Preferindo "soluções
próprias" para reciclar o lixo da Covilhã
Câmara recusa
Central de Compostagem
A Covilhã pertence à lista
das cidades do País que ainda não têm Ecopontos.
Os poucos vidrões e papelões existentes não
sensibilizam a maioria, nem satisfazem a minoria, atenta à
importância da separação dos diversos tipos
de lixo. A Associação de Municípios está
à frente de um projecto referente ao Sistema de Tratamento
de Resíduos Sólidos e Urbanos, que engloba a construção
de uma Central de Compostagem e a colocação de
Ecopontos. No entanto, a Câmara Municipal da Covilhã,
ainda de relações cortadas com a Associação,
não pretende usufruir da Central e anuncia que, até
ao final do mandato, colocará os seus próprios
Ecopontos pela cidade.
Apesar de ser prática corrente no
resto do País, a reciclagem ainda não faz parte
dos hábitos quotidianos da população covilhanense.
Este facto, longe de se prender exclusivamente com o desinteresse
dos munícipes, deve-se também à escassez
de Ecopontos na cidade, e ao facto de aqueles que existem estarem
bastante incompletos, sendo constituídos na maioria dos
casos por vidrões, e em apenas alguns casos por papelões.
Quanto aos plásticos, ainda seguem no recipiente destinado
ao lixo doméstico, tal como as pilhas que não são
entregues nos estabelecimentos que se dispuseram a recebê-las.
O afastamento da Câmara Municipal da Covilhã (CMC)
em relação à Associação de
Municípios da Cova da Beira levanta várias dúvidas
no que respeita ao futuro do tratamento de lixos do Município,
mas principalmente no que se refere ao aproveitamento da futura
Central de Compostagem, obra que está a ser levada a cabo
por aquela associação.
Cinco milhões de contos para
o lixo
A Associação de Municípios
está à frente do projecto referente ao Sistema
de Tratamento de Resíduos Sólidos e Urbanos, em
fase de desenvolvimento no concelho do Fundão. Este projecto
inclui, numa primeira fase que está já em execução,
a selagem das lixeiras que, actualmente, servem os 14 municípios
pertencentes a esta associação, uma Central de
Compostagem, que vem permitir o aproveitamento da facção
orgânica para adubagem agrícola, com conclusão
prevista para o final do ano, um Aterro Sanitário controlado,
para os resíduos não aproveitáveis, a entrar
em funcionamento em Agosto; e, finalmente, a Recolha Selectiva,
em que se incluem os Ecopontos, Ecocentros e a Central de Triagem
onde são seleccionados os resíduos em grupos homogéneos,
a fim de serem encaminhados para reciclagem através da
sociedade Ponto Verde, e que se prevê estarem a funcionar,
também, no final do ano.
Uma obra na ordem dos 5 milhões de contos cujo objectivo
será maximizar a valorização dos resíduos
e, consequentemente, minimizar o lixo urbano que vai para aterro.
Um passo em frente na protecção ambiental para
a região da Cova da Beira.
Câmara com outros planos
Mas apesar da obra a Câmara da Covilhã
tem outros planos para o lixo do município. Embora não
negue um possível aproveitamento da Central de Compostagem
no futuro, adianta estar já a trabalhar no implante dos
seus próprios Ecopontos e a fazer o seu próprio
reencaminhamento de resíduos para reciclagem, numa perspectiva
que "beneficia mais os munícipes" , afirma
Joaquim Matias, vereador do pelouro.
"Dentro ou fora da Associação de Municípios,
a Câmara pode eventualmente negociar com a empresa a quem
está feita a concessão, a qual está a executar
e explorar o Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos
e Urbanos. O que nós queremos é que os nossos munícipes
tenham a melhor qualidade de vida com os menores custos".
Os preços para o depósito de uma tonelada de lixo
na Central de Tratamento variam de acordo com cada uma das partes,
(associação e câmara), variação
que se encontra entre os 4 e os 6 mil escudos. Este valor cobre,
para além das despesas de tratamento, uma taxa de retorno,
inserida como forma de ir saldando a quota parte do financiamento
da obra pertencente a todas as câmaras associadas. Este
financiamento perfaz um total de 15 por cento do custo total
da obra. Os 85 por cento restantes são provenientes do
Programa Operacional para o Ambiente (POA), Instituto dos Resíduos
(INR) e do Fundo de Coesão.
Vencedora em 89, 91 e 94 no concurso nacional de limpeza pública
urbana "Cidades Limpas", a Câmara Municipal da
Covilhã diz estar atenta às necessidades da população.
Ao entrarmos em contacto com o engenheiro Santos, do departamento
do ambiente da Câmara, verificamos que já há
cerca de 10 anos está em funcionamento o ciclo de reciclagem
do vidro, embora apenas tenha sido estendido às freguesias
rurais há pouco tempo. A questão que se coloca
é se serão os 35 vidrões instalados na cidade
e os 50 nas freguesias rurais suficientes para alterar os hábitos
da população em defesa da reciclagem.
Para este técnico camarário, a nível do
vidro os resultados são óptimos: "Reciclamos
na ordem das 200 toneladas de vidro por ano. O papel ainda está
em fase de implementação e de campanhas de sensibilização
", diz.
Ecopontos até ao final do mandato
A Câmara tem como obrigação
colocar o mobiliário necessário para a recolha
selectiva do lixo e proceder à mesma, de acordo com o
protocolo estabelecido com os LIONS, associação
angariadora de fundos para solidariedade social na Covilhã,
e a Universidade da Beira Interior, para os quais passa a responsabilidade
do encaminhamento do lixo seleccionado, vidro e papel, respectivamente.
O lucro da venda dos resíduos reverte a favor daquela
associação.
Joaquim Matias mostra-se completamente despreocupado em relação
ao modo como a Central de Cospostagem vai operar: "A Central
de Compostagem não vai reciclar papel ou vidro, vai fazer
a triagem para depois enviar para outras empresas. A Câmara
vai fazer o mesmo. Portanto, em termos sociais, eu pergunto se
não será mais importante reciclar trabalhando de
forma a ajudar os meios regionais?".
Na manga, a Câmara Municipal da Covilhã tem já
a preparação da instalação de ecopontos
em todo o conselho que, promete, estarão em funcionamento
até ao final do mandato, daqui a dois anos . Ainda este
ano, para Maio, estão já agendadas campanhas publicitárias
para sensibilizar a população para a importância
da reciclagem e da separação dos diferentes tipos
de lixo .
Entretanto, os munícipes atentos a estas questões
terão que continuar a percorrer distâncias por vezes
desanimadoras até aos poucos ecopontos existentes, se
quiserem colocar o vidro no vidrão e o papel no papelão.
Sílvia Ferreira
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