Na Aldeia de Meimão
Mulheres solteiras precisam-se
Uma rapariga para seis rapazes -
eis a realidade vivida em Meimão. A falta de mulheres,
aliada ao envelhecimento da população, pode comprometer
o futuro desta aldeia do interior. Por enquanto, os rapazes esperam
por Agosto e pela chegada das filhas dos emigrantes da terra.
Mas a falta de incentivos para permanecer em Meimão ameaça
fazê-los partir também.
O Meimão é uma das freguesias
menos populosas do concelho de Penamacor. Com cerca de 600 pessoas,
esta aldeia apresenta uma particularidade: há apenas uma
rapariga por cada 100 habitantes.
Durante muitos anos nasceram mais rapazes do que raparigas, causando
agora uma desproporção: há 50 rapazes, entre
os 20 e 30 anos, sem parceira. Mas, apesar de haver pouca escolha,
alguns rapazes já encontraram a sua cara-metade, como
o Hugo Monteiro e a Carla, que são um dos três casais
de namorados da aldeia.
A esperança de uma vida melhor levou muitas famílias
a sair de Meimão. Agora, a vida rural é estranha
para as raparigas que nasceram e cresceram habituadas ao ritmo
das metrópoles. Torna-se "difícil as pessoas
deixarem Lisboa ou França, e a vida que lá têm,
para vir para cá",desabafa Hugo Monteiro, habitante
de Meimão. "Aqui na aldeia já não têm
nada que fazer, não há emprego, não há
nada", conclui.
Contudo, a aldeia ganha mais vida no Verão, com o regresso
dos emigrantes, altura em que os rapazes "aproveitam a chegada
das raparigas". O mês de Agosto tem, por isso mesmo,
um significado especial. Mas, quando as férias acabam,
a vida rotineira instala-se novamente.
Futuro comprometido
A escola de Meimão já quase
não tem alunos. O envelhecimento da população,
aliado à falta de mulheres, pode comprometer a continuidade
desta aldeia do interior. Os mais novos são os primeiros
a constatar o problema: "daqui a uns anos vai ser mau porque
não vai haver gente. Apesar de ainda haver jovens, há
muitos idosos, e uma vez que não há quase ninguém
a namorar, vai ser complicado".
A grande diferença etária entre rapazes e raparigas
é também uma das causas que impede a constituição
de famílias, porque "há muitos homens mais
velhos e as raparigas são todas bastante novas, com grande
diferença de idade, o que influencia os namoros".
Por outro lado, os poucos casamentos na aldeia são "por
conveniência", como explica Carlos Robalo, um dos
rapazes solteiros de Meimão: "Ainda se vive uma mentalidade
à antiga, que já não se justifica hoje em
dia em lado nenhum. Os pais das raparigas pensam: aquele é
bom rapaz, mas é só bom rapaz; e aquele é
bom rapaz e tem isto e aquilo".
"Podíamos criar um chamarim"
Numa aldeia sem actividades de lazer, os
tempos livres dos jovens são passados à volta das
mesas dos cafés, entre petiscos e conversas.
A criação de actividades recreativas que levassem
mais raparigas à aldeia é uma das soluções
apresentadas pelos mais jovens: "Podiamos criar um chamarim
para não vivermos tão isolados". Na opinião
de Carlos, a organização de convívios é
importante para habituar pessoas de outras terras a frequentar
Meimão.
O reduzido número de raparigas não é um
caso exclusivo desta aldeia. Outras povoações vizinhas
vivem a mesma situação, como a aldeia da Malcata
onde apenas há duas jovens. O agravamento do problema
pode levar, dentro de alguns anos, à desertificação
de várias aldeias da zona da raia. São os desencontros
do tempo a marcar a realidade das aldeias do interior português.
Lúcia Cavaleiro |