta na reprovação.
Está-se a evoluir para a situação em que os professores irão disputar o máximo de bónus a conceder pela simples presença nas aulas. Talvez cheguemos à situação em que os alunos que assistem às aulas têm automaticamente 10 valores, e porque não 12, 13, 14 e por aí adiante. É que a fazer fé nas palavras dos alunos que fazem eco junto a alguns docentes, que deveriam ter mais consciência do seu papel de educadores, se os alunos não comparecem nas aulas é porque o docente é antiquado, chato, maçador e, pior, não promove um relacionamento saudável com os senhores estudantes. Neste ponto gostaria de recomendar a leitura do artigo de Jonh Churchil publicado no Sunday Times a 6 de Fevereiro do corrente ano.
Resta focar a seguinte questão: porque é o novo calendário escolar é mais apetecível para os estudantes de Engenharia do que para os estudantes das Ciências Sociais e Humanas. Alguns estudantes de Ciências Exactas e de Engenharia costumam falar com certo desdém dos cursos das áreas das Ciências Sociais e Humanas: "...são cursos sem matemática..., cursos que se fazem com um fim de semana de estudo...". Contudo, na prática verifica-se que a assiduidade às aulas é mais elevada nos cursos das áreas das Ciências Sociais e Humanas do que nos cursos de Engenharia. Os estudantes dessas áreas não pretendem fazer o curso num fim de semana, pretendem fazê-lo às Segundas, Terças, Quartas, Quintas e Sextas, ao longo de todo o período lectivo, enquanto que os estudantes das Ciências Exactas e das Engenharias, com o argumento que os cursos e matérias são mais difíceis, querem fazer o curso estudando apenas nas semanas anteriores aos exames. Paradoxo que gostaria que me explicassem.






.

 Primeira Ubi  Covilhã  Região  em ORBita  Cultura  Desporto Agenda